Artistas Unidos com promessa para ficarem no Bairro Alto
O grupo de teatro Artistas Unidos poderá continuar no espaço "A Capital", no Bairro Alto, até Dezembro de 2001. A promessa veio da Câmara Municipal de Lisboa, segundo o encenador Jorge Silva Melo. Ontem, o ministro Manuel Maria Carrilho fez uma visita às instalações do teatro.
Jorge Silva Melo expande a sua satisfação, ainda a saborear a promessa da Câmara de Lisboa: a autorização para continuar com o seu grupo de teatro, os Artistas Unidos, no espaço "A Capital", pelo menos até ao fim do ano 2001. O PÚBLICO não conseguiu confirmar a informação junto do presidentete da câmara, João Soares, até ao fecho desta edição.É cheio de optimismo, portanto, que Silva Melo recebe a visita do ministro da Cultura que fez questão em apreciar pessoalmente o estado do edifício que o encenador pretende transformar num "centro de artes", único no coração de Lisboa. Com três salas para espectáculos e onde, simultaneamente, funcione um centro de produção e outro de serviços. Manuel Maria Carrilho foi conduzido por entre áreas cobertas de entulho, escadas, molhos de fios de electricidade, pedras, terra, alguidares e papelão, pedaços de madeira e de alcatifa. No meio, alguns espaços livres e limpos onde se vão realizando os espectáculos. Era ali, naquele edifício que ocupa um quarteirão do Bairro Alto, que funcionou o "Diário de Notícias" até por volta de 1920 e depois uma tipografia que costumava trabalhar para o Secretariado Nacional de Informação (SNI) durante o Estado Novo. Nos anos 70, foi ali montado o jornal "A Capital" que recentemente transitou para outras instalações. O edifício ficou abandonado e Silva Melo "ocupou-o" em Janeiro deste ano, com o aval da câmara."E agora, outra surpresa", apresentava o encenador Jorge Silva Melo a Carrilho. Era um camarim improvisado, uma cave, um telhado. Às vezes, a comitiva cruzava-se com alguns jovens artistas membros da companhia, que cumprimentavam o ministro um tanto constrangidos. Manuel Maria Carrilho inteirou-se das condições. "É um bom projecto", disse, no final da visita, ao PÚBLICO. "Estamos disponíveis para parcerias com a câmara e para seguir o assunto", salientou, notando que o Ministério da Cultura está associado à construção de 21 teatros no país, projecto que envolve cerca de 16 milhões de contos.Para Ana Marín, directora do Instituto Português das Artes do Espectáculo, que acompanhou a visita, este "é um achado, é um projecto muito importante, sobretudo numa área urbana onde é possível englobar vários agentes culturais". Para criar o mínimo de condições de forma a pôr os espectáculos todos os dias em cena, o que implicou o concerto de telhas e algerozes e limpezas das áreas maiores, Silva Melo já gastou cerca de 18 mil contos. O orçamento global será feito após a aprovação do projecto que já foi apresentado ao Ministério da Cultura e à câmara. A sua concretização está prevista para os próximos cinco anos, sendo os dois primeiros (2000 e 2001) ocupados com a instalação de escritórios e com obras de recuperação do edifício e construção de estúdios e de auditórios. Os três anos seguintes (2002, 2003 e 2004) serão dedicados à abertura faseada dos auditórios, uma programação e actividade plenas e à preparação de um modelo de gestão do espaço que permita a abertura de concursos públicos para a sua administração. Proceder-se-à assim à instalação do Centro de Artes d'A Capital num tempo em que, como considera Jorge Silva Melo,f+b f-b"o teatro está congelado".No texto em que apresenta o esboço do plano de recuperação daquele espaço, o encenador é claro: "Verifica-se, em Lisboa, uma situação a meu ver única nas capitais europeias : as salas tradicionais estão em ruínas (...), as salas 'off' não têm outra programação que não a das "companhias" concessionárias (...) do espaço. As novas salas de espectáculo entretanto construídas (...) dificilmente se conjugam com a actividade teatral, a qual, por óbvias razões de diversidade de programação necessária para essas salas, nelas apenas pode ter uma presença esporádica."Na opinião de Silva Melo, "o teatro em Lisboa está paralisado. E está paralisado porque não existe (...) uma política de salas que permita o desenvolvimento de projectos que se queiram alternativos aos modelos vigentes."Investir neste projecto é, assim, uma forma de contrariar esta situação. O ministro Carrilho reconhece a "existência de condições muito difíceis" para os Artistas Unidos trabalharem e explica que, por isso mesmo, está a estudar o apoio a esta ideia. Enquanto isso, Jorge Silva Melo e a sua equipa de quase 40 pessoas vão lutando, no dia-a-dia, contra as adversidades para manter abertas as portas dos Artistas Unidos: "Se está frio, colocam-se aquecedores e veste-se roupa quente, se está sujo, limpa-se, se está em ruínas, tapa-se." É nesta energia, conforme diz, nesta luta contra as dificuldades, que se encontra o "gosto de continuar."