Um maestro hiperactivo
A Orquestra do Metropolitan de Nova Iorque, sob a direcção de James Levine, encerra hoje, às 21 h, no Coliseu de Lisboa, o ciclo Grandes Orquestras Mundiais. A lendária formação do Met interpreta um programa variado, com obras de Wagner, Ligeti, Mozart e Berlioz, emblemático do alargamento constante de repertório que esta formação tem sofrido nos últimos anos.
Vulgarmente conhecida como "The Met Orchestra", a Orquestra do Metropolitan de Nova Iorque é uma das mais antigas do mundo. Desde 1883, o ano de início da actividade da companhia de ópera do Metropolitan, a orquestra trabalhou com grandes maestros e solistas, desenvolvendo um imenso potencial técnico e artístico, tanto no domínio da ópera como do repertório de concerto. Gustav Mahler dirigiu-a 53 vezes durante os poucos anos que residiu em Nova Iorque, e o lendário Arturo Toscanini, que deu quase 500 concertos no Metropolitan, fez a sua estreia nos Estados Unidos com esta formação (1913).Nos últimos anos, a actividade da Orquestra do Met tem sido alucinante. A sua temporada regular estende-se ao longo de 32 semanas, com actuações quase diárias, incluindo cerca de 25 óperas, para além do repertório de concertos. Este dinamismo deve-se, em parte, à acção do maestro James Levine, que ocupa o cargo de director artístico da Metropolitan Opera há 27 anos, sendo responsável pela crescente consolidação da sua reputação. Durante o seu mandato a orquestra ampliou largamente o seu repertório, incluindo obras de Haendel, Janacék, Britten, Chostakovitch, Poulenc, Richard Strauss, Ravel e Philip Glass, entre outros. A encomenda de novas obras é também uma política habitual. As recentes encomendas a Tobias Picker e a Tan Dan serão estreadas nos primeiros anos do novo milénio. Na última temporada Levine dirigiu dez obras, incluindo a primeira apresentação, desde 1954, da ópera "The Rake's Progress", de Stravinski, e a estreia da polémica encenação de Bob Wilson do "Lohengrin", de Wagner. Em 1999 estreou no Met "Moisés e Araão", de Schoenberg, e levará a cabo a estreia mundial de uma ópera de John Harbison, escrita para comemorar os 25º aniversário de Levine no Met.A acção de James Levine reflecte-se também nas crescentes solicitações discográficas da orquestra do Met, desencadeadas pelo registo do ciclo "O Anel do Nibelungo", após um período de quase 20 anos de silêncio. Gravações recentes, sob a direcção de Levine, incluem "O Elixir de Amor", de Donizetti; "Aida", "Don Carlos", "La Traviata" e "O Trovador", de Verdi; "Idomeneo", de Mozart; "O Navio Fantasma" e "Parsifal", de Wagner, "Erwartung", de Schoenberg, e "Manon Lescaut", de Puccini.Mas as iniciativas deste maestro hiper-activo não ficam por aqui. Inaugurou a série televisiva "Live from the Met/Metropolitan Opera Presents" (1977); fundou o Met's Young Artists Development Program (1980) e retomou a tradição do Metropolitan de realizar concertos e recitais com os seus músicos na sala de ópera. Paralelamente desenvolve carreira como pianista, apresentando-se com frequência como acompanhador das grandes estrelas do canto.O concerto desta noite conta ainda com a participação do jovem clarinetista Ricardo Morales - clarinete principal da Orquestra do Met desde os 21 anos - que será solista no belíssimo Concerto para Clarinete, em Lá Maior, K.622, de Mozart. Serão interpretadas ainda a abertura de "Os Mestres Cantores de Nuremberga", de Wagner; "Atmosphères", de Ligeti - uma obra que ainda no ano passado foi objecto de uma interpretação memorável pela Philarmonia Orchestra e Esa-Pekka Salonen - e a monumental "Sinfonia Fantástica", de Berlioz. Um programa variado e aliciante a encerrar um dos ciclos que têm alcançado maior sucesso nas preferências dos melómanos lisboetas. Para aguçar o apetite, deixamos algumas sugestões para a temporada de 1999/2000, que abrirá a 30 de Outubro e que contará com a presença de formações igualmente míticas: a Academy of St. Martin in the Fields, a Orquestra Sinfónica do Curtiss Institute Philadelphia, a Orquestra Filarmónica de Nova Iorque, a Orquestra Sinfónica de Toronto, a Orquestra Sinfónica de Londres e a Orquestra Sinfónica de Chicago.James Levine (maestro)Ricardo Morales (clarinete)Obras de Wagner, Ligeti, Mozart e BerliozLISBOA. Coliseu dos Recreios, às 21 h.