Uma vida a cem por hora

Steve McQueen foi uma das principais estrelas de Hollywood durante os anos 60 e 70, e o seu nome está associado a clássicos do cinema como "Bullit", "Papillon" ou "Os Sete Magníficos". A RTP2, na rubrica Artes e Letras, recorda hoje a vida deste fanático dos desportos motorizados que não aceitava duplos nas suas cenas de acção. História de um dos grandes mitos americanos."Eu vivo para mim próprio e não respondo perante ninguém"Steve McQueenA imagem que vem imediatamente à memória quando se fala de Terrence Steven McQueen é a da impressionante perseguição automóvel de "Bullit". Não apenas porque essa cena do filme de 1968, dirigida por Peter Yates, não perdeu a sua espectacularidade ao fim de tantos anos, mas também porque ela capta na perfeição a personagem mítica que é Steve McQueen: em alta velocidade, no limite do risco. A sua vida dava ela própria um filme, e é a sua história que hoje vai ser contada no documentário "Steve McQueen - The King of Cool", às 21h, na RTP2."Bullit" é talvez o filme mais emblemático de um actor que se tornou num símbolo de rebeldia e independência. No entanto, a sua carreira compreende outros filmes de grande sucesso: "Os Sete Magníficos" (John Sturges, 1960), "A Grande Evasão (John Sturges, 1963), "O Grande Mestre do Crime" (Norman Jewison, 1968), "Junior Bonner" (Sam Peckinpagh, 1972), "Tiro de Escape" (Sam Peckinpagh, 1972) ou "Papillon" (Franklin Schaffner, 1973).McQueen nasceu em 1930, numa pequena localidade do Indiana. Nunca chegou a conhecer o pai, e a mãe deixou-o nas mãos de um tio quando McQueen tinha apenas três anos de idade. Aos 16 foi viver para Nova Iorque, onde arranjou emprego como marinheiro num petroleiro. Mas rapidamente se fartou do mar e, quando o navio chegou a Cuba, desertou. Viajou ainda pela República Dominicana, e de regresso aos Estados Unidos alistou-se nos "marines".McQueen não se deu bem com a disciplina militar - ao fim de pouco tempo, foi preso por se ter ausentado do quartel sem permissão por duas semanas, e teve de passar 41 dias em isolamento, 21 dos quais a pão e água. Mas o jovem "marine" redimiu-se com heroísmo, salvando das águas geladas do Árctico cinco marinheiros naufragados. Como recompensa, foi escolhido para a guarda de honra do iate do então Presidente Harry Truman.Em 1950, McQueen saiu dos "marines", passando os anos seguintes a saltar de um emprego para outro: trabalhou nos campos de petróleo do Texas, como lenhador no Canadá, como sapateiro em Nova Iorque. Além disso, arranjou emprego numa loja de televisores e a guiar um camião dos correios, além de participar em corridas de automóveis - a sua maior paixão. Até que decidiu aprender a ser actor.Inscreveu-se na Neighbourhood Playhouse, escola de representação de Nova Iorque. Mais tarde, seria escolhido (foi um dos dois eleitos em 2000 candidatos) para o prestigiado Actor's Studio, de onde saíram os maiores actores americanos.Depois de se mudar para Los Angeles, McQueen obteve alguns papéis em filmes de série B, mas a popularidade veio através do pequeno ecrã, como personagem principal da série de "western" Wanted: Dead or Alive.A partir daí veio o sucesso em Hollywood. Mesmo sem nunca alcançar grande reconhecimento da crítica, nem nunca ter ganho um Óscar (foi nomeado apenas uma vez, por "The Sand Pebbles"), tornou-se num dos cabeças de cartaz do cinema americano. A este êxito não foi alheia a reputação de McQueen como um "duro" fora dos ecrãs: recusou sempre o uso de duplos nas suas cenas, graças às suas múltiplas capacidades - chegou mesmo a actuar apenas como duplo num obscuro filme de 1978, "Dixie Dynamite".Teve lições particulares de artes marciais com nada menos que Bruce Lee e Chuck Norris. Era um marinheiro experimentado e tinha o "brevet" de pilotagem de aviões. Participava frequentemente, e com sucesso, em competições profissionais de automobilismo e motociclismo.Steve McQueen sofria de uma forma rara e particularmente dolorosa de cancro nos pulmões, que acabaria por o vitimar em 1980, aos cinquenta anos, pouco depois de fazer o seu último filme, "Tom Horn, o Cowboy" (de William Wiard). Deixou para trás uma colecção de 210 motos, 55 carros e cinco aviões, e um mito que perdura - ainda recentemente, uma marca de automóveis utilizou a sua imagem num anúncio publicitário.

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