O Universo em três dimensões
Há um cubo gigante, em vidro, colado ao Museu Americano de História Natural, em Nova Iorque. Lá dentro está um globo. Não representa a Terra, mas a minúscula partícula de energia que, há 15 mil milhões de anos, explodiu e deu origem ao Universo. No mais moderno planetário do mundo, recria-se o Big Bang, mostra-se o espaço em três dimensões e, na Rua do Cosmos, onde cada passinho representa 40 milhões de anos, está a história do aparecimento do planeta azul.
As funcionárias das informações do Museu Americano de História Natural, em Nova Iorque, passaram a última semana a enxotar os visitantes. "Vive em Nova Iorque? Então não venha, espere pelos próximos meses", diziam à multidão entusiasmada com o novo planetário do complexo, que abriu no sábado ao público.Pelo número de bilhetes comprados com antecedência, o Rose Center for Earth and Space vai ser inundado de leigos à procura de explicações simples para o Big Bang, e de entendidos em astronomia que querem espreitar o mais moderno planetário do mundo. "Vai ser impossível entrar e, lá dentro, vai ser a grande confusão", antecipavam as senhoras das informações.Esta nova ala do museu substituiu o velho planetário Hayden, que funcionava num edifício "art deco" com decorações incas. No seu lugar, foi construído um cubo de vidro transparente da altura de seis andares com um globo gigante no interior. A arquitectura do edifício - da autoria de James Polshek e Todd Schliemann, que segue a filosofia de que a "casca" de um museu é, por ela própria, uma peça de arte - é um dos principais trunfos do novo planetário. As paredes de vidro expõem o Central Park. O crítico de arquitectura do jornal "The New York Times", Herbert Muschamp, escreveu que esta é "provavelmente a melhor parede de vidro alguma vez realizada nos Estados Unidos". Do lado de fora, o planetário tem uma dimensão gigantesca e o globo parece ocupar todo o espaço do cubo. Porém, no interior, o espaço parece encolher quando é visto da varanda panorâmica de passagem obrigatória para quem vai a caminho do Cinema do Espaço, a primeira etapa do planetário.O Rose Center for Earth and Space visita-se de cima para baixo. Na parte de cima do globo, a voz do actor Tom Hanks tenta convencer os visitantes de que são "cidadãos do cosmos" antes de os levar numa viagem pelo espaço à velocidade da luz. A partir de dados obtidos por telescópios na Terra, de imagens do Hubble - um telescópio que foi colocado no espaço em Abril de 1990 - e de imagens virtuais, os cientistas conceberam um mapa em três dimensões do Universo.São as imagens em três dimensões que permitem que os pasmados visitantes percebam como a Terra é pequenina, como o Sistema Solar é um grão de pó e que a Via Láctea não é uma estrada de estrelas, mas uma galáxia em espiral onde fica, num dos braços, o nosso minúsculo planeta. Juntando as imagens do Hubble e as imagens virtuais, é possível um passeio na nebulosa de Orion, onde "nascem estrelas" e que está a 1500 anos-luz da Terra, como explica a voz de Tom Hanks. O globo do Rose Center for Earth and Space não é uma representação da Terra. Também não pretende assemelhar-se a uma nave espacial de filme de ficção científica, apesar de a comparação ser fácil - é sustentado por grandes pernas, os corredores parecem rampas de lançamento de séries de televisão e todo o interior do planetário é dominado pelas cores branca e cinzenta. A bola de alumínio é o minúsculo grão de areia original. Há uns 15 mil milhões de anos, toda a energia estava concentrada num ponto, mas a idade exacta do nascimento do Universo não está definida e há quem diga que aconteceu entre há 10 mil e 15 mil milhões de anos - a voz da actriz Jodie Foster opta por falar em 13 mil milhões. De repente, deu-se uma gigantesca explosão - o Big Bang -, libertando a energia, criando matéria e dando origem ao Universo. A recriação do Big Bang é feita na parte de baixo do globo, onde os visitantes sobre um chão de vidro e debruçados numa varanda "vêem" a criação do Universo e a sua expansão eterna. "As estrelas vão continuar a fugir umas das outras". É esta a tese do planetário de Nova Iorque: o Universo está em permanente expansão e, ao contrário de outras teorias, não vai regredir mas expandir-se para sempre. A sala do Big Bang desemboca no Caminho Cósmico, onde uma fita métrica especial informa que, ali, cada passada representa 40 milhões de anos (ou mais, ou menos, depende do tamanho das pernas de cada um). Percorrer o caminho cósmico, que é uma espiral, é a melhor forma para se perceber como surgiram as estrelas, os planetas, as galáxias, as nebulosas... Está tudo datado. Quando o Universo tinha oito mil milhões de anos era um terço mais pequeno do que hoje. Finalmente, há 3500 milhões de anos surgiram os primeiros organismos capazes de respirar oxigénio, seres vivos. O planetário tem ainda uma Sala do Universo, que está mesmo debaixo da esfera e tem uma exposição permanente sobre os planetas e as galáxias, e uma Sala da Terra onde se conta a história do nosso planeta através das rochas. "Queríamos fazer uma viagem que revelasse a imensidão do Universo e o lugar dos seres humanos dentro dele", disse a directora do Museu de História Natural, Ellen Futter, ao apresentar o mais ambicioso projecto da instituição de 131 anos. O Rose Center for Earth and Space custou 210 milhões de dólares (cerca de 42 milhões de contos). "Gosto de acreditar que ajudei as pessoas a conhecerem melhor o mundo em que vivem e a elas próprias", disse Ralph Appelbam, que fez a concepção museológica do espaço e cuja equipa é responsável pelo Museu do Holocausto de Washington. Como as funcionárias das informações, os responsáveis do Museu de História Natural estão convencidos de que inauguraram um espaço que se vai tornar num dos mais populares de Nova Iorque. Estima-se que nos dias mais concorridos, perto de 6800 pessoas entrem no planetário - o bilhete custa dois contos. Antes mesmo de abrir ao público, o cubo de vidro com um globo gigante no interior já se tinha tornado um sucesso e cativado todo o género de público. O ambiente de nave espacial atraiu imediatamente a atenção dos criadores de moda, e Ellen Futter já recebeu propostas para a realização de passagens de modelos na que vai ser a ala mais popular do Museu de História Natural.