Linha do Norte - os custos e os prazos da modernização
A modernização da linha do Norte vai custar mais 63 ou 64 milhões de contos para poder estar concluída entre Outubro de 2004 a Março de 2006. É nestes intervalos que se situam os cenários propostos pela Refer ao Governo para decidir a continuação das obras. Em causa está uma intervenção profunda na plataforma para suportar velocidades superiores a 200 Km/hora. Seja qual for o cenário, os horários terão de ser ajustados e os incómodos para os passageiros não serão eliminados.
Mais 64 milhões de contos para ter a linha do Norte pronta em Fevereiro de 2005, ou mais 63 milhões para estar terminada em Março de 2006? Um milhão de contos vale um ano de incómodos causados pelas obras? São questões difíceis para ministro João Cravinho decidir. Mas, para os passageiros, os comboios vão continuar a circular com atrasos, a menos que a CP programe muito bem com a Refer os seus horários, adequando-os à nova realidade. A necessidade de intervir na plataforma (ver PÚBLICO de 18/2/99) levou a uma reformulação do projecto que contempla, também, uma nova maneira de executar os trabalhos. Agora, em vez de se interromperem as duas vias durante as noites, a Refer vai interditar apenas uma delas permitindo que a circulação se faça na outra. É claro que continuará a haver restrições, mas saem beneficiados os comboios mais rápidos e poderão recuperar-se atrasos aumentando a velocidade nos troços que, entretanto, já foram modernizados.Segundo um relatório entregue pela Refer ao Governo, a manutenção do processo construtivo em vigor relega o fim da modernização para 2014 com um custo associado de 300 milhões de contos, ou seja, mais 100 milhões do que oinicialmente previsto. Ora, "estes resultados não são aceitáveis para a REFER, nem, ao que julgamos, para a CP, nem para ninguém", lê-se no relatório da empresa gestora da infra-estrutura, que diz ser "indispensável procurar e encontrar soluções alternativas, que permitam alterar o rumo dos acontecimentos".Dos quatro cenários com custos e prazos de execução entregues a João Cravinho, um, o mais barato, é meramente académico pois não contempla a modernização de toda a linha, e outro não deverá ser contemplado por questões ligados com a metodologia dos trabalhos. Restam, assim, dois, com um milhão de contos de diferença, mas com prazos de execução que variam entre 2004/2005 no primeiro e 2005/2006 no segundo. Um termina as obras mais cedo, "castigando" mais os passageiros, o outro "castiga" menos, mas durante mais tempo. Segundo uma porta-voz do Ministério do Equipamento, independentemente da decisão que vier a ser tomada já está prevista para breve a adjudicação da modernização da linha entre Entroncamento-Albergaria (42 Km) e Quintans-Ovar (34 Km), o que, por se tratar de dois sub-troços, poderá indiciar que João Cravinho prefere o segundo cenário.O relatório da Refer historia o processo da modernização da linha do Norte, que data de 1988, apontando como um dos grandes problemas do actual insucesso as várias alterações que lhe foram introduzidas. "Isso é a pior coisa que pode acontecer a um projecto de engenharia", disse ao PÚBLICO uma fonte ligada ao processo. Mas foi isso que aconteceu: em 1992 decide-se fazer também a renovação integral da via, colocar-lhe a estação do Oriente, fechar três apeadeiros e aumentar a "performance" da via para fazer Porto-Lisboa em 2h00 e não em 2h30. Por fim, surge o problema da plataforma.Controversa, na história deste projecto, foi a participação da Kaiser que, em Outubro de 1994, assina com a CP um contrato de Project Management de seis milhões de contos para fiscalizar a obra. No contrato - e apesar das sucessivas alterações ao projecto que já não controlava -, a consultora assume a manutenção dos objectivos inicialmente definidos - duas horas entre Porto e Lisboa, velocidade de 220 Km/hora e respeito pelas regras de circulação estabelecidas. "Por seis milhões de contos", diz o relatório, "pedia-se a lua e o Project Management prometia entregá-la, em tempo, com elevada qualidade e ao menor custo". O resultado está á vista.