Câmara do Porto pretende demolir bairros degradados
Três dos bairros camarários do Porto mais degradados podem vir a ser demolidos e substituídos por urbanizações com outras condições. O do Aleixo, constituído por três torres de 14 andares cada uma, poderá ser o primeiro a ir abaixo. Por enquanto, ainda é uma intenção. Autor: Nuno Cardoso. Prazo: "Próximos dois anos".
O presidente da Câmara do Porto, Nuno Cardoso, disse ontem que quer demolir o degradado bairro social do Aleixo, um aglomerado habitacional que abriga 300 famílias. "Gostaria muito de iniciar este processo de demolição nos próximos dois anos", revelou o autarca, no final de uma visita de trabalho a empreendimentos em curso ou a construir na freguesia de Ramalde, alguns deles de iniciativa municipal ou apoidos pela autarquia.Não é a primeira vez que o município encara a possibilidade de deitar abaixo o Aleixo, um bairro constituído por três torres de 14 andares cada uma. Há cerca de dois anos, o então presidente, Fernando Gomes equacionou tal possibilidade numa reunião pública do executivo, mas sem indicar qualquer data. "Um dia, que está porventura, ainda muito longe, aquelas pessoas vão ser realojadas e as torres serão demolidas pelo sistema de implosão", declarou, na altura.Ontem, Cardoso foi mais longe em termos de prazos ao dizer que o bairro pode começar a ser derrubado daqui a um "par de anos". É sua intenção fazer uma urbanização digna naquele local para os moradores actuais. O estado de degradação do Aleixo, situado na zona ocidental da cidade, na freguesia de Lordelo do Douro, e os elevados custos de manutenção, suportados exclusivamente pela edilidade, são apontados como razões mais do que suficientes pela autarquia para levar por diante esta medida e, se possível, estendê-la a outras urbanizações cmarárias.Nuno Cardoso falou apenas do Aleixo, mas o PÚBLICO sabe que outros podem conhecer igual sorte: Condominhas, um bairro social com 38 anos e onde habitam 900 famílias, e a parte antiga da urbanização da Rainha D. Leonor, na Pasteleira. Em relação a esta última, há uma proposta concreta, um estudo prévio do arquitecto Manuel Fernandes de Sá, que prevê a demolição dessa zona do bairro, onde pontificam casas pequenas e com "pouca qualidade".Sá propõe a construção de habitações unifamiliares com pequenos logradouros, uma solução idêntica à que a câmara encontrou para a Pasteleira. Aparentemente, o realojamento das famílias deste bairro não representa uma dor de cabeça para a autarquia, uma vez que a desocupação dessas casas vai permitir a libertação de um terreno, cuja venda poderá rentabilizar a operação de realojamento.Ao que o PÚBLICO conseguiu apurar, Fernandes de Sá poderá ser de novo convidado pela Câmara do Porto, mas desta vez por causa do futuro bairro que possa vir a surgir no Aleixo, caso Cardoso leve por diante a intenção de deitar abaixo este aglomerado habitacional. Por seu lado, o novo Bairro das Condominhas poderá vir a nascer do desenho do Manuel Ventura, o mesmo arquitecto que está a trabalhar nos projectos da paralela à Avenida da Boavista e noutras intervenções planeadas para o miolo da freguesia de Ramalde.A vereadora da Habitação, Maria José Azevedo, que ontem acompanhou Nuno Cardoso na visita a Ramalde, disse ao PÚBLICO que vai ser possivel demolir, construir e realojar nestes aglomerados residenciais, porque existem "grandes espaços públicos" em todos eles. Ainda de acordo com a autarca, neste momento faz muito mais sentido a câmara optar por uma política deste género do que continuar a enveredar pela realização de obras de beneficiação nos bairros municipais, até porque essa forma de intervir sai muito mais cara à edilidade, que suporta integralmente as respectivas empreitadas de reabilitação. Ao contrário, a construção de raiz de habitações novas conta com uma comparticipação do Estado da ordem dos 75 por cento do valor total da obra.A título de exemplo, a vereadora disse que a realização de obras de melhoria no interior de 300 casas, nas Condominhas, custa aos cofres camarários 1,5 milhões de contos, "um valor demasiado elevado para a autarquia que poderia ser aplicado em fogos completamente novos e feitos no mesmo local onde as pessoas se habituaram a viver".Apesar de, neste momento, se começar a encarar de uma outra maneira a política habitacional, a Câmara do Porto tem ainda muito caminho pela frente para percorrer, até porque a habitação é a grande dor de cabeça de Nuno Cardoso. Presentemente, a edilidade tem em construção uma série de empreendimentos espalhados pela cidade, muitos deles no âmbito do Programa Especial de Realojamento (PER).Um desses complexos é o Grupo Habitacional do Viso, constituído por 254 fogos e integrado no PER. Adjudicado pelo valor de 1,6 milhões de contos, está a ser feito por fases e será distribuído por três núcleos: Cruzes, Ferreira de Castro e Jerónimo de Azevedo. O núcleo da Rua das Cruzes, o mais pequeno (com 64 fogos), compreende quatro blocos com rés-do-chão e três andares; o de Ferreira de Castro, com 132 fogos, tem três torres com sete andares, mais rés-do-chão; e o de Jerónimo Azevedo, com 58 fogos, vai ter uma torre de rés-do-chão mais 14 andares. Este é o mais atrasado, em termos de construção, e o primeiro a ficar pronto será o das Cruzes. Cerca de metade dos fogos deste último destina-se ao realojamento das 33 famílias que vivem nas desumanas ilhas particulares do Cadela, Carvoeira e Maneta, todas em Ramalde.A erradicação das ilhas na cidade, primeiro as municipais, depois as privadas, é uma batalha que a autarquia quer vencer nos próximos tempos. Ontem, Nuno Cardoso manifestou-se particularmente empenhado neste propósito e declarou que vai ser preciso construir quatro mil novas casas para realojar as pessoas que vivem nessas ilhas. O autarca reafirmou a intenção de envolver o Governo na resolução do problema das ilhas particulares, que pode passar pela criação de "um programa específico". É nesse sentido que a câmara está a fazer um levantamento de todas as situações, o qual será apresentado "no mais curto espaço de tempo" ao ministro do Equipamento, Jorge Coelho.