Passadeira mortífera na Av. Estados Unidos da América

"Basta de assistir a tantas mortes. É preciso fazer alguma coisa para impedir que haja novos atropelamentos na passadeira de peões", isto é o que pensa a maioria das pessoas que trabalham no Centro Regional de Segurança Social de Lisboa, na Avenida Estados Unidos da América, cidadãos que ali puseram a circular um abaixo-assinado a dirigir à Câmara Municipal de Lisboa, desde que na semana passada se verificou mais um acidente mortal, junto ao acesso a este edifício.No passado dia 17, um automóvel que circulava a velocidade excessiva na Av. Estados Unidos da América atingiu uma mulher que ia a atravessar na passadeira, com uma filha pequena ao colo. A mãe foi hospitalizada, mas a criança morreu. E isso é algo difícil de esquecer por quem trabalha no edifício do Centro Regional de Segurança Social (CRSS), pessoas que diariamente assistem a dezenas de situações de risco, às quais entendem ser preciso pôr cobro."Esta passadeira transformou-se numa armadilha mortal. Já aqui morreram pelo menos oito pessoas, entre elas colegas nossas, e beneficiários que se dirigiam ao centro, o que é demasiado grave", contou ao PÚBLICO Cecília Proença, uma das cidadãs subscritoras do abaixo-assinado, que reúne já quase 400 assinaturas."Com este documento, pretendemos pedir à câmara que encontre uma solução para o problema, porque as pessoas já estão saturadas de assistir a tantas mortes, sem poder fazer nada. De cada vez que ouvimos uma travagem, na rua, deitamos as mãos à cabeça, temendo o pior", acrescentava uma outra mulher, que também trabalha no centro.Há dois anos, morreu ali Maria da Conceição Tadeu, uma funcionária do arquivo do CRSS, o mesmo tendo acontecido a um sacerdote já de idade, que, pouco depois de abandonar o edifício, onde fora para tratar da sua pensão, foi mortalmente atropelado."Nós já nos sentimos um isco, quando dizemos às pessoas para virem aqui ao centro. E não podemos deixar de recomendar-lhes que não atravessem na passadeira, que se tornou demasiado traiçoeira, e quase era preferível que não existisse", como desabafam as funcionárias. A passadeira está numa descida, o que dá maior embalagem aos carros que saem do túnel da Av. dos EUA, ou aos que arrancam, a partir do sinal existente no cruzamento com a Av. Rio de Janeiro. E quando os carros lá chegam, alguns param, mas outros não, dando origem a repetidos atropelamentos, demasiadas vezes mortais.E como educar os automobilistas é tarefa inglória, para os subscritores do abaixo-assinado a única solução para o problema passa necessariamente pela câmara, que já por diversas vezes foi alertada. "Se pusessem aqui bandas sonoras, ou algo que fizesse reduzir a velocidade dos carros, o número de atropelamentos diminuiria", afirmam.Contactado pelo PÚBLICO, o gabinete do vereador do pelouro do trânsito da Câmara de Lisboa, Machado Rodrigues, admitiu que já há muito tempo que conhece este problema, mas atribui-o sobretudo à irresponsabilidade dos automobilistas. Armindo Cordeiro, chefe de gabinete do vereador, afirmou porém que "se até agora não foi ali construída uma passagem superior para os peões, isso se deveu ao facto de haver moradores na Av. Estados Unidos da América que, por motivos estéticos, se opuseram a isso, tal como disseram não à construção de um viaduto" que chegou a estar projectado para ligar a Av. dos EUA à Almirante Gago Coutinho.Interrogado em que termos e quando foram aqueles moradores consultados, Armindo Cordeiro disse apenas: "Desconheço qual a representatividade desses moradores, mas o certo é que chegámos a ter o esboço para a passagem de peões, e a obra acabou por não se fazer. Mas agora, provavelmente, teremos de encontrar um consenso", admite.

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