Entre no ano 2000 com medo: "Blair Witch Project"
Inicia-se o contra-relógio para a descoberta nacional de um dos mais bizarros e bem sucedidos fenómenos de culto de todos os tempos: "Blair Witch Project" estreia-se a 31 de Dezembro. Tenha muito medo!
O grande fenómeno deste Verão nos Estados Unidos, o filme de terror "Blair Witch Project", tem estreia marcada nas salas portuguesas para o último dia de 1999. A Lusomundo, que adquiriu os direitos do filme para Portugal, apresentará o filme em cerca de 40 salas a partir da meia-noite de 30 para 31 de Dezembro. Numa altura em que no mercado dos EUA surgem em vídeo e DVD o filme e o pseudo-documentário sobre o filme, "Curse of the Blair Witch", inicia-se assim o contra-relógio para a descoberta nacional de um dos mais bizarros e bem sucedidos fenómenos de culto de todos os tempos.Num ano que se esperava monopolizado pelo episódio 1 de "Star Wars", "A Ameaça Fantasma", o filme dos jovens Ed Sanchez e Daniel Myrick acabou por impor um duro golpe aos projectos de grande orçamento. Dos vários filmes de terror, que este Verão estiveram em moda, "Blair Witch Project" só foi ultrapassado por outra produção independente, "The Sixth Sense", com Bruce Willis (242 milhões de dólares, o segundo maior sucesso comercial deste ano nos EUA, logo depois de "A Ameaça Fantasma"). "Blair Witch Project" é a história de um grupo de três estudantes que desaparece na floresta de Black Hills, no Maryland, deixando apenas uma série de filmes em 16 mm, gravações em vídeo e em suporte de som DAT. Alegadamente, o filme resultou da montagem desses despojos. Os estudantes preparavam uma reportagem sobre uma lenda com dois séculos, na cidade de Burkittsville, quando ainda se chamava Blair, e sobre os crimes de uma bruxa e os diversos horrores e acidentes paranormais que se sucederam ao seu desaparecimento.A produção de "Blair Witch Project", uma narrativa falsamente baseada em factos reais, foi concluída por uns anedóticos seis mil contos e tornou-se um fenómeno de especulação na internet, onde a informação foi surgindo a conta gotas e de forma lacunar, fomentando um mistério que deixou o público tão assustado com o campismo e os perigos da floresta como nos anos 70 tinha ficado com o mar, depois de ver "Tubarão", filmado por Steven Spielberg nas praias de Cape Cod.Após um sucesso espectacular no circuito independente, "Blair Witch Project" é já o 86º filme mais lucrativo da indústria americana de todos os tempos, tendo feito 140 milhões de dólares nas bilheteiras. E bateu um recorde que parece, mesmo para a imaginação mais delirante, inultrapassável: é o filme que mais vezes multiplicou em lucros os seus custos de produção.George Lucas, um dos mais poderosos homens do cinema americano, responsável pelo conceito de "blockbuster" e do filme mais popular deste ano, "A Ameaça Fantasma" (o primeiro episódio da série "Star Wars"), não se deixou atemorizar pela competição e celebrou o fim da indústria institucionalizada americana no jornal francês "Libération": "A tendência é abandonar Hollywood, para manter a criatividade, a liberdade e a independência. O cinema independente é hoje muito poderoso. 25 por cento dos filmes actuais são feitos à revelia do sistema. Reparem na aventura de 'Blair Witch Project'. O ano de 1999 ficará marcado pelo duplo fenómeno 'Blair Witch' e 'A Ameaça Fantasma', ambos digitais, ambos independentes e ambos campeões do box-office". Salvaguardadas as devidas distâncias, os dois filmes são de facto "blockbusters" e accionaram uma série de produtos paralelos que alimentam o seu crescimento. A diferença é que o filme de Lucas foi planeado para nada falhar, enquanto Sanchez e Myrick já se deram por contentes quando o seu filme foi adquirido por uma pequena distribuidora independente. O que aconteceu, depois, ultrapassou a mais descabelada das expectativas. Como afirmou Sanchez, quando o filme foi adquirido pela Artisan: "Estávamos à espera de um acordo com um canal de cabo. Quando nos disseram que o filme seria estreado nas salas, começámos a pensar, 'se fizermos 10 mil dólares é como um sonho tornado realidade'. Mas fazer logo 29 milhões numa semana estava para além da nossa compreensão".Para além disso, por oposição à obsessiva necessidade de controlar tudo que é característica de Lucas, Sanchez e Myrick limitaram-se a dar pequenas indicações aos seus jovens actores e deixaram-nos trabalhar sozinhos, filmando-se uns aos outros. O filme construiu-se, assim, de forma acidental, com os actores a sofrerem partidas dos realizadores, e a terem de se desenvencilhar sozinhos na floresta durante uma semana. Voltando a Portugal, a Lusomundo, na sua estratégia de promoção do filme, irá procurar desenvolver um fenómeno de progressivo interesse por este objecto, começando por um mistério a que se irão seguindo novos pormenores. Mas será difícil repetir, como nos EUA, o suspense por uma história que se chegou a temer ser verdadeira. Sabe-se, entretanto, que também a banda sonora do filme será lançada pela distribuidora Edel (o filme não tem, na verdade, música e o dispositivo a que se chegou para comercializar uma banda sonora foi alegar que uma das personagens desaparecidas tinha deixado, juntamente com as filmagens, uma cassete com temas gravados), assim como será transmitido na televisão o pseudo-documentário "Curse of The Blair Witch".Sanchez e Myrick preparam agora o seu novo filme, uma comédia intitulada "Heart of Love", que conceberam como uma paródia lunática, tendo como referência os "Monty Python" e a série "Aeroplano". "Será o filme mais idiota que alguma vez alguém irá ver", garantiram. Por seu lado, não querem pensar agora numa carreira de grande sucesso: "Sabemos que vamos explodir", afiançou Sanchez: "Vamos viver com essa bomba, vamos acarinhá-la e depois assistir à sua explosão".Entretanto, continuam a ser acrescentados pormenores à história de "Blair Witch" na internet. Os interessados poderão aceder, entre outros sítios à escolha, à morada www.blairwitch.com (site oficial).