Ecomog evitou reacender da guerra
Só a presença em Bissau de 600 homens da Ecomog, a força de interposição da África Ocidental, permitiu ontem salvar a paz na Guiné-Bissau, onde os soldados saíram para a rua e se temeu o reacender da guerra. Entretanto, no Vaticano, o primeiro-ministro Fadul era recebido pelo Papa João Paulo II.
Durante algumas horas, a população de Bissau chegou ontem a temer o regresso da guerra que o ano passado devastou grande parte dos seus bairros mais pobres. Mas as forças da Ecomog, ao serviço da Comunidade Económica dos Países da África Ocidental (CEDEAO), intervieram e conseguiram salvar a situação; embora ainda persistam alguns sinais ameaçadores. Encontrando-se ausentes na Europa o presidente da Assembleia Nacional, Malan Bacai Sanhá, e o primeiro-ministro, Francisco Fadul, militares afectos ao Presidente João Bernardo Vieira e à Junta Militar do brigadeiro Ansumane Mané estiveram quase a envolver-se em escaramuças, nas imediações do Palácio Presidencial e da Câmara Municipal.O motivo do susto foi o facto de o secretário permanente do PAIGC, Paulo Medina, não ter aceite de bom grado o seu afastamento da presidência da Câmara de Bissau, para que fora designado por "Nino" Vieira, que antes da crise do ano passado também era chefe do Governo. Agora a situação é totalmente diferente, havendo um primeiro-ministro com mais poderes do que os seus antecessores, enquanto o chefe de Estado viu reduzidos os seus poderes, ao abrigo do compromisso conseguido em Abuja, na Nigéria, para se acabar com a guerra guineense. E foi precisamente o Governo de Transição quem, esta semana, substituiu Paulo Medina por Zinha Vaz à frente da Câmara Municipal da capital.Ontem de manhã, acompanhado por uma dezena de correlegionários, Paulo Medina arrombou as portas de alguns gabinetes da Câmara, que fica perto do Palácio Presidencial, e foi lá retirar documentos.Apareceu atrás dele a sua sucessora, devidamente acompanhada pelo ministro da Administração Interna, Caetano Intchamá, figura ligada à Junta Militar, e os ânimos começaram a ficar exaltados, conforme relata a Lusa.No entanto, os 600 homens da Ecomog estão ali precisamente para estas situações e conseguiram desanuviar o ambiente, sem que no entanto deixem de existir tensões em Bissau, onde vários políticos não gostaram de algumas das declarações feitas em Lisboa pelo primeiro-ministro Fadul, designadamente a de que a polícia política do seu país é pior do que a PIDE.Francisco Fadul foi ontem recebido no Vaticano pelo papa João Paulo II, a fim de lhe agradecer o envolvimento dos católicos, que na Guiné-Bissau são uma minoria, nos esforços para pacificar o país. O conflito opôs a maior parte dos militares actuais e dos antigos combatentes ao Presidente Vieira, que tem vindo a ser contestado até dentro do próprio PAIGC. Enquanto isto, chegava a Lisboa, a fim de participar nas celebrações do 25 de Abril, o presidente da Assembleia Nacional da Guiné-Bissau, Malan Bancai Sanhá, que é um dos mais destacados dirigentes do PAIGC e que poderá ser o candidato preferido por este partido para as próximas eleições presidenciais, no fim do ano.Por outro lado, os guerrilheiros de Casamansa, cujo armamento foi uma das causas da grande crise guineense do ano passado, pois que nele estavam implicados oficiais superiores das Forças Armadas, anunciaram ontem que tencionam reunir-se em breve na Gâmbia, a fim de tratarem de uma estratégia para as conversações de paz com o Governo senegalês.O abade Diamacouné Senghor, líder do Movimento das Forças Democráticas da Casamansa, declarou à imprensa em Banjul, capital da Gâmbia, que é necessário congregar todas as facções dos independentistas e encetar depois o diálogo com Dacar.As autoridades senegalesas têm procurado não só conservar o controlo da província de Casamansa como, também, exercer grande influência nos países vizinhos, como é o caso da Guiné-Bissau, onde soldados enviados pelo Presidente Abdou Diouf ajudaram durante sete meses "Nino" Vieira a resistir à contestação de uma grande parte dos militares guineenses.Os últimos dois meses em Bissau têm sido de uma relativa acalmia, mas não se exclui a hipótese de uma crise governamental, dado que o executivo de Fadul é constituído por pessoas de diferentes sensibilidades: umas afectas ao ultraresistente Presidente Vieira e outras que têm mais simpatia pelo presidente da Assembleia Nacional e pela Junta Militar, que não chegou a ser desmantelada, apesar de estar em curso a unificação de todas as Forças Armadas.