Amo-te SIC!
Quando uma médica de regresso às origens, a sua melhor amiga de infância, casada com um político ambicioso, e o filho adolescente de ambos se cruzam, há razões mais do que suficientes para um drama. Entenda-se: a médica envolve-se com o menor. É uma cidade pequena e tudo acaba por se descobrir. É a trama de "Amo-te Teresa", o primeiro telefilme português produzido pela SIC.
É uma história de amores proibidos, o primeiro telefilme português produzido pela SIC (com o Animatógrafo II). Tem estreia marcada para dia 11 e o seu título não pode ser desconhecido nem mesmo por aqueles que só passam por este canal em "zapping": "Amo-te Teresa", em letras vermelhas traçadas na parede muito pura de uma igreja.O argumento conta a história de Teresa (Ana Padrão), uma médica de 35 anos com uma vida afectiva frustrada, que regressa à vila onde nasceu para viver uma intensa paixão com Miguel (Diogo Morgado), filho adolescente daquela que fora em tempos a sua melhor amiga, Paula (Maria João Abreu). É ela que aparece desvairada pela noite, de roupão verde vivo e pantufas, a gritar contra Teresa: "Puta! Puta! A desencaminhar o meu filho!"Este é o inicío das desventuras de Teresa. Apesar de um visionamento do filme ser impensável a esta altura do campeonato (a SIC fez uma apresentação em Novembro), os "spots" que a toda a hora se fazem passar nesta estação televisiva levantam o véu. Em "Amo-te Teresa" são as mulheres que estão mais próximas dos filhos (reflexo de uma sociedade matriarcal ainda vigente?), opondo-se à imagem do pai, figura distante, quase ausente (Mário, pai de Miguel, candidato a presidente da Câmara). São, por isso, as mulheres que acabam por liderar uma verdadeira revolta contra a médica, mesmo em frente ao centro de saúde local. A avó, Cândida (Isabel de Castro), a recepcionista e enfermeira Generosa (Noémia Costa) e Emília (Maria Emília Correia) juntas com Paula, a mãe, como se estivessem juntas numa fotografia onde se lê "O futuro são os nossos filhos" ou "Fora com a mulestadora de crianças" (sic). Teresa aparece depois, cabisbaixa, escoltada pela GNR - é essa a farda que Rui Reininho vestiu, numa colaboração especial, para além de assumir a autoria da canção-tema. Estas são apenas algumas das figuras que dão corpo a uma galeria de personagens "bem reais", como explica Cristina Boavida, que procurou retratar o "país real" no seu filme de estreia como argumentista e realizadora, tarefa partilhada com Ricardo Espirito Santo. E esta é também apenas a primeira de muitas estreias planeadas pela SIC, ao ritmo de uma por mês, a partir de "Amo-te Teresa". Ao todo, serão 30 as longas metragens para o pequeno ecrã que os telespectadores portugueses vão poder ver na SIC, ao ritmo de dez títulos por ano. É um projecto que, nas palavras de Manuel Fonseca, corresponde a "uma ideia original e pessoal de Emídio Rangel", o director do canal. "[O projecto] foi idealizado e impulsionado directamente por ele". Trata-se de uma iniciativa que, para Manuel Fonseca, director de programação estrangeira da SIC, vem colmatar uma carência básica: a diminuta produção de ficção em português. "Não fazia sentido continuar a estar dependente da ficção internacional", explica. Urgia portanto "encontrar um equivalente no cinema" a fenómenos como o da série "Médico de Familia" produzida e exibida pela SIC, procurarar um espaço para que os actores portugueses se possam exprimir e "criar laços afectivos com o público português". Por arrastamento, o público terá "acesso a um conjunto de conteúdos que lhe são próximos a nível cultural e de gosto".Em que consiste exactamente essa aproximação? Não passa, certamente, por temáticas inesperadas. "Há histórias de amor, policiais, cómicas. São os grandes géneros dramáticos", explica Manuel Fonseca. "O que muda é o clima e uma maneira de narrar. Há uma marca nacional que se prende com uma certa atmosfera. Há uma cor, uma cor local que resulta dos 'sites' das filmagens e sobretudo dos actores". Sempre os actores, porque se deseja "que as pessoas se venham a reconhecer neles", como se reconhecem já numa Catarina Furtado, numa Bárbara Guimarães ou num Diogo Infante, que Manuel Fonseca nomeia a título de exemplo. É a procura de um "star-system" nacional? "Se assim o quiser pôr", é a resposta. Provada e existência de um público com apetência para a ficção portuguesa - "desde 'Adão e Eva', todos os filmes que apoiámos foram sucessos de bilheteira. A SIC conseguiu motivar um segmento excepcional das suas audiências a ir às salas e sentimos que há um público para consumir ficção portuguesa", afirma - o problema que se poderia pôr era o financiamento (cada um dos filmes, rodados em pelicula, custa entre 80 a 90 mil contos). Mas não chegou a pôr-se. O Instituto do Cinema Audiovisual e Multimédia juntou-se ao projecto - que, do ponto de vista da SIC, "tem todos os ingredientes que o justifiquem" - e os 50 por cento do orçamento total que restavam cobrir foram garantidos pelo mercado privado. O único problema, como confessa, "o mais delicado", era encontrar guionistas; porque em Portugal "há uma grande tradição de escrita autoral, o que não acontece no campo do cinema comecial". Passados sete meses de projecto, oito argumentos estão prontos e seis dos filmes estão já rodados. A "Amo-te Teresa", em Fevereiro, segue-se "Monsanto", com argumento de Vicente do Ó e realização de Ruy Guerra. Este novo filme (cuidado "Inferno"!) terá Vitor Norte no papel de Rui Sequeira, um ex-combatente da guerra colonial que procura manter a sua vida longe de memórias quando a morte de um amigo acorda um passado adormecido e o leva numa viagem de reconhecimento. Como "a ideia foi fazer uma coisa com ambição" e "atingir o público pelo lado mais fascinante que o cinema sempre teve", de uma forma geral "todos pretendem ser filmes pensados para serem exibidos no horário das 21h30, 22h, o horário nobre". Serão, necessariamente, "filmes interclassistas", ou "abertos", como os classifica Manuel Fonseca.