Arrumar as dores de outra maneira

Destaque: A melhor maneira de prevenir comportamentos de risco é criar uma auto-imagem tão forte e estruturante que seja capaz de dar forças para enfrentar o mundo. E rejeitar aquilo que não interessa nem ajuda a crescer ou a ser mais feliz.

Jorge Gomes Miranda é um poeta da nova geração. Vive no Porto, tem 33 anos e publicou dois livros. Um deles, "Portadas Abertas", saiu o ano passado na editoral Presença. "Mudemos de casa; porque é preciso/arrumar as dores de outra maneira, /certificarmo-nos da existência do corpo/em novos lençóis, voltar a ter ilusões, /lugar propício para a curiosidade/ de alguns que nos fazem acreditar/ que a vida é um amplo anfiteatro/para as mãos." Este livro partiu de uma situação biográfica que é esta : "Numa história de amor eu fui o corpo que partiu, fui a pessoa que se foi embora. No livro eu inverti isso e apareço como sendo o corpo que fica. Tentei colocar-me do ponto de vista ficcional na pele do corpo que ficava e falar da solidão, do desamparo e das horas que o outro poderia estar a viver. É também um livro que além da experiência da dor amorosa trata da morte de um familiar". Formado em filosofia, está a escrever uma novela, uma encomenda do Porto Capital da Cultura 2001, que terá de entregar em Setembro desse ano. É um projecto de dois arquitectos juntamente com cinco criadores. "A novela situa-se no Porto em três tempos distintos que acompanham as fases de transformação da cidade: antes, durante e depois das obras. É uma novela com personagens que se encontrarão por exemplo nesta altura, no Porto, antes de as obras se iniciarem, em locais que irão sofrer transformações.", explica. "É um projecto em que estão envolvidos vários criadores, pessoas ligadas ao vídeo e à fotografia. Eles sim, irão fazer aquilo que se chama o registo da transformação. Eu escolhi fazer uma novela no sentido tradicional, organizada em três tempos. A minha obra parte muito de um trabalho memorialístico. Aqui é um pouco diferente, parte da minha imaginação."Para o Porto 2001 está também a fazer uma Antologia dos anos 90 ("a textualidade nos anos 90 na poesia, na ficção, na dramaturgia, no ensaio e na crónica jornalística") e uma Antologia Literária de olhares portugueses sobre a Holanda ("Porque Roterdão é também em 2001 uma das capitais europeias da cultura, achei que seria interessante haver um trabalho que germinasse os dois países").Já na faculdade, Jorge Gomes Miranda andava sempre com um livro de poemas na pasta. Aproveitava todos os momentos para ler os seus autores preferidos e conversar sobre eles com os colegas. O seu primeiro livro "O que nos protege", publicado na Pedra Formosa em 1995 ("um livro muito ligado à infância e à adolescência") escreveu-o durante os três meses em que estava à espera de ir cumprir o serviço militar."Enviei por correio o que tinha escrito para a editora Assírio & Alvim, de Lisboa, e para a Pedra Formosa, de Guimarães. Esta última respondeu-me logo, passado três ou quatro dias. A Assírio respondeu-me mais tarde, dizendo que sim, mas que só publicaria a obra no próximo ano. Como me tinha compremetido com a Pedra Formosa, optei por eles... e depois o livro acabou por demorar três anos a ser publicado. Foi uma coisa horrorosa", conta.Entretanto deu aulas de filosofia e passou a colaborar regularmente no suplemento Leituras , do PUBLICO. "A partir do momento em que comecei a fazer crítica literária deixei de escrever poemas - durante três ou quatro anos. Depois circunstâncias biográficas desencadearam um novo livro - "Portadas Abertas"- e nessa altura já não fui eu que o enviei para uma editora, mas foi o poeta Joaquim Manuel Magalhães que tinha gostado do meu primeiro livro e tinha escrito sobre ele", conta. Miranda era leitor da obra de Joaquim Manuel Magalhães e em 1995 foi assistir a uma das sessões de poesia organizadas por Eugénio de Andrade na sua Fundação. No final pediu ao poeta para ele lhe autografar os livros e ficaram amigos. Jorge Gomes Miranda está aliás a organizar um livro sobre Joaquim Manuel Magalhães para uma editora que formou com outros três poetas - José Miguel Silva, Ana Paula Inácio e Carlos Luís Beça e a que chamaram Ilhas. "Fiz uma selecção de poetas portugueses e espanhóis que escreveram textos sobre a obra de Joaquim Manuel Magalhães. Farei uma entrevista longa, biográfica e bibliográfica, e escreverei um ensaio. É um livro em que a figura será ele."A escolha caiu sobre Manuel Magalhães porque na sua opinião "ele é um dos nomes mais importantes da cultura portuguesa do século. Não apenas como poeta mas também como ensaista e como tradutor. E acho que alguns dos poetas que eu mais gosto surgidos nos anos 90 trazem a marca da poesia dele", explica.Entretanto já tem terminado um novo livro de poesia. Chamar-se-á "Curtas-metragens". Um livro de poemas ou "short-stories" onde coloca em cena alguns episódios de felicidade. "Aqueles ligados aos instantes de enamoramento, aos primeiros encontros, antes que tudo desabe..."

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