Escolas a postos para o "bug"

Professores, pais e alunos podem ficar descansados: não se prevêem problemas informáticos graves nas escolas do básico e do secundário devido ao tão anunciado "bug" do ano 2000. Um cenário diferente é o que se esboça nos Estados Unidos, onde o Governo já assumiu que o parque escolar não está preparado e muitos entrarão em "férias forçadas" no início de Janeiro.

Quando os ponteiros do relógio assinalarem as zero horas do dia 1 de Janeiro do ano 2000, estará tudo a postos nas escolas portuguesas. Esta é, pelo menos, a convicção do director do Departamento de Avaliação Prospectiva e Planeamento (DAPP) do Ministério da Educação (ME), António Fazendeiro, que garantiu ao PÚBLICO terem sido tomadas todas as precauções para atenuar os efeitos que o "bug" do ano 2000 poderá ter na organização dos estabelecimentos de ensino.Segundo António Fazendeiro, os últimos relatórios produzidos pela "task force" do ME para o ano 2000 indicam que "a situação está sob controlo". Ao longo do último ano e meio, técnicos do ministério levaram a cabo um extenso programa de visitas às escolas, com o objectivo de identificar "os eventuais problemas que possam vir a acontecer". Quase a fechar-se este ciclo de trabalho, o director do DAPP garante que "não haverá problemas de maior nos sistemas de administração das escolas". Paralelamente às visitas das equipas do ministério, o DAPP enviou a todos os estabelecimentos de ensino um documento (disponível na Internet, em www.dapp.min-edu.pt/welcome_ano_2000.htm), que aglutina algumas indicações - "não soluções mágicas" - para minorar os efeitos do "bug". A principal orientação difundida para as escolas diz respeito à necessidade de elaboração de um plano que permita colmatar "qualquer interrupção, erro ou falha" nos equipamentos que contêm microprocessadores - os chamados sistemas embebidos. De acordo com António Fazendeiro, a maioria das escolas elaborou esse plano e fez um levantamento dos equipamentos que poderão ser afectados. Sendo um dado adquirido que o "bug" informático poderá afectar de formas variadas a organização das escolas - para além dos equipamentos informáticos, há uma imensa variedade de equipamentos potencialmente atingidos, como centrais telefónicas, dispositivos de alarme e de detecção de incêndios ou mesmo as campainhas que debitam os toques de entrada e de saída - o DAPP aconselhou os estabelecimentos de ensino a testar os equipamentos, através de simulações do ano 2000.Na maior parte das escolas, foram feitos os referidos ensaios e tudo aponta para que o "bug" não produza efeitos nefastos. Até porque, assegura Fazendeiro, "os equipamentos não adequados já foram ou serão substituídos" por outros capazes de suportar os efeitos da mudança de ano. As acções desenvolvidas pelo ME destinaram-se sobretudo às escolas básicas e secundárias, já que no caso dos estabelecimentos de ensino superior os preparativos para a chegada do ano 2000 ficaram a cargo dos respectivos conselhos coordenadores - Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) e Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP).Até agora, é dos Estados Unidos que estão a chegar notícias de previsões menos serenas para o início do ano que vem. O Governo anunciou já que os trabalhos de preparação para prevenir eventuais falhas informáticas estão de tal maneira atrasados que perto de 40 por cento das escolas poderão ter umas "férias forçadas" a partir do dia 1 de Janeiro. Os números mais recentes, divulgados na semana passada pelo diário espanhol "El País", indicam que o "bug" ameaça deixar sem aulas centenas de milhares de alunos dos primeiros anos e também do secundário. Os sistemas de aquecimento e os de segurança - que incluem câmaras de vídeo e detectores de metais e assumem um papel vital num país que tanto teme actos de violência nas escolas - são a fonte de maior parte das preocupações. O processamento dos salários dos professores é outra delas.O Governo fez já um último apelo às escolas para que tentem resolver os problemas nas escassas semanas de que ainda dispõem. Mas mesmo que se cumpram as perspectivas mais optimistas e que a esmagadora maioria consiga fazê-lo, restarão sempre os cinco ou seis por cento que deram já como adquirido não conseguirem estar a postos. Só isto implica que 4250 estabelecimentos não abrirão as portas a 3 de Janeiro, dia de regresso das férias do Natal.Para o responsável pela operação de conversão informática, John Koskinen, as coisas correram mal porque os directores das escolas "trataram do 'efeito 2000' como se fosse um mero problema de 'software'". De cabeça perdida estão os pais dos alunos e os professores, que acreditaram nas garantias que lhes foram sendo dadas pelas autoridades e andavam convencidos de que o processo decorreria sem percalços.

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