Na rota de Cabral
Uma viagem marítima de Lisboa ao Rio de Janeiro vai assinalar a passagem dos 500 anos da chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil. Uma frota de veleiros de cruzeiro de Portugal e do Brasil, além do navio-escola português "Sagres", do navio-escola brasileiro "Cisne Branco" e da caravela portuguesa "Boa Esperança", parte de Lisboa a 8 de Março e deve chegar a Porto Seguro a 22 de Abril.
A Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses (CNCDP), juntamente com a Aporvela (Associação Portuguesa de Treino de Vela), a Associação Nacional de Cruzeiro (ANC) e a Federação Portuguesa de Vela, entre outras entidades desportivas portuguesas e brasileiras, promove uma viagem comemorativa do descobrimento do Brasil. A largada está marcada para o dia 8 de Março, às 10h00, frente à Torre de Belém, em Lisboa, numa cerimónia que contará com a presença dos Presidentes português e brasileiro, Jorge Sampaio e Fernando Henrique Cardoso. Uma frota variada, de que se destacam os navios-escola "Sagres" e "Cisne Branco" e a caravela portuguesa "Boa Esperança", tomará parte no evento, dividida em duas categorias - competição e cruzeiro - em que se somam cerca de vinte iates portugueses, com dimensões entre 32 e 60 pés. De salientar também a participação do "Casvic", do navegador Manuel Gomes Martins, o primeiro português a dar a volta ao mundo em solitário e a refazer a rota de Vasco da Gama até a Índia.Do Brasil já estão confirmadas as presenças de dois grandes nomes do desporto à vela nacional: Amyr Klink, "skipper" do "Paratii", o primeiro velejador a realizar uma invernagem solitária na Antárctida e uma circum-navegação solitária do continente antárctico; e Lars Grael, velejador olímpico que estará no comando do trimarã "Adrenalina Pura" e que faz parte da comissão náutica responsável pelo evento no Brasil, juntamente com o Instituto Memorabilia e clubes locais de iates. A rota programada pelas entidades organizadoras inclui várias escalas, a primeira das quais no porto do Funchal, Madeira, onde os veleiros de competição da frota participam num cortejo de tripulantes pelo Parque de Santa Catarina e numa missa campal, enquanto os iates de cruzeiro da ANC fazem escala em Tenerife, Canárias. A frota volta a reunir-se no Mindelo, em São Vicente, Cabo Verde, de onde partirá para a travessia oceânica até São Salvador, na Baía, num percurso de duas mil milhas de distância. Aí, juntar-se-ão à frota inicial outras dezenas de embarcações brasileiras à vela, incluindo uma réplica da nau "Capitânia", da frota de Cabral, recentemente construída pelo Instituto Memorabilia, para a rota até Porto Seguro, onde está programada para o dia 22 de Abril uma cerimónia com a presença dos Presidentes dos dois países. Os iates seguem depois para Santa Cruz de Cabrália, local onde fundeou a frota de Cabral e onde, a 26 de Abril, ocorrerá o desembarque de um batel com três pessoas, representando Cabral, o frei Henrique de Coimbra e o escrivão Pêro Vaz de Caminha, com a bandeira da Ordem de Cristo, uma réplica da cruz utilizada na primeira missa celebrada em solo brasileiro e uma carta portuguesa dirigida ao povo brasileiro. Nesse local será concelebrada uma missa por 500 sacerdotes.A partir daí, a frota seguirá ao longo da costa brasileira por mais 560 milhas, até ao Rio de Janeiro, porto para o qual estão agendadas as comemorações oficiais, que incluirão uma parada naval pela baía de Guanabara e uma regata que deverá juntar cerca de duas mil embarcações. A rota marítima terminará no fim de Abril e os veleiros portugueses regressarão a Lisboa a bordo de um navio, numa cortesia da CNCDP, que investiu nesse evento cerca de 400 mil contos."Esta será uma rota aproximada à que Cabral realizou em 1500, e que durou 45 dias, o mesmo tempo que se prevê para esta viagem comemorativa, que se traduz numa ousadia dos amantes do mar, que irão arriscar um feito notável", declarou o comissário-geral da CNCDP, Joaquim Romero Magalhães."É a última oportunidade de comemorar um acontecimento português no mar e fizemos tudo para sensibilizar os cerca de 700 cruzeiristas portugueses associados à ANC, o que representa 80 por cento da frota nacional", acrescentou Júlia Torres, directora da ANC, que promoveu uma série de acções de formação para os cerca de 150 velejadores que tomarão parte na viagem.Os participantes portugueses neste evento terão o benefício de um decreto-lei que aprova o regime especial de dispensa de trabalho durante os 45 dias de viagem. E os organizadores anunciaram também a atribuição de prémios monetários para o vencedor de cada etapa e para os seis primeiros colocados na classificação geral, sendo que o primeiro receberá cerca de 2700 contos.Mais aliciante porém, segundo os "skippers" portugueses, é a oportunidade de comemorar no mar um feito náutico dos navegadores de Quinhentos, cujos recursos tecnológicos eram ínfimos para o nosso tempo. Hoje, alguns veleiros da frota disporão até de telefones Iridium, cedidos pela Motorola-Sicom, para as comunicações com terra.