ONU atrás do "mundo opaco" da UNITA
As Nações Unidas estão a reunir mais informações sobre o comércio de diamantes, petróleo e armas da UNITA, de forma a apertar as sanções internacionais contra o movimento de Jonas Savimbi. "Não são os países africanos que estão a comprar diamantes e a vender aqueles tanques", afirmou ontem em Londres Robert Fowler, presidente do Comité de Sanções do Conselho de Segurança da ONU para Angola.Robert Fowler iniciou em Londres uma viagem a vários países (Portugal está fora da agenda), continuando na Europa a missão anterior em sete países africanos, realizada por Fowler em Maio."Estou a pedir aos governos para revelar ao Comité todas as informações relevantes relacionadas com a efectivação das sanções", explicou Fowler. "O nosso objectivo é explicitamente limitar a capacidade do movimento rebelde para continuar a guerra" civil.Fowler acrescentou que o Comité não espera que os governos revelem tudo o que sabem na matéria e que, em muitos casos, não lhe interessará aprofundar a fonte exacta das informações ou a forma como foram obtidas. O que interessa a Fowler é conhecer melhor o que ele designou como o mundo opaco do comércio diamantífero da UNITA e das suas aquisições de armas e combustível.Os diamantes são a principal fonte de financiamento do esforço de guerra da UNITA e o Comité de Sanções calcula que a extracção e colocação ilegal no mercado mundial rendeu ao movimento 200 milhões de dólares em 1998. O Comité tenciona actuar nos próximos meses contra o movimento de Savimbi, tanto mais que a descoberta de novos quimberlitos ("chaminés" de diamantes no subsolo) em áreas da UNITA permitiram ao Galo Negro renovar e aumentar os seus recursos.O Conselho de Segurança impôs sucessivas sanções contra a UNITA desde 1993 e já este ano. Contudo, o último relatório sobre a aplicação da longa lista de restrições, elaborado por Fowler e apresentado em Nova Iorque o mês passado, confirma que o embargo é largamente ineficaz."As violações flagrantes do embargo à UNITA, nomeadamente na venda de diamantes, são um escândalo que as Nações Unidas estão a procurar emendar", afirmou ao PÚBLICO Charmian Gooch, da organização não-governamental britânica Global Witness (GW). "Sabendo o que se está a passar em Angola, a ONU, que não fez o que podia anteriormente para que as sanções fossem respeitadas, sente que é em parte culpada pelo regresso à guerra". A "terceira guerra civil" começou no final de 1998; as Nações Unidas retiraram-se oficialmente do país em Março passado.No relatório "Um Negócio Bruto", publicado em Dezembro, no termo de investigações paralelas conduzidas pela GW e pelo PÚBLICO, a organização britânica concluiu que a violação do embargo total é possível graças à conivência ou inércia de vários países e da indústria diamantífera mundial liderada pelo grupo De Beers. "O não cumprimento total do embargo por parte dos Estados-membros da ONU e da indústria dos diamantes permitiu que a UNITA se restabelecesse de munições e mantimentos, minando fatalmente o processo de paz".Em Londres, Robert Fowler encontrou-se com responsáveis do CSO (Departamento Central de Vendas) da De Beers. A nível mundial, o cartel anglo-sul-africano De Beers classifica, avalia e vende cerca de 80 por cento da produção total de diamantes. Em Maio, Fowler dedicou bastante atenção ao grupo, reunindo com os mais altos responsáveis da De Beers na Grã-Bretanha, África do Sul, Angola e República Democrática do Congo. Fowler passará hoje por Argel para participar no encontro preparatório da cimeira da Organização de Unidade Africana, onde o Governo angolano vai pedir a todos os países do continente para colaborarem na aplicação das sanções contra a UNITA. O Conselho de Segurança, e a Comissão de Sanções em particular, acreditam numa equação simples: é preciso cortar o financiamento da UNITA para não haver guerra em Angola e é preciso parar a guerra em Angola para evitar uma guerra em toda a África Central."Faremos o nosso melhor para identificar e cortar as fontes de abastecimento de Savimbi", disse Robert Fowler. "É impossível impedir que um pequeno saco de diamantes encontre mercado. Mas talvez possamos tornar mais caro para Savimbi vendê-los e desse modo reduzir as suas receitas, reduzindo portanto as suas compras de armamento".Antuérpia (Bélgica), um dos grandes centros do comércio de diamantes, e Kiev (Ucrânia), plataforma do tráfico de armas, são duas etapas importantes da missão de Fowler. A Comissão de Sanções pretende investigar junto das autoridades ucranianas a veracidade de provas "anedóticas" de que a UNITA está a abastecer-se de armas no Leste da Europa. O relatório final de Fowler será posteriormente analisado por dois painés de especialistas, cuja nomeação tem sido rodeada de grande secretismo.As tropas de Jonas Savimbi, usando artilharia de longo alcance, voltaram no início da semana a bombardear a cidade de Malanje, causando oito mortos e vários feridos. O ataque, domingo e segunda-feira, foi dirigido contra os bairros periféricos de Catepa, Mucaza e Canambua, interrompeu uma semana de interregno nos bombardeamentos contra a capital da província.