Super Santana
Depois de sete anos sem gravar um álbum, o guitarrista Carlos Santana teve o momento alto da sua carreira, ao receber oito prémios Grammy, igualando o recorde obtido em 1983 por Michael Jackson. Depois de Milton Nascimento e Gilberto Gil, foi a vez de Caetano Veloso levar para casa o título de melhor álbum de "world music", derrotando Cesária Évora. Na música clássica, o compositor francês Pierre Boulez recebeu o 19º Grammy da sua carreira.
"Quero agradecer a Carlos Santana por não estar nesta categoria", gracejou a cantora e guitarrista Sheryl Crow, ao receber o sétimo prémio Grammy da sua carreira como melhor voz feminina rock na cerimónia de entrega dos mais prestigiados galardões da indústria musical realizada anteontem à noite no Staples Center, em Los Angeles. Nomeado para 11 categorias, o último álbum do veterano guitarrista de origem mexicana (ver caixa), "Supernatural", arrecadou nove prémios Grammy, entre os quais os de melhor álbum, disco e canção do ano. Na verdade, Santana recebeu oito prémios - igualando o recorde obtido em 1983 pelo proclamado "rei da pop", Michael Jackson, com o álbum "Thriller" -, já que a distinção de melhor canção do ano é entregue aos compositores, neste caso Rob Thomas (vocalista dos Matchbox 20 e no tema em causa, "Smooth") e Itaal Shur. Este tema foi, aliás, responsável por mais dois prémios: o de melhor disco e melhor colaboração pop. Nesta última categoria, poder-se-á dizer que Santana se bateu a si próprio, porque estava duplamente nomeado, com o tema "Love of My Life", em colaboração com Dave Matthews. "Supernatural", o primeiro álbum de Santana em sete anos - feito em colaboração com um grande leque de músicos e cantores, nomeadamente Lauryn Hill, Eric Clapton, Dave Matthews, Wyclef Jean (ex-Fugees), Eagle-Eye Cherry e Everlast -, vendeu mais de seis milhões de cópias nos Estados Unidos e três milhões no estrangeiro, mantendo-se firme no topo da tabela americana pela oitava semana consecutiva. Até à data, o músico de 52 anos, contava apenas com um prémio Grammy no currículo, obtido em 1987 pelo álbum "Blues for Salvador". Na categoria de melhor álbum do ano, "Supernatural" derrotou outros sucessos de vendas como ""I Want It That Way" dos Backstreet Boys, "Believe" de Cher, "Livin' la Vida Loca" do porto-riquenho Ricky Martin e "No Scrubs" das TLC. Para além das já referidas categorias, Santana venceu ainda o título de melhor dueto pop, com "Maria Maria", melhor instrumental pop, com "El Farol", melhor dueto rock, com "Put Your Lights On" (com Everlast), melhor instrumental rock, com "The Calling" (em colaboração com Eric Clapton, outro veterano reconhecido pelos votantes dos prémios Grammy) e melhor álbum rock, derrotando os Red Hot Chili Peppers, Tom Petty, Melissa Etheridge ou os Limp Bizkit. O único prémio que o guitarrista não conquistou foi o de melhor composição instrumental, atribuído a Don Sebesky. Vestido de preto e com o característico chapéu, Carlos Santana recorreu à sua veia espiritual no discurso de agradecimento: "A música é o veículo para a magia da cura e a música de 'Supernatural' estava destinada e foi concebida para trazer unidade e harmonia."Mas a noite conheceu outros vencedores, nomeadamente o brasileiro Caetano Veloso (ver caixa), que disputava com Cesária Évora o título de melhor álbum de "world music", e cujo "Livro", de 1998, saiu vencedor, sucedendo a Milton Nascimento e Gilberto Gil, eleitos, respectivamente, em 1997 e 1998.A jovem Christina Aguilera, de 19 anos, foi escolhida como a revelação do ano, deixando de fora a reconhecidíssima cantora soul Macy Gray, cujo álbum "On How Life Is" recebeu grande aclamação dos críticos no último ano. Uma congénere de Aguilera, Britney Spears, foi outra das derrotadas. Sting também levou duas distinções para casa graças ao seu último registo de originais, "Brand New Day", que reclamou os títulos de melhor álbum pop e melhor voz masculina pop, batendo Ricky Martin em ambas as categorias. "Believe" de Cher não conseguiu obter o gramofone dourado de melhor álbum do ano, mas valeu-lhe o primeiro Grammy em 30 anos de carreira na categoria de música de dança pop, batendo Fatboy Slim ou Jennifer Lopez.Beck, que regressa ao Coliseu dos Recreios, em Lisboa, no próximo dia 5 de Março, no âmbito do Festival Super Bock Super Rock, venceu na única categoria para a qual estava nomeado, a de música alternativa, com o seu penúltimo álbum "Mutations", batendo Tori Amos, Fatboy Slim, Moby (que passou recentemente pela Aula Magna) e Nine Inch Nails. Nomeadas para sete categorias, as TLC perderam nos principais títulos, mas tiveram a consolação de dois prémios: o de melhor canção de Rhythm & Blues e colaboração R & B. Os Red Hot Chili Peppers, que esgotaram o Pavilhão Atlântico em Novembro passado, venceram na categoria de melhor canção rock, graças a "Scar Tissue", e Lenny Kravitz arrecadou o título de melhor voz masculina rock, com "American Woman", revisitação de um tema dos The Guess Who para a banda sonora do filme "Austin Powers, o Espião Irresistível". Os Metallica também conquistaram a sua única nomeação, para melhor tema de hard rock, com "Whiskey in the Jar", e no campo do rap o grande vencedor foi Eminem, a quem foram entregues os Grammy de melhor solo e álbum rap. A cantora e pianista de jazz canadiana, que actuou na cerimónia em dueto com a cantora "soul" Erykah Badu, derrotou Etta James, Cassandra Wilson e Dianne Reeves como melhor voz jazz; Shania Twain, ultimamente rendida à música pop, foi distinguida pela melhor canção de "country", com "Come On Over"; B.B. King ficou-se pelo melhor álbum de blues e "Mule Variations", de Tom Waits, levou o prémio de melhor álbum de "folk" contemporânea. Madonna perdeu para Sarah MacLachlan o título de melhor voz feminina pop, mas recebeu o Grammy na categoria de canção para banda sonora original, graças a "Beautiful Stranger", tema do filme "Austin Powers".Na música clássica, o compositor e maestro francês Pierre Boulez (ver caixa) alcançou o prémio de melhor composição clássica contemporânea, pela sua obra "Répons", juntando o 19º Grammy à sua estante de galardões.Finalmente, outro veterano, Elton John, de 52 anos, foi distinguido com um prémio Grammy honorário, em reconhecimento pelos 30 anos da sua carreira.