"Super" tem os dias contados

Se é um orgulhoso possuidor de um Volkswagen Beetle 1600 ou o vaidoso dono de um Ford Capri, saiba que o fim anunciado da gasolina com chumbo, vulgarmente conhecida por "super", não ameaçará os carismáticos passeios de fim-de-semana ao volante da sua relíquia. É só, a partir do próximo dia 1 de Julho, servir ao seu "amigo com rodas" um novo "néctar" que tanto ele como o ambiente certamente apreciarão: a gasolina aditivada.

O tiro de misericórdia na poluente gasolina com chumbo terá de ser dado até ao final do ano 2000. A decisão foi tomada na Conferência do Rio de Janeiro, em 1992, que aprovou o programa Auto Oil e abrange todos os países que participaram no evento. Portugal decidiu antecipar em alguns meses e o executivo de António Guterres estipulou que o mês de Julho marcaria a transição para uma melhor protecção ambiental. Está já, entretanto, prevista para 2005 uma nova alteração que promete revolucionar a qualidade da gasolina e do gasóleo: a redução do teor de enxofre nos combustíveis. Uma alteração que será especialmente onerosa para as companhias petrolíferas.Quanto à gasolina aditivada, em declarações ao PÚBLICO, o responsável técnico da ARAN (Associação Nacional do Ramo Automóvel), António Garrido, assegurou que "existe solução para todos os veículos", pelo que nem os automobilistas mais cépticos têm motivo para preocupações. O fim da gasolina "super" afectará, aliás, uma minoria dos veículos que actualmente circulam nas estradas portuguesas, já que apesar de cerca de 55 por cento consumirem este combustível, apenas 15 por cento são, verdadeiramente, "superdependentes". Os restantes 40 por cento dos veículos poderiam prescindir da gasolina com chumbo.Antecipando a mudança, a ARAN editou o manual da gasolina sem chumbo, para esclarecer os automobilistas e profissionais do ramo automóvel quanto ao combustível que deverão, no futuro, utilizar nos seus veículos. Apesar dos 1500 exemplares da primeira edição do manual da gasolina sem chumbo já terem esgotado, a Associação tem previstas mais duas tiragens que serão vendidas a todos os interessados.Segundo o manual, a partir de 1 de Julho, os veículos consumirão um ou mais dos três tipos de gasolina existente no mercado - sem chumbo de 95, sem chumbo de 98 ou aditivada - consoante se incluam numa de três categorias possíveis: se tiverem sido fabricados a partir de 1993 deverão utilizar apenas combustíveis sem chumbo de 95 ou 98 octanas; se forem anteriores a 1993 e não possuírem catalizador, os veículos dotados de motores com sedes de válvulas moles deverão optar pela nova gasolina aditivada, e os que estiverem equipados com sedes de válvulas duras deverão escolher a gasolina sem chumbo de 95 ou de 98.No fundo, a nova gasolina aditivada terá um comportamento físico semelhante ao da gasolina com chumbo. A potência conferida ao veículo será sensivelmente a mesma, já que o índice de octanas (98) se mantém, e a diferença sentir-se-á apenas a nível ambiental, uma vez que o poder lubrificante do chumbo será substituído por um aditivo muito menos poluente - o potássio. A gasolina aditivada não será, portanto, mais do que a sua congénere sem chumbo de 98 octanas que está actualmente no mercado, misturada com um aditivo à base de potássio.Segundo declarou ao PÚBLICO António Garrido, a aditivada "é uma gasolina a prazo". Isto porque, numa primeira fase, irá estar disponível nos postos de combustível que comercializavam a "super" mas, "se não vender em determinada quantidade, as delegações regionais da Indústria e Energia poderão autorizar os postos a cancelar a venda". A legislação prevê, no entanto, que estes assegurem a existência do aditivo em embalagem, de modo a que este possa ser misturado com a gasolina sem chumbo de 98."A longo prazo, a tendência será que esses veículos [consumidores da aditivada] desapareçam e então só restarão os 'veículos de colecção'", acrescentou o responsável da ARAN. Para esses - que deverão obedecer a um conjunto de critérios rígidos, entre os quais terem mais de 21 anos e não possuírem nenhuma alteração a nível mecânico - o Governo prevê que permaneça disponível a velhinha "super". Embora estejam por definir alguns pormenores relativos a estes veículos, António Garrido calcula que seja o Clube Português de Automóveis Antigos a fazer a distribuição do combustível com chumbo junto dos automóveis inscritos como sendo "de colecção".Obedecendo ao objectivo geral de reduzir os índices de poluição, as medidas que têm vindo a ser deliberadas pretendem fixar os valores do ano 2000 ao nível dos de 1990. Numa primeira fase, esta pretensão passou por transformações ao nível dos automóveis, implicando grandes investimentos por parte dos construtores no sentido de reduzir as emissões de gases poluentes. Parece ter agora chegado a vez das petrolíferas investirem na qualidade dos combustíveis para que seja possível satisfazer os requisitos impostos pelo programa Auto Oil.

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