Russos isolam a Tchetchénia
O objectivo declarado é impedir a circulação de terroristas tchetchenos, mas ao fecharem as fronteiras com a Inguchétia as autoridades russas estão também a impedir a saída de mais refugiados. Ninguém sai, ninguém entra. Os bombardeamentos continuam.
As forças russas continuaram ontem a bombardear a Tchetchénia e decidiram fechar a fronteira com a Inguchétia, numa altura em que a pressão internacional sob Moscovo aumentou de tom, após o bombardeamento de quinta-feira que, segundo fontes tchetchenas, provocou 137 mortos em Grozni.O Exército russo, apoiado por tanques blindados, fechou a fronteira entre a Tchetchénia e a Inguchétia (Cáucaso do Norte), que até agora estava sob administração local, isolando a república independentista do resto da federação russa. Quando a noite começou a cair, os refugiados que continuavam à espera dentro dos seus carros por uma autorização para poderem atravessar a fronteira recebiam mais uma vez a resposta dos soldados russos: ninguém sai, ninguém entra, estas são as ordensEsta medida insere-se no quadro de uma ordem geral da fechar todas as fronteiras tchetchenas para evitar a entrada de "terroristas" naquele república independentista, segundo explicaram à AFP militares russos estacionados na fronteira, perto de Sleptsovsk.Dezenas de milhares de refugiados fugiram da Tchetchénia desde o início dos bombardeamentos russos no dia 5 de Setembro e o fluxo aumentou ainda mais nos últimos dias. A vizinha Inguchétia (350 mil habitantes) acolhe actualmente um número de refugiados que representa metade da sua população, em condições consideradas "catastróficas" pelo seu Presidente Ruslan Auchev.Ontem, um jornalista da AFP viu dois aviões russos do tipo Sukhoi-25 dispararem várias vezes contra o aeroporto de Grozni e segundo a presidência tchetchena, dois mísseis terra-terra foram disparados contra as vias de acesso a Grozni a partir do vizinho Daguestão. A mesma fonte noticiou a morte de uma dezena de pessoas num desses bombardeamentos.Em Grozni, onde era audíveis tiros de artilharia a partir do centro da cidade, a situação manteve a calma que se seguiu aos bombardeamentos, na quinta-feira, que atingiram o mercado central da cidade. Contra todas as evidências, Moscovo disse que essas explosões tinham sido resultado de confrontos entre "grupos de bandidos" tchetchenos.Este bombardeamento, que causou a morte de dezenas de civis, provocou a reacção indignada de vários países e de alguns meios de comunicação russos, que até agora tinham mantido a ilusão de uma guerra "limpa". "Preço do erro: 140 mortos", dizia a manchete do jornal Izvestia, depois da televisão privada NTV ter mostrado as imagens do mercado de Grozni devastado. O chanceler alemão Gerhard Schroeder falou de "massacre" em Grozni e disse estar "consternado pelo grande número de pessoas inocentes que perderam a vida nesse ataque". Nos Estados Unidos, o número dois do Departamento de Estado, Strobe Talbott, afirmou que a crise no Cáucaso do Norte "agravou-se claramente, em particular com a violência chocante de quinta-feira em Grozni". Por seu lado, a secretária de Estado Madeleine Albright condenou "uma acção deplorável e de mau agoiro".As autoridades russas reagiram de imediato, com o general russo Valeri Manilov a explicar que Talbott "enganou-se sobre a origem das violências" e o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Igor Ivanov, a reafirmar que Moscovo está empenhado em explorar a via do diálogo e que as conversações com os rebeldes tchetchenos "podiam começar ainda hoje". Isto se as autoridades de Grozni aceitarem dialogar com base nos princípios defendidos por Moscovo: o respeito da constituição, da integridade territorial, dos direitos humanos e a criação de condições para o regresso das populações refugiadas.Na capital russa, o ministro do Interior, Vladimir Ruchailo, foi à televisão dizer que teme novos actos terroristas na Rússia, indicando que "Moscovo e São Petersburgo estão em primeiro lugar na lista dos planos dos terroristas". "Os bandidos querem semear o medo e o pânico e com isso fazem pressão junto dos dirigentes russos para que eles aceitem as suas condições", continuou Ruchailo, acrescentando que os chefes de guerra tchetchenos "Bassaiev e Khattab ameaçam abertamente com actos de sabotagem nas instalações nucleares e energéticas".