Como o cinema viu o futuro
São 24 filmes para mostrar como o cinema viu o futuro, começando hoje com um exemplar de ficção científica do tempo da guerra fria e acabando com a primeira longa metragem de Georges Lucas. Ao espectador caberá decidir se quem fez estes filmes se enganou no que imaginou ou se nem tanto.
Acompanhando a transição para o ano com o número "mágico" de 2000, a Cinemateca organizou, durante o passado mês de Dezembro, um ciclo baseado em filmes que exprimissem as ansiedades (suscitadas pelo novo milénio ou não) em torno do "fim do mundo" - fosse ele literal ou figurado, fruto da bomba atómica ou de uma catástrofe natural, ou ainda, simplesmente, pelo advento de uma forma de totalitarismo à escala global. Agora que o ano 2000 chegou com toda a calma e nem o "bug" se mostrou à altura do que dele se esperava, é tempo para ver as coisas sob outro prisma. O ciclo "E Depois do Ano 2000?" é dedicado a filmes que se atreveram a olhar para o futuro vendo nele algo mais do que o fim do mundo - mesmo que esse mundo do futuro possa, nalgumas das visões incluídas no ciclo, ser tão terrível como o seu fim.Curiosamente, o cinema anteviu o "futuro" como um espaço rigorosamente vigiado e controlado. Os totalitarismos, nas suas mais variadas formas e manifestações, são uma constante nos filmes incluídos no ciclo. Do clássico "Metropolis" (dia 10, 21h30), realizado por Fritz Lang em 1927, que desenhava a cidade do futuro em função das relações de subordinação entre senhores e escravos a "Truman Show" (dia 18, 18h30), de Peter Weir, onde a televisão está em todo o lado, aprisionando quem vive dentro dela como quem a vê (aparentemente) de fora; passando por "Grau de Destruição" (dia 11, 21h30), de François Truffaut, onde, a partir de uma novela de Ray Bradbury, o poder se preserva pela aniquilação dos livros e da imaginação, por "Alphaville" (dia 18, 21h30) de Jean-Luc Godard, onde os destinos da humanidade são controlados por um único computador, ou ainda por "Starship Troopers" (dia 15, 18h30), onde Paul Verhoeven repescava a imagética e organização social nazis para as projectar para o futuro.Há, no entanto, quem consiga brincar. Paul Bartel, por exemplo, que em "A Corrida da Morte do Ano 2000" (dia 5, 21h30) nos propõe um futuro, tingido em tons de grotesco "camp", em que o desporto nº1 consiste em corridas de automóveis pelas auto-estradas fora; ou Woody Allen, que em "Sleeper" (dia 7, 21h30) se atira a todos os esteréotipos do filme de ficção científica e lhes acrescenta umas pitadinhas das suas obsessões de sempre. De algum modo, "brincar" também foi o que fizeram John Carpenter, que em "Fuga de Los Angeles" (dia 9, 21h30) imaginou uma América caricaturizada e hiperbólica para a qual o "fim do mundo" era o que mais merecia, e David Cronenberg, que em "eXistenZ" (dia 14, 21h30) preconizou um futuro onde espaço e tempo deixavam de ser dimensões físicas para passarem a ter uma existência meramente mental, diluindo as fronteiras entre o mundo e a imaginação dos homens.Há outros "objectos de culto" incluídos no ciclo, como "Red Planet Mars" (hoje, às 18h30) de Harry Horner, ficção científica "anti-comunista" dos anos 50, "Planet of the Apes" (dia 8, 15h30) de Franklin Schaffner, onde se diz que o futuro é dos macacos, "O Exterminador Implacável" (dia 10, 18h30) de James Cameron, peça fundamental na reputação do cineasta e de Schwarzenegger, "Matrix" (dia 11, 18h30) dos irmãos Wachowski, onde o mundo é um CD-Rom gigante, "Um de Abril do Ano 2000" (dia 12, 18h30) de Wolfgang Liebeneiner, curiosa antecipação "política" realizada em 1952, "Beyond the Time Barrier" de Edgar Ulmer, série B com viagens no tempo, epidemias e mutantes, "THX 1138" (dia 24, 18h30) de George Lucas, o seu primeiro filme, para muitos o melhor, ou ainda as duas celebradas incursões de Andrei Tarkovski por terrenos da "fc", "Stalker" (dia 15, 15h30) e "Solaris" (dia 17, 21h30). Em todos estes filmes se cobre aquilo que, à distância, foi possível imaginar do futuro.