Banca desdramatiza subida dos juros
Quanto maior for o empréstimo e o prazo da sua amortização mais elevada será a factura do agravamento da taxa de juro. Esta é a regra geral, mas os bancos esperam apenas um ligeiro aumento das taxas do crédito à habitação durante este ano. Para muitos portugueses significará pagar mais cinco a 13 contos contos/mês, conforme o caso.
Um aumento das taxas de juro do crédito à habitação de cinco para seis por cento traduz-se num agravamento das prestações mensais que pode ir de pouco menos de cinco contos a quase 13 contos, de acordo com simulações realizadas pela Caixa Geral de Depósitos (CGD) e publicadas nesta página. Para muitas famílias que têm um empréstimo para pagar a casa significa basicamente regressar às prestações de finais de 1998. Só quem pediu crédito na primeira metade do ano sentirá pela primeira vez o efeito da subida das taxas de juro.Ninguém quer dizer exactamente até onde podem subir as taxas de crédito à habitação, admitindo-se apenas que seis por cento é um valor já razoavelmente elevado. Neste momento espera-se que o Banco Central Europeu (BCE) avance com pelo menos mais um agravamento da sua taxa de referência, significando que na pior das hipóteses se passará dos actuais 3,25 para 3,75 por cento. Mas a antecipação que os mercados já fizeram deste movimento previsto para o ano 2000 faz com que os bancos, como a CGD, estejam convencidos que os indexantes que servem de base à construção das taxas de crédito à habitação registem aumentos ligeiros e lentos. Serão subidas de décimas, nunca de pontos percentuais, como no passado aconteceu em Portugal.O reflexo do agravamento das taxas nas prestações não é total, porque a fórmula de cálculo leva a que um aumento dos juros seja acompanhado por uma redução do montante mensal de amortização de capital. Por outro lado, o efeito será tanto maior quanto mais elevado for o empréstimo e o seu prazo de amortização.De acordo com simulações feitas pela CGD a pedido do PÚBLICO, um empréstimo de dez mil contos a dez anos, que esteja neste momento com uma taxa de cinco por cento, veria a sua prestação aumentar de pouco mais de 106 contos para pouco acima de 111 contos caso a taxa passasse para seis por cento. No extremo oposto está o caso de um crédito de 20 mil contos a 30 anos, que passaria de uma prestação da ordem dos 107 contos para quase 120 contos. Na prática, isto significa que caso as taxas atinjam o valor de seis por cento, as prestações aumentarão entre cerca de cinco a cerca de 12 por cento.Cada caso acaba por ser um caso. E ainda o é mais quando se leva em consideração que há clientes com capacidade negocial junto dos bancos, de forma a fazerem com que estes baixem a margem de lucro ("spread") que colocam em cima da Lisbor ou Euribor. Algumas pessoas, especialmente as que têm margem de negociação com os bancos, poderão até nunca chegar a experimentar esse nível de taxa. Outros, sem margem para negociar, terão ou até já têm taxas ligeiramente acima dos seis por cento.Colocada completamente de parte está a possibilidade de as taxas atingirem valores da ordem dos sete por cento em 2000. Admite-se ainda que boa parte do aumento das taxas já esteja incorporado na Lisbor e Euribor (ver texto nesta página) e que durante este ano se verifiquem apenas pequenos aumentos. A convicção de que a subida não será substancial é ainda ilustrada, refere a CGD, pela recente decisão do Governo de baixar, com efeitos a partir de 1 de Abril, a taxa de referência para os empréstimos bonificados, dos actuais 6,5 para 5,5 por cento.Naturalmente que as subidas que se estão a verificar desde praticamente o segundo semestre do ano passado vão entrando lentamente nos bolsos das famílias portuguesas, designadamente na altura em que os contratos consagram a revisão da taxa, o que acontece geralmente de seis em seis meses. E quem fez um crédito em Agosto, por exemplo, verá a sua prestação agravar-se este mês. As preocupações levantadas pelo aumento das taxas estão a ser desdramatizadas pela banca, considerando que os orçamentos familiares terão capacidade para absorver as subidas das prestações. Mas já merece apreensão o efeito que a subida de juros possa ter na economia. Como há famílias que só conseguiram ter acesso ao crédito devido à conjugação das baixas taxas de juro com uma fase em que encontraram emprego, graças ao acentuado crescimento da economia, quando o abrandamento ou a recessão chegar o desemprego significará naturalmente deixar de pagar a casa. Com crédito malparado para a banca e problemas sociais.