Electrónica do terceiro sexo
Veste-se e maquilha-se como uma mulher e assume-se como "queer". Esquisito, diferente, indefinido. Subvertor das políticas e estéticas da sexualidade, o compositor de música electrónica Terre Thaemliz difunde na sua obra valores onde a ambiguidade constitui um permanente desafio. Com ele tem hoje início o ciclo de novas músicas Reset!, no âmbito do Festival Atlântico.
Para este músico norte-americano, que gravou versões para piano da pop sintética dos Tubeway Army e dos Kraftwerk, a ambiguidade é a arma com que desafia os géneros musicais e sexuais propagandeados pela cultura dominante. Assumindo-se como "queer" - o que, segundo diz, não é bem a mesma coisa que "gay" -, Terre Thaemlitz explicou ao PÚBLICO as suas teorias. Que apresentará esta noite, pelas 22h30, ao público português, no edifício de "A Capital", ao Bairro Alto, em Lisboa, no concerto de abertura do festival Reset!. Um programa que também inclui os alemães Monolake e os austríacos Radian.TERRE THAEMLITZ - Considero-me homossexual, "queer", pansexual. Acho importante definir a minha sexualidade de uma forma mais complexa do que pela simples divisão entre "gay" e "normal". Evito igualmente o termo "bissexual", na medida em que também se limita à dualidade hetero e homossexualidade. Evidentemente, o facto de abordar na minha música assuntos "gay" é intencional. A música é um meio de comunicação, daí tentar dar-lhe um conteúdo explícito. Sem este conteúdo, ouvir música é como escutar um bêbedo numa festa. Uma perda de tempo que acaba por ser no fundo uma capitulação perante os valores defendidos pela indústria. Nas minhas edições procuro, precisamente, desafiar as regras do mercado. A música electrónica, enquanto categoria relativamente marginal (em particular nos EUA) é uma boa metáfora para a tentativa de dar voz a temáticas historicamente minoritárias como a homossexualidade e, em geral, as políticas acerca da identidade.