"Não se quer acabar com o Acarte"
Acaba o seu mandato para o ano mas quer deixar a casa arrumada. Com uma lógica: maximizar todos os serviços porque é responsável. Pedro Tamen está confiante: "Pela primeira vez, sob a mesma estrutura, vai ser possível aquilo que nunca se conseguiu: a concatenação do Acarte com a programação do Centro de Arte Moderna." Com outra lógica, muito mais audaz: acabar com um certo espírito de capela que existe na Gulbenkian.
Pedro Tamen, administrador da Fundação Calouste Gulbenkian, recusa a ideia de que a fusão do Serviço de Animação, Criação Artística e Educação pela Arte (Acarte) com o Centro de Arte Moderna (CAM) signifique a morte do primeiro: "Se alguém tem essa ideia na cabeça é melhor que a tire! Não se quer acabar com o Acarte." O administrador, a um ano de terminar o seu mandato - "vou fazer 65 anos, quero escrever, fazer traduções, respirar o que se faz lá fora" confessa -, diz que as últimas mexidas são o espelho de uma arrumação dos serviços de que é responsável. "Quer-se que o Acarte seja cada vez melhor. Que encontre a sua dimensão sem tentar ser uma Fundação B! Que se vire para a programação do CAM e a complete."À frente do CAM, como até aqui, estará Jorge Molder, mas com mais poderes. Yvette Centeno, responsável desde 1994 pelo Acarte, sai e já foi nomeado para director do Acarte Mário Carneiro - um dos responsáveis do espectáculo Acquamatrix, na Expo-98, e há oito anos a trabalhar para a área do teatro no Serviço de Belas-Artes. PÚBLICO - Qual foi o argumento que mais pesou para fundir o Acarte com CAM? O facto de, entretanto, terem aparecido outras alternativas - Culturgest, Centro Cultural de Belém - com propostas e programações para um público que era fiel ao Acarte?PEDRO TAMEN - É verdade. A paisagem cultural lisboeta mudou, diversificou-se. Hoje, o Acarte tem que partilhar públicos que, na altura da sua criação, não tinha que partilhar. Nem sequer existiam. Deixou de ter as ambições que tinha inicialmente. No início sobrepôs-se mesmo à própria sede, coisa que não aconteceu durante a gestão de Yvette Centeno. Depois, não pode ser esquecida a formação de novos públicos, dando-lhes a ver coisas novas, inesperadas, e ao mesmo tempo formativas de novos gostos, mas também formação de novos criadores, dando-lhes a possibilidade de experimentar coisas no espaço do Acarte que, noutros lugares, não tinham hipóteses de fazer. Há, deste ponto de vista, outra mudança no Acarte: vai ter menos produção própria e vai acolher mais produções alheias. Coisas de ponta. Há coisas que o Acarte tem feito que não farão parte do futuro programa.