A diva do violino
Anne-Sophie Mutter tinha 13 anos quando se estreou com a Filarmónica de Berlim, sob a batuta de Karajan, que a considerou "o maior prodígio musical depois do jovem Menuhin". Hoje, às 21h, apresenta-se no Coliseu de Lisboa com a Orquestra Sinfónica do Curtis Institute de Filadélfia, sob a batuta de André Previn.
O segundo concerto do ciclo Grandes Orquestras Mundiais reúne duas das figuras mais mediáticas do actual universo da música erudita - a violinista Anne-Sophie Mutter e André Previn, que dirigirá a Orquestra Sinfónica do Curtis Institute de Filadélfia, formada por músicos dos 14 aos 24 anos, ainda estudantes. O programa reparte-se entre Mozart e Penderecki (n. 1933). Do primeiro serão interpretadas a Sinfonia nº39 e o Concerto para Violino nº3, que Mutter gravou no início da sua carreira sob a batuta de Karajan. Do segundo o Concerto para Violino nº2, "Metamorphosen" (1995), uma das muitas obras contemporâneas inspiradas pela arte da violinista. Esta acompanhou de perto a sua concepção, solicitando ao compositor polaco uma página próxima da sua sensibilidade, que destacasse a componente "cantabile" do violino e explorasse um grande âmbito de cores tonais. Anne-Sophie Mutter tinha apenas 13 anos quando o seu talento foi descoberto por um dos grandes gigantes da direcção de orquestra deste século, Herbert von Karajan, que a convidou a actuar como solista com a Filarmónica de Berlim no Festival de Salzburgo. Como era de esperar, o virtuosismo desta menina, que Karajan considerou "o maior prodígio musical depois do jovem Menuhin", causou sensação. Foi o início de uma fulgurante carreira ligada aos seus excepcionais dotes musicais, mas também a uma forte imagem publicitária - a de uma sedutora figura feminina que insiste em manter o violino em contacto com os seus ombros nus, para melhor sentir as vibrações da música.Nascida em Rheinfelden (Alemanha), Anne-Sophie Mutter começou a estudar piano aos cinco anos, mas em breve se decidiu pelo violino que trabalhou com Erna Honigberger e Aïda Stucki, ambas alunas de Carl Flesch. A sua carreira foi-se orientando em torno de um extenso repertório que se estende do barroco (As Quatro Estações, de Vivaldi, foram um dos seus primeiros sucessos) à música contemporânea, quer como solista, quer inserida em agrupamentos de câmara. No seio desse ecletismo, a música do século XX é uma das suas grandes apostas, tocando em primeira audição obras de Lutoslawski, Wolfgang Rihm, Pierre Boulez, Norbert Moret, Sebastian Currier, Sofia Gubaidulina e Krzystof Penderecki. Estas podem ser apreciadas num amplo conjunto de gravações para a Deutche Grammophon.O ano de 1998 foi dedicado a um dos projectos mais ambiciosos do seu percurso artístico, gravando ao vivo a integral das sonatas para violino de Beethoven com o pianista Lambert Orkis, mas no ano 2000 Anne-Sophie Mutter promete regressar à música mais recente, com um festival dedicado à literatura para violino do século XX, que será inaugurado no Carnegie Hall de Nova Iorque.Nesta sua passagem por Portugal, a violinista vem acompanhada por outra figura bem conhecida do grande público - André Previn. Maestro, pianista, compositor, escritor e autor de programas de televisão, a sua actividade artística reúne pólos tão diversos como a música erudita, o jazz e a música para cinema. Nascido em Berlim, em 1929, emigrou para os Estados Unidos poucos antes da 2ª Guerra Mundial, onde iniciou uma carreira como pianista de jazz e como orquestrador de bandas sonoras para Hollywood, que lhe valeram quatro Óscares.Aluno do grande maestro Pierre Monteaux, afirmou-se igualmente no repertório erudito à frente de algumas prestigiadas orquestras mundiais. Sucedeu a Barbirolli na Sinfónica de Houston e foi maestro principal da Sinfónica de Londres, da Sinfónica de Pittsburgh, da Filarmónica de Los Angeles e da Royal Philharmonic Orchestra, com a qual realizou duas séries televisivas de grande sucesso, na esteira de Leonard Bernstein. Em Londres teve um papel determinante na promoção da música inglesa, gravando as sinfonias de Vaughan Williams e William Walton.Paralelamente cultivou sempre a música de câmara, ao lado de Emanuel Ax, Yo-Yo Ma, Viktoria Mullova ou Gil Shaham, entre outros, e também do lendário contrabaixista de jazz Ray Brown, elemento do André Previn Jazz Trio. No campo da composição destacam-se, entre outras obras, um concerto para piano encomendado por Vladimir Ashkenazy, uma sonata para violoncelo para Yo-Yo Ma, um ciclo de canções para Janet Baker e outro para Kathleen Battle, e a ópera "Um eléctrico chamado desejo", baseada na peça de Tennessee Williams.