O cérebro de Einstein
Einstein era mais inteligente do que o comum dos mortais. Esta afirmação parece inquestionável, uma vez que a Teoria da Relatividade, criada pelo génio, ainda é a base de toda a física moderna mais de 40 anos depois da sua morte. Talvez fique admirado se souber que a causa dessa genialidade pode residir em diferenças invulgares existentes na estrutura do cérebro do famoso prémio Nobel da Física.
Diferenças na constituição do cérebro de Albert Einstein poderão explicar a sua genialidade. Uma equipa de neurologistas da Universidade de McMaster, em Hamilton (Ontário, Canadá), fez o primeiro estudo global da anatomia do cérebro do físico: comparou-o com outros cérebros e concluiu que os lobos parietais de Einstein são 15 por cento maiores em relação à média. Os resultados deste estudo, publicados hoje na revista médica britânica "The Lancet", poderão mostrar que a genialidade e a estrutura do cérebro humano estão interligadas.Quando Albert Einstein morreu, em 1955, com 76 anos, vítima de um aneurisma da artéria aorta, a família já sabia que era sua vontade doar o cérebro à ciência. Sete horas depois da morte, o patologista Thomas Harvey removeu o cérebro do físico, pesou-o e mergulhou-o numa solução composta por dez por cento de formol. Quando Harvey abandonou Princeton, a cidade onde Einstein morreu e onde foi feita a autópsia, levou na bagagem o cérebro na intenção de o estudar. Segundo o jornal "The New York Times", o médico conservou o cérebro num frasco, que guardava dentro de uma caixa de cartão, atrás de um frigorífico do seu escritório em Lawrence, no Kansas (EUA).Com autorização prévia do filho mais velho de Einstein, Thomas Harvey pôs-se estudar o cérebro. Tirou-lhe fotografias pormenorizadas de vários ângulos e cortou-o em 240 pedaços de diversos tamanhos, mas nunca chegou a publicar quaisquer resultados desse trabalho. Deu mesmo alguns desses pedaços a outros cientistas, que apenas se limitaram a identificar a presença, em quantidades invulgares, de alguns tipos de células cerebrais. Até que, há uns três anos, Thomas Harvey lembrou-se de mandar um fax para a Universidade de McMaster. A mensagem consistia numa única pergunta: "Há por aí investigadores que queiram estudar o cérebro de Einstein?"Ao que parece, Harvey escolheu a Universidade de McMaster depois da leitura de alguns artigos assinados por Sandra Witelson, coordenadora de uma equipa de neurologistas daquela universidade. Sandra Witelson nem sabia sequer quem era Thomas Harvey, mas ficou fascinada com a possibilidade de estudar o cérebro de Einstein. "Se for possível estabelecer uma relação entre a estrutura e o funcionamento do cérebro, poderemos constatá-la mais facilmente através de um bom exemplar", disse a investigadora ao "The New York Times".O facto da universidade possuir aquele que é considerado um dos maiores bancos de cérebros humanos ajudou, sem dúvida, à realização deste estudo. A equipa observou 35 cérebros de homens e 56 de mulheres saudáveis, pertencentes desde a artistas e arquitectos até empregados administrativos. Todos tinham um quociente de inteligência ligeiramente acima da média e uma idade que rondava os 70 anos no momento da morte.Os resultados da comparação dos 91 cérebros de controlo com o cérebro de Einstein surpreenderam a equipa, que descobriu diferenças que poderão justificar a sua genialidade. De facto, o cérebro de Einstein apresenta um desenvolvimento anormal dos lobos parietais: são 15 por cento maiores do que nos outros cérebros. Estes são responsáveis pela geração e manipulação de imagens tridimensionais do espaço e ainda pela representação de conceitos matemáticos. Ora, estes processos cognitivos foram essenciais para o desenvolvimento da Teoria da Relatividade, que valeu a Einstein o prémio Nobel da Física em 1921. A maior dimensão dos lobos parietais de Einstein deve-se, segundo a equipa, ao facto de uma grande depressão no cérebro seguir um caminho diferente do que geralmente acontece. Trata-se da chamada cissura de Sílvio - uma depressão profunda, que separa os lobos parietais. Esta característica não foi observada pela equipa em nenhum dos outros cérebros, e poderá ter permitido mais conexões entre as células cerebrais. Esta diferença terá possibilitado um melhor funcionamento daquela região do cérebro e das funções que coordena. Já se nasce com a cissura de Sílvio, por isso não há qualquer hipótese desta diferença no cérebro do famoso cientista não ser congénita.No resto, o cérebro de Einstein era normal. Não era maior, nem mais pesado, o que põe de lado uma relação entre a inteligência e a dimensão cerebral. "Isto mostra que não é preciso ter um cérebro muito grande para se ser brilhante", diz Sandra Witelson. Aliás, a equipa observou mesmo que o tamanho dos lobos temporais e a altura do cérebro de Einstein até são um pouco inferiores comparativamente aos outros estudados. Mas, no trabalho publicado no "The Lancet" a equipa é clara: "Este artigo não resolve a velha questão da relação entre a neuroanatomia e a inteligência. No entanto, a descoberta sugere fortemente que algumas funções cognitivas específicas poderão estar associadas à estrutura de certas regiões do cérebro."O grupo de cientistas canadianos, em conjunto com o patologista que há mais de 40 anos colocou o cérebro de Einstein no formol, vai continuar os estudos. Agora, quer procurar diferenças como estas em cérebros de outras pessoas intelectualmente brilhantes.