Uma casa para Stanley Ho
A Fundação Stanley Ho já tem uma sede prometida no concelho de Cascais. Trata-se da Casa Verdades de Faria, que hoje alberga o Museu da Música Portuguesa. A ideia partiu de Judas, que vê no magnata do jogo uma espécie de novo Gulbenkian a quem é preciso "agarrar".
O presidente da Câmara de Cascais, José Luís Judas, quer ceder a Casa Verdades de Faria à Fundação Stanley Ho para que esta ali instale a sua sede. A proposta foi ontem confirmada ao PÚBLICO pelo autarca, que a justificou pela necessidade de proporcionar uma "casa digna" à fundação que deverá gerir a fortuna do magnata do jogo após a sua morte.A ideia de Judas terá ainda de ser submetida à aprovação da câmara, mas o autarca decidiu não avançar com a proposta enquanto não tiver nas mãos o projecto que diz ter solicitado a Carlos Monjardino, vice-presidente da Fundação Stanley Ho e seu companheiro de lista nas eleições autárquicas de 1994.Segundo Judas, a instalação da fundação na casa do Monte Estoril onde actualmente funciona o Museu da Música Portuguesa irá mexer com outras estruturas do município. Mais concretamente, adianta, o que tem vindo a combinar com Monjardino é que a fundação se comprometa não só a recuperar e a manter o edifício construído em 1918 por Raul Lino, como também a pagar uma espécie de "casa da música" que teria como sede o actual Museu do Mar, em Cascais, o qual por sua vez seria transferido para junto da lota.Monjardino não vai tão longe. Em declarações ao PÚBLICO, referiu que Judas avançara de facto com a Casa Verdades de Faria, mas também com o Museu do Mar como hipóteses para sede da fundação. Que esta ficará obrigada a recuperar e a manter o edifício que lhe vier a ser cedido. E, finalmente, que a sua instalação "não implicará desalojar os serviços lá existentes", se a câmara entender que eles estão bem onde se encontram. Acontece, no entanto, que Judas e alguns dos seus vereadores vêem o actual Museu da Música Portuguesa como um "problema". A câmara herdou a casa por doação do financeiro Mantero Belard com a condição de esta ser transformada num museu, como também herdou os espólios de Michel Giacometti e de Fernando Lopes-Graça, que dão corpo à colecção existente no Monte Estoril. Só que considera, como foi ontem reafirmado por Judas, que a Casa Verdades de Faria não tem "condições museológicas". Aparentemente, a solução passará agora por Stanley Ho, a quem, segundo Judas, deverá competir o encargo da transferência dos espólios guardados na Casa Verdades de Faria e da adaptação do Museu do Mar às suas eventuais novas funções.Na semana passada, conforme o PÚBLICO noticiou, a Câmara de Cascais aprovou uma declaração em que considerava "útil a actividade desenvolvida pela Fundação Stanley Ho". O documento constitui uma peça chave no processo de requerimento da declaração de utilidade pública que a nova fundação pretende conseguir do Governo e que lhe garantirá, por lei, uma série de isenções fiscais. Constituída em Fevereiro passado, a fundação - que conta com um património inicial de cinco milhões de patacas (cerca de 120 mil contos) - ainda não iniciou, contudo, qualquer actividade. Judas justifica, afirmando que a declaração da câmara foi uma "decisão política" que teve como objectivo "agarrar" o magnata do jogo. Monjardino insiste, por seu lado, que "devíamos era estar agradecidos" por Stanley Ho ter escolhido Portugal. O magnata, que é o patrão do Casino Estoril, vinha já há anos a mostrar interesse em criar uma fundação em Portugal, o que acabou por concretizar a poucos meses da transferência de Macau para a China. Nos estatutos da fundação afirma-se que esta tem "por objectivo a realização de acções de carácter social, cultural, educativo e filantrópico". Monjardino adianta que haverá acções da fundação com ou sem utilidade pública, mas que na ausência da tal declaração e das consequentes isenções fiscais esta trabalhará num "quadro mais limitado".Há o problema dos cinco anos de actividade, o mínimo exigido por lei para ser considerada a utilidade pública. Mas a lei prevê também "circunstâncias excepcionais" para não se cumprir aquele prazo. E, segundo Monjardino, o que a fundação se propõe fazer, por exemplo, no bairro degradado da Torre, com a construção de uma escola de artes e ofícios, poderá ser evocado para cair sob a alçada dos casos excepcionais. Entretanto, e apenas para efeitos de registo, a fundação aparece como tendo sede na casa que Stanley Ho adquiriu em Cascais.