Outra maneira de ensinar
Mudar o conceito de escola, transformá-la na aprendizagem do amor aos outros e do gosto pela vida. No fundo, prevenir antes que seja necessário remediar. Este é o objectivo da Fundação Viver, que agora se prepara para adoptar a pedagogia Waldorf em Portugal.
A Fundação Viver, criada nos últimos meses do ano passado, leva mais longe o velho conceito de que "de pequenino se torce o pepino" para defender que "tudo o que acontece com a criança, em termos de criação de capacidade, acontece nos três primeiros anos de vida, ou, quando muito, até ao cinco anos". Não será muito inovador no que toca a teorias pedagógicas e correntes da psicologia. Mas a instituição, que congrega contributos daquelas e de outras áreas sociais e ligadas à formação, parte daquela premissa para, mais do que divulgar uma ideia, a praticar.Victor de Sousa, presidente da fundação, expõe a lógica: se é naquele período que se definem as capacidades criativas e de expressão, emocionais e de aprendizagem, psicológicas, intelectuais e de sociabilidade, é nessa ocasião - nos anos que precedem o ingresso no ensino e nos primeiros anos de escola - que se deve intervir para formar os homens e mulheres que poderão transformar o mundo num local melhor. "É necessário, portanto, criar as ligações afectivas permanentes e continuadas, que provocam a estabilidade emocional do bebé, permitindo a sua disponibilidade para interagir com o mundo em seu redor, dentro de um esquema de aplicação de estímulos", explica a própria instituição.A utopia também não será original. Mas a Fundação Viver, assegura Victor de Sousa, tem um projecto concreto para a fazer avançar no terreno, um modelo de escola que reúne as conclusões de aturadas pesquisas e debates sobre a pedagogia Waldorf. Procura agora a parceria de empresas portuguesas ou com instalações no território nacional para a criação e instalação daquilo a que chama "complexos educacionais modelo". Trata-se de escolas, inicialmente destinadas a bebés mas tendentes a alargar-se a todo percurso escolar, que a fundação pretende implantar em zonas "particularmente despoluídas, onde seja possível o cultivo biológico de espécies medicinais e hortícolas".E as novidades face ao sistema habitual não se ficam por aqui: "Implantaremos um complexo em grande contacto com a natureza e os seus ciclos, com a criação de diversas espécies animais", numa "área razoável", promete a fundação. Victor de Sousa, adepto da pedagogia Waldorf que os complexos educacionais modelo irão aplicar, exemplifica como funciona. "As crianças aprendem a fazer a tinta com que escrevem, o papel que usam, tocam instrumentos musicais, cultivam os legumes que comem e colhem as frutas que vão para mesa", enumera com entusiasmo. No fundo, pode concluir-se, uma verdadeira escola de vida, mais "holística", não limitada ao ensino de matérias predestinadas, de cálculos, textos e teorias - baseada numa pedagogia avalizada pela UNESCO que tem sido testada e desenvolvida nos últimos 80 anos.O método foi criado no início do século, na Alemanha, por Rudolf Steiner e passa ainda por recitar poemas, brincar com as mãos e estimular o trabalho conjunto. E tudo porquê? A explicação da instituição vem pronta: "Dado os recursos humanos serem a grande aposta neste próximo século, numa conjuntura de tecnologia avançada, é grande a ênfase na formação." O primeiro passo consistirá na formação de formadores, cujos estágios dependem da existência de, pelo menos, uma primeira creche feita à luz deste modelo, que inclui largas doses de tolerância e combate à exclusão, como sublinha Victor de Sousa.Independentes desta iniciativa da Fundação Viver, existem já, espalhados pelo país, três jardins de infância onde se aplicam os métodos de Steiner: em Alfragide, Lagos e Seia. Este último destina-se a crianças portadoras de deficiência. Também está previsto para o próximo ano lectivo a criação de uma escola de 1º ciclo na área de Lisboa. A Fundação Viver propõe-se ainda criar um serviço de correspondência e informação permanente, organizar eventos de divulgação, congressos e conferências temáticas, sem ignorar a formação em áreas menos "pedagógicas" e mais específicas, como a tinturaria, a jardinagem e a tecelagem.