NATO provoca mais "danos colaterais"
Depois de num dia ter criticado a liderança jugoslava e de no dia seguinte se ter assumido como porta-voz de Belgrado, anunciando a disposição do país para ter uma força internacional no Kosovo, Vuk Draskovic, foi demitido do cargo de vice-primeiro-ministro da Jugoslávia. Foi, segundo o próprio, "uma vitória dos duros".
Pela quinta vez, a NATO falhou o alvo. Uma área residencial no Sul da Sérvia foi atingida na noite de terça-feira por uma bomba lançada durante um raide aéreo. De acordo com a televisão sérvia, mais de 20 pessoas, todas civis, morreram. A Aliança Atlântica reconheceu ontem o acidente, mas fez por lembrar que o "registo dos danos colaterais continua excelente".O porta-voz da NATO, Jamie Shea, afirmou que um míssil guiado por laser que pretendia atingir um centro de treino militar se desviou do seu percurso e embateu na área residencial de Surdulica, que fica a cerca de 200-300 metros de distância. E adiantou que a Aliança ainda não tinha sido capaz de determinar o número de vítimas resultantes do erro.Contudo, a televisão sérvia garantiu que a bomba matou mais de 20 pessoas e destruiu cerca de 300 casas. Mas este é apenas um número provisório que tenderá a aumentar. Alguns jornalistas estrangeiros que se deslocaram àquela localidade descreveram cenas chocantes, das equipas de salvação a tentar retirar dos destroços corpos de mais vítimas, utilizando "bulldozers".Uma enorme cratera foi o que resultou de uma das casas atingidas que, segundo a população local, albergava 16 pessoas, sobretudo crianças e velhos, que se encontravam refugiados numa cave. As linhas telefónicas e o abastecimento de água foram cortados. "Um terço da localidade foi totalmente destruida", disse o presidente da Câmara de Surdulica, Miroslav Stojilkovic. E um médico do hospital local afirmou que 11 pessoas ficaram feridas, duas delas gravemente.Enquanto os corpos de 16 das vítimas do bombardeamento jaziam na morgue de Surdulica, alguns residentes revoltosos chamavam à NATO "fascista". Esta foi a quinta vez desde o início da guerra que a NATO reconhece oficialmente ter, "por erro", provocado a morte de civis. O mais grave terá sido o bombardeamento de uma coluna de refugiados, no dia 15 de Abril, no Sudoeste do Kosovo, e que, de acordo com as fontes sérvias, fez 75 mortos.Em Bruxelas, Jamee Shea adiantou ainda que, apesar de tudo, os objectivos pretendidos foram atingidos e os quartéis, considerados pelos estrategos da NATO como um alvo militar operacional, destruídos. Mas disse também que a Aliança Atlântica "não quis nem quererá nunca atingir civis". Para o porta-voz, o responsável da "verdadeira tragédia" continua a ser o Presidente jugoslavo, Slobodan Milosevic. É sobre ele que recai a responsabilidade pela morte de quatro mil "civis inocentes" e foi ele que fez sair de casa 1,5 milhões de pessoas no Kosovo. Ao mesmo tempo, o comandante supremo das forças aliadas na Europa, o general Wesley Clark, veio ontem defender a intensificação da campanha aérea das forças aliadas contra a Jugoslávia para fazer ceder o regime de Belgrado.A Grã-Bretanha lamentou as baixas civis, mas considerou que não era possível à NATO eliminar esses riscos. O ministro da Defesa George Robertson salientou que dos mais de 4400 ataques feitos pela Aliança, apenas uma pequena fracção trouxe consequências indesejáveis, incluindo a perda da vida de civis. No entretanto, as autoridades jugoslavas referiram que desde o início dos bombardeamentos, a 24 de Março, cerca de 1000 civis morreram, incluindo várias crianças.O ministro jugoslavo da Informação, Milan Komnenic, declarou por sua vez que o ataque da NATO a Surdulica foi um crime destinado a destruir os esforços para uma solução pacífica que envolve as Nações Unidas. Uma saída para o conflito que, segundo o mesmo, a NATO não apoia. Mas o ministro garantiu também que esta tragédia não afectará o compromisso de Belgrado de chegar a um acordo de paz.Os bombardeamentos das forças aliadas voltaram a atingir também Belgrado, que foi vítima de mais raides aéreos ao princípio da noite. De acordo com a AFP, o alerta aéreo durou das 23H13 às 04H33 de quarta-feira. Para além disso, duas explosões ocorreram ontem na capital do Montenegro. Os meios de informação locais chamaram ao raide um ataque renovado da NATO às instalações militares. Testemunhas declararam ter ouvido várias explosões fortes no Sul de Podgorica, ainda de madrugada, e ter visto no céu cinco colunas de fumo, que se erguiam nas proximidades do aeroporto.As forças jugoslavas no terreno responderam ao ataque. A televisão montenegrina deu conta de 11 explosões ocorridas durante mais de meia hora, e declararam que quatro morteiros deverão ter atingido o aeroporto. Mas as autoridades não chegaram a confirmar o que realmente aconteceu.A NATO tem evitado bombardear o Montenegro, para proteger o Governo pró-ocidental desta pequena república, que se recusou a apoiar a Sérvia na declaração do estado de guerra. Mas os soldados montenegrinos (ao contrário da polícia) são fiéis a Belgrado, e a NATO reservou-se o direito de atingir alvos militares e responder se o Exército utilizar armamento contra os aviões aliados que patrulham a região.