Serra de Montejunto classificada paisagem protegida
O Ministério do Ambiente aprovou a classificação da serra de Montejunto como Área Protegida de Âmbito Regional, sete anos depois da candidatura apresentada pelos municípios de Cadaval e Alenquer. Para autarcas e amigos da natureza o momento é de regozijo.
A serra de Montejunto e a albufeira do Azibo, em Macedo de Cavaleiros, tornaram-se nas primeiras áreas protegidas de âmbito regional do país, cuja gestão terá a participação dos municípios onde estão integradas. Trata-se de uma experiência pioneira, porque até aqui os câmaras não estavam envolvidas na gestão das áreas naturais. Para Valentim Matias, presidente da Câmara do Cadaval, este novo estatuto já era esperado há uma década, sendo fruto do trabalho e da luta de várias entidades da região. "Será agora possível uma intervenção mais integrada, bem como a obtenção de financiamentos próprios e o envolvimento de técnicos especializados na protecção e valorização daquele património natural", afirmou o autarca. Também as associações ambientalistas se associam às autarquias, regozijando-se com esta decisão, que consideram histórica, no âmbito de defesa do ambiente a nível regional. O Espéleo Clube de Torres Vedras, ECTV, considera compensador o trabalho desenvolvido na defesa do património de Montejunto, sobretudo na educação ambiental, onde foram mobilizados muitos milhares de jovens nas diversas actividades pioneiras realizadas ao longo dos anos. "Temos a convicção que este contributo muito facilitará a futura gestão desta área natural, uma vez que já foram lançadas sementes à terra na preparação das novas gerações", afirmou Daniel Abreu, dirigente do ECTV. Com os seus 666 metros altura, a serra de Montejunto é considerada uma autêntica "ilha" natural na região Oeste. O seu revestimento é essencialmente constituído por castanheiros, sobreiros, carvalhos e mais de duas dezenas de outras espécies vegetais. Ao longo dos últimos anos foram observadas mais de centena e meia de espécies animais, entre mamíferos, aves, anfíbios e répteis, a sua maioria ameaçados de extinção pela caça e a constante degradação do seu "habitat" natural. Incêndios, desertificação, poluição e eucaliptização são outros dos inimigos da serra, que de ano para ano viu degradar o seu ecossistema. Com a criação de uma área protegida, toda a actividade humana fica, desde já, altamente condicionada. A exploração cinegética, agrícola, florestal e pecuária, bem como a execução de obras e infra-estruturas, ficam dependentes do parecer do órgão gestor da área protegida. Estão também interditas todas as actividades que alterem a morfologia do solo, as descargas de poluentes e o abate ou captura das espécies animais e vegetais. As visitas a grutas, escaladas e passeios pedestres ou motorizados, bem como a recolha de amostras geológicas ou biológicas, irão também sofrer um controlo mais apertado. Até a instalação de painéis publicitários terá uma forte vigilância. A primeira consequência prática da lei agora aprovada será a criação de uma comissão directiva composta por um representante de cada uma das duas autarquias da área de influência e um terceiro elemento do Instituto de Conservação da Natureza (ICN), que desenvolverão todo o processo de instalação e gestão da área protegida, tendo um mandato de três anos. O seu primeiro trabalho será a elaboração de um plano de ordenamento para a zona Existirá ainda um conselho consultivo, que supervisionará a actividade do órgão de gestão, reunindo representantes de entidades de âmbito nacional e local, ligadas ao património, ambiente e ordenamento, bem como estabelecimentos de ensino superior e organizações não governamentais. Metade dos investimentos e das despesas de funcionamento será assumida pelo poder central, através do ICN, e a outra metade dividida pelas duas autarquias. Este novo diploma não inviabiliza a continuação dos projectos em curso em Montejunto, estando prevista para este ano a finalização da construção de um parque de campismo para cerca de 30 tendas, um centro de educação ambiental e outras estruturas de apoio, num investimento que ronda os 70 mil contos. Este programa contempla ainda a impermeabilização da lagoa natural junto ao quartel da Força Aérea, de forma a permitir o abastecimento de água aos rebanhos e fauna nativa, durante todo o ano. Continuarão também as obras de restauro e valorização da Real Fábrica de Gelo do século XVII, classificada há cerca de dois anos como monumento nacional. Valentim Matias está optimista quanto ao desenvolvimento de projectos de valorização e promoção ambiental e patrimonial, contando igualmente com a ajuda dos fundos comunitários. O autarca acredita que o investimento valerá a pena. "A protecção da serra representa uma mais-valia para o concelho do Cadaval que, embora não traga ganhos financeiros, é decerto um investimento compensador", afirmou. Daniel Abreu alertou para a necessidade de um maior envolvimento das escolas e organizações não governamentais na gestão da área protegida, "de forma a encontrar um modelo de gestão, dinamização e conservação compatível com os princípios básicos de ordenamento de espaços naturais, da educação ambiental e com as expectativas e necessidades entretanto criadas". Os ambientalistas consideram prioritária a definição de um conjunto de orientações, que estabeleçam um modelo de relacionamento com todos os agentes intervenientes, "sob pena de se desperdiçarem recursos, motivações e energias fundamentais para a correcta gestão desta ilha biológica do Oeste", afirmou aquele dirigente associativo.