Itamar declara guerra total a FHC
Itamar Franco declarou à imprensa que vai "até às últimas consequências" para impedir a privatização da Furnas, a maior produtora e distribuidora de energia eléctrica do Brasil. Em pano de fundo está a sua corrida à presidência.
O governador do Estado de Minas Gerais, Itamar Franco, promete ir "até às últimas consequências para impedir a privatização de Furnas", a maior empresa geradora e distribuidora de energia eléctrica do Brasil, responsável por 40 por cento do abastecimento brasileiro. Numa entrevista a correspondentes da imprensa estrangeira no Rio de Janeiro, o governador mineiro pediu: "não me perguntem que consequências serão essas". Mas Itamar Franco já mostrou que das duas uma: ou não brinca em serviço, ou leva muito a sério a brincadeira. Até a hipótese de desvio de rios para secar as hidro-elétricas de Furnas é admitida. A mais espectacular acção de Itamar Franco contra a privatização de Furnas aconteceu em Outubro, quando o governador de Minas Gerais enviou 2 500 polícias-militares para, armados de fuzis e metralhadoras, fazerem exercícios bélicos nas margens do lago formado por uma das barragens de Furnas. Na altura, falou-se até em confronto entre as tropas da Polícia-Militar de Minas Gerais e o Exército. E Itamar Franco nada fez para acalmar as especulações. Bem pelo contrário, afirmou num discurso aos soldados, no "campo de batalha", que "ninguém aqui está fazendo manobras de brincadeira. Vamos usar balas de verdade". Hoje, Itamar Franco diz que o sentido da manobra era meramente simbólico, "para resgatar o sentido de brasilidade". Talvez menos simbólica - e mais concreta -, seja a ameaça de desviar os rios que abastecem as hidro-eléctricas de Furnas: "Se eu quiser desviar o curso de um rio, nem preciso da Polícia Militar: é só ir lá, de noite, com oito engenheiros", disse Itamar aos correspondentes estrangeiros. O governador de Minas - que substituiu Fernando Collor na Presidência do Brasil e foi, depois, mantido à distância por Fernando Henrique Cardoso como embaixador em Portugal e na Organização dos Estados Americanos - é, ele próprio, um engenheiro, e declarou: "Não sei dar tiro, mas desviar rios eu sei". Calcula-se que o desvio dos rios de Minas Gerais que abastecem Furnas, feito a um custo mínimo de 500 milhões de reais (270 milhões de dólares) reduziria em 30 por cento o potencial de produção da empresa. Mais do que isso, só a remota possibilidade de que isso venha a acontecer é capaz de reduzir consideravelmente o interesse dos potenciais compradores e, consequentemente, o preço a ser oferecido por cada uma das três empresas em que Furnas será dividida para a privatização. A tal ponto que, nos sonhos de Itamar Franco, o estado de Minas Gerais poderia vir a oferecer o lance vitorioso. Por trás da determinação do governador mineiro, que chega ao ponto de mudar a paisagem fluvial do estado que governa para impedir a privatização de Furnas, está com certeza a convicção de que a venda da estatal fere os interesses do país. Mas, além disso, é preciso não esquecer que Itamar Franco quer voltar, pelo voto, a sentar-se na cadeira que herdou de Collor.Hoje, filiado ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) - um partido que tanto nomeia ministros quanto faz oposição ao Governo que integra -, Itamar avisou que, se nos próximos meses o partido não se definir como oposição a Fernando Henrique Cardoso, abandona o PMDB. E - isso o governador já não diz, mas deixa mais do que implícito - apresenta-se como candidato a Presidente da República. A disposição com que se opõe à privatização de Furnas é parte da estratégia para se afirmar como candidato natural da esquerda nacionalista nas eleições presidenciais de 2002.