Descoberta a maior bactéria do mundo
A "Thiomargarita namibiensis", que significa "pérola sulfurosa da Namíbia", em homenagem ao local onde foi descoberta, a costa da Namíbia, é a maior bactéria alguma vez encontrada por cientistas. Tão grande como o ponto do final desta frase. Até hoje, a maior bactéria conhecida era cem vezes mais pequena.
Cientistas alemães, espanhóis e norte-americanos descobriram uma bactéria gigante na Baía de Walvis, na costa atlântica da Namíbia. A "Thiomargarita namibiensis", assim lhe chamaram, foi encontrada numa verdadeira colónia de bactérias gigantes, que podem atingir, nos maiores exemplares, 0,75 milímetros, o que as torna nas maiores bactérias do mundo."Quando contei o que tinha visto aos meus colegas, não acreditaram em mim, porque a bactéria era enorme", afirmou Heide Schulz, aluna de doutoramento do Instituto alemão Max Planck, na área da microbiologia marinha e autora da descoberta. A equipa de investigadores referiu que, se esta bactéria pertencesse ao reino animal, ela seria certamente uma baleia azul. Schulz recolheu os sedimentos que transportavam as bactérias durante uma viagem no navio russo de investigação "Petr Kottsov". As células esféricas da bactéria têm cerca de 0,1 a 0,3 milímetros, mas podem atingir até 0,75 milímetros, sendo assim visíveis a olho nu, tal como confirmou a equipa formada por investigadores do Instituto Max Planck, da Universidade de Oldemburgo (Alemanha), da Universidade de Barcelona (Espanha) e da Woods Hole Oceanographic Institution (EUA).Estas bactérias de enxofre, da mesma família das "Thioplocas", são abundantes em zonas muito pobres em oxigénio - neste caso foram encontradas na corrente de Benguela. Tal como as "Thioplocas", as "Thiomargarita" usam mucosidades para formarem cadeias e se movimentarem por arrasto, um factor importante quando se trata de procurar alimento. A "Thiomargarita namibiensis" alimenta-se do enxofre produzido na decomposição do fitoplâncton da região. A costa da Namíbia é muito rica em microalgas que se depositam e decompõem no fundo da costa, e são também uma fonte de energia para esta bactéria. Segundo um comunicado de imprensa do Instituto Max Planck, estas bactérias acumulam grânulos de enxofre no seu interior, no vacúolo. Este vacúolo é uma espécie de reserva formada no seio do endoplasma, especialmente em seres unicelulares como é o caso das bactérias, onde são guardadas substâncias nutritivas.Todas as bactérias vão buscar energia a uma fonte de nutrientes. No caso das bactérias existentes no corpo humano estas podem recorrer à energia proveniente da glucose. No caso específico das "Thiomargarita", estas conciliam o enxofre e os nitratos existentes no mar para poderem sobreviver nas condições mais adversas. Até que consigam os nutrientes necessários para a sua actividade, estas bactérias conseguem quase como "suster a respiração". O facto de serem bactérias anaeróbias, ou seja, que não utilizam oxigénio para sobreviver, por incapacidade ou por inexistência deste no seu habitat, faz com que tenham de ir buscar energia a outras fontes. A acumulação de enxofre no vacúolo faz ainda com que esta bactéria apresente uma característica muito especial: brilha quando a luz incide sobre ela. Foi, aliás, esta característica que levou os cientistas a baptizarem a bactéria como "pérola sulfurosa da Namíbia". Apesar da sua aparência exótica, referem os investigadores, a "Thiomargarita namibiensis" não é assim tão rara, pois na zona onde foi encontrada a sua concentração é bastante elevada - na ordem das 47 gramas por metro quadrado. Por causa desta concentração elevada, a bactéria gigante tem um papel importante na limpeza do ecossistema, ajudando a eliminar o enxofre, do qual se alimenta.António Correia, professor do departamento de biologia da Universidade de Aveiro e investigador na área da microbiologia, explica que um dos outros factores inovadores nesta bactéria é o facto de conseguir coexistir com oxigénio, apesar de não precisar dele para sobreviver. Muitas das bactérias não têm esta capacidade. Mas o investigador defende que o grande valor desta descoberta está no tamanho da bactéria: " Na realidade o que chama a atenção é o tamanho. A investigação vale mesmo é pela dimensão da bactéria. A nível do metabolismo não há inovação, porque já é conhecido há muito tempo", refere.