A América em 100 desenhos
Após 10 anos de permanência nos Estados Unidos, Jorge Colombo regressa a Portugal para mostrar uma parte do seu infindável trabalho como ilustrador. É uma mão cheia de desenhos através dos quais o artista nos propõe o seu muito pessoal olhar sobre a América e os seus ícones. Para ver a partir de hoje na Bedeteca de Lisboa.
Fullerton é um pássaro? Um avião? Não, é apenas o nome de uma rua de Chicago que Jorge Colombo escolheu para titular uma exposição de desenhos seus que hoje é inaugurada na Bedeteca de Lisboa. O autor, a viver nos Estados Unidos há 10 anos, passou a maior parte desse tempo naquela cidade, mas nunca viveu na rua Fullerton. Nem tem dela qualquer memória ou vivência especiais. Porquê, então, agrupar quase uma centena de desenhos sobre a América atrás dessa designação tão enigmática? A resposta de Colombo é simples: era preciso dar um nome à exposição...São curtas as suas visitas a Portugal, onde esteve quatro ou cinco vezes no espaço de uma década. Jorge Colombo explica que isso se deve, sobretudo, a uma questão de escolha: "Entre visitar um lugar que conheço e outro onde nunca tenha estado, prefiro este último". Desta vez, abriu uma excepção, mas a razão é de peso, já que a sua presença está associada à revelação aos lisboetas - a partir de amanhã para o público em geral, no horário de terça-feira a sábado, das 10 às 19 horas - de uma visão "muito parcial e pessoal da minha América através de retratos suburbanos e humanos". Daí que assumam particular relevo e dimensão pormenores "que se tornam distintos e identificam um lugar, um objecto ou uma pessoa". Há os cabos eléctricos de S. Francisco, os depósitos de água no telhado dos edifícios, as barracas de cachorros-quentes na esquina das cidades, e um sem número de outros lugares, objectos e habitantes que acabam por ganhar uma espessura na geografia e na atenção do artista. Ícones de um país e de um continente? "Talvez", responde Jorge Colombo, que se apressa a acrescentar: "Mas não penso demasiado nisso".A maioria dos trabalhos expostos não nascem de encomendas, quer os "patrões" tenham nomes tão prestigiados ou populares como "Pulse!", "The Village Voice", "Playboy" ou "The New Yorker", para citar os nomes de algumas publicações a quem o artista tem estado, de forma mais ou menos estreita, ligado. Também os há, claro, e Colombo não os olha como filhos menores de um labor criativo. No entanto, o que lhe interessou sobretudo trazer a Lisboa foi um conjunto de obras que, admite, lhe "apeteceu" fazer ao longo dos anos, escolhidas de entre a multiplicidade de trabalhos que foi produzindo nos Estados Unidos. Sete anos em Chicago, dois em S. Francisco e desde há um ano em Nova Iorque constituem a fonte (inesgotável?) de inspiração com a qual o artista tem contado para ganhar a vida. "Vivo do grafismo e da ilustração, apesar de ser possível viver em Nova Iorque apenas de uma dessas actividades", explica. No princípio, começou "por ir a todas", o que tem o inconveniente da dispersão e da impossibilidade de "fazer alguma coisa a tempo inteiro". Mas para quem gosta das duas áreas, a escolha torna-se difícil. Até porque, equaciona com muito realismo, "quem é que diz que não num mercado tão competitivo como o dos Estados Unidos?". Seja como for, a ilustração seria a sua escolha se a ela se visse obrigado. Mais uma vez, a explicação é simples: "Vai-se sempre para aquilo que se gosta de fazer". E o que ele gosta de fazer são, até ver, os retratos dos ambientes urbanos da América, um "lugar espantoso onde se entrechocam a revolução industrial, o Terceiro Mundo e o século XXI".De fora, fica a banda desenhada, onde Jorge Colombo tem feito apenas curtas e breves incursões ao longo destes anos. Esse universo constitui, nos Estados Unidos, um pequeno nicho de mercado que nada tem a ver com a dimensão do sector na Europa, por exemplo. E que, por isso mesmo, nem seria difícil de atingir por um criador com o seu talento. Mas Colombo não esconde que esse terreno não lhe interessa. Os apreciadores de quadradinhos talvez tenham alguma dificuldade de aceitar esta escolha mas podem sempre ficar, à laia de consolação, com a fruição dos excelentes desenhos de "Fullerton", construídos a partir da memória e das notas pessoais do artista, e depois belissimamente aguarelados.