A real caçada de Avilez

Um sonho de Avilez vai cumprir-se: a encenação de "A Real Caçada ao Sol" de Peter Shaffer. Albee, Velho da Costa, Margulies, entre outros autores, fazem parte da programação do D. Maria II para os próximos seis meses. Um teatro que está em obras, mas cuja actividade artística, não pára, com a companhia a apresentar os seus espectáculos na Casa do Artista, no Fórum Picoas, no Trindade, em Lisboa, e no São João do Porto.

A peça "A Real Caçada ao Sol" de Peter Shaffer, o autor de "O Poder da Górgone", é uma das grandes apostas da programação do D. Maria II para o 1º semestre do ano 2000, ontem apresentada em Lisboa, uma aposta que vai ter a assinatura do director daquele teatro nacional, o encenador Carlos Avilez. Edward Albee, Maria Velho da Costa e Donald Margulies são outros dos nomes sonantes que fazem parte desta programação que não apresenta muitas novidades e que inclui também um projecto multimédia de José Júlio Lopes e Luís Carmelo, em co-produção com o Inatel/Teatro da Trindade.Com obras dentro de casa, no telhado e na plateia, durante os próximos sete meses, não restou outra alternativa aos responsáveis do D. Maria II do que encontrar alternativas. Carlos Avilez disse ontem em conferência de imprensa, em Lisboa, que não fazia nenhum sentido o D. Maria II abdicar da sua programação e parar: "Ou íamos em digressão durante as obras ou continuávamos com a programação, embora noutros espaços. Foi por esta última solução que optámos". O D. Maria II assinou protocolos com a Casa do Artista (Apoiarte), Fórum Picoas e está em negociação com o Tivoli para a representação das peças, sendo que com o Teatro S. João do Porto e com o Teatro da Trindade as relações não ofereceram quaisquer problemas.Os inconvenientes que o D. Maria II está a ter com as obras e a própria vida daquela casa que nos últimos tempos passou por conflitos internos com os trabalhadores, bem como alguma indefinição do Ministério da Cultura em relação à actividade teatral pública, levou, na opinião de Avilez, "apenas à alteração das datas dos espectáculos, mas não à estratégia do D. Maria II" de cuja programação ele é o responsável. Esta estratégia que foi, numa primeira fase da vigência Avilez, de "rentabilização dos espaços", passou numa segunda fase "à rentabilização da companhia".Na opinião de Avilez não é fácil apresentar um programa a pensar no final do milénio. "Esta programação vem de trás, é a possível, é boa e mantém o espírito das duas salas, a Garrett e a Estúdio", disse Avilez ao PÚBLICO. O director do D. Maria II sublinha que a programação foi aceite pelo ministro Carrilho, que só não esteve ali presente por compromissos com o Porto 2001, e que o orçamento do Teatro Nacional não sofrerá nenhuma oscilação, inclusivemente no que respeita ao corte dos 100 mil contos de mecenato por parte da Portugal Telecom: "O Ministério vai cobrir aquela quantia". O orçamento definitivo da companhia não foi divulgado, estando à espera da aprovação do Orçamento do Estado. "A Real Caçada ao Sol", uma das melhores peças de Peter Shaffer, marca o afastamento do autor do "realismo social" para uma incursão no "teatro total". É um texto com uma teatralidade espectacular que sabe integrar numa mesma peça o teatro épico na linha de Brecht com o teatro total na linha de Artaud: "Uma obra ritualista e didáctica, onde se combinam as palavras, os ritos, a mímica, as máscaras e a magia".Vai ser levada à cena no grande auditório da Casa do Artista, em Carnide, entre 15 de Junho e 30 de Julho, uma iniciativa e uma escolha que Avilez salienta "como da máxima importância", visto associar o Teatro Nacional a uma casa de gente do espectáculo. Para a mesma sala irá a peça "Equilíbrio Instável" de Edward Albee (ainda sem encenador definitivo), entre 17 de Março e 21 de Maio, um texto já clássico do autor que foi Prémio Pulitzer em 1967 e é "uma exploração obsessiva e confessional dos abismos individuais das relações humanas".O texto inédito de Maria Velho da Costa, "Madame", numa encenação de Ricardo Pais, será representado, entre 28 de Abril e 28 de Maio, no Teatro Nacional S. João do Porto, em colaboração com o Ministério da Cultura do Brasil. No palco estarão as actrizes Eunice Muñoz e Eva Wilma, nos papéis de Maria Eduarda, personagem de "Os Maias", de Eça de Queiroz, e Capitu de "Dom Casmurro", de Machado de Assis, que protagonizam "um encontro imaginário, no exílio a que ambas são votadas no final do romance".Para o Fórum Picoas, entre 27 de Março e 4 de Junho, irá a peça de Donald Margulis, "Conversas Secretas", numa encenação de Manuel Coelho. É um texto cheio de ironia inspirado na controvérsia entre o romancista David Leavitt e o poeta Stephan Spender que alegou que um romance de Leavitt teria copiado das suas memórias."Nefertiti", a peça de José Júlio Lopes e Luís Carmelo, um drama-musical que recria a história da infidelidade e o destino trágico de uma mulher, um projecto multimédia que envolve novas tecnologias para as artes de palco. A encenação é de José Júlio Lopes e vai estar em cena no Teatro da Trindade entre 28 de Janeiro e 19 de Fevereiro.

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