Monica quase ao vivo
O testemunho registado em vídeo de Monica Lewinsky, a ex-estagiária da Casa Branca, foi ontem mostrado no Senado e retransmitido pelas principais cadeias televisivas, dando ao público a ocasião de a ver, pela primeira vez, a falar sobre a relação com o Presidente dos Estados Unidos. "Monica como você nunca a viu", exclamou a BBC. Os extractos do seu depoimento, feito à porta fechada na passada segunda-feira, cuidadosamente seleccionados pelos procuradores ou "House managers" da Câmara dos Representantes, foram apresentados em enormes ecrãs no hemiciclo do Senado onde se desenrola o processo de destituição presidencial.Desde que o escândalo rebentou há uma ano, o público americano já tinha tido a oportunidade de ler as transcrições dos seus testemunhos e de ouvir a sua voz, gravada pela "amiga" Linda Tripp. Mas ontem foi a primeira vez que os americanos a viram em pessoa, quase ao vivo, a falar do seu envolvimento com Bill Clinton.No vídeo, Monica olha directamente para Ed Bryant, o "procurador" que a interroga. Está com um pentado produzido, um colar de pérolas e um vestido preto onde lhe penduraram um pequeno microfone."Agora vamos falar dos chamados encontros indecentes", arriscou Bryant a certa altura do interrogatório. Monica interrompeu-o: "Pode chamar-lhes outra coisa qualquer. Quer dizer..., esta é a minha relação."Desde que o "Monicagate" saltou para as páginas dos jornais, Lewinsky já foi interrogada 23 vezes sobre a relação com o Presidente e as suas tentativas de a manter secreta. Frente a Ed Bryant ela estava segura, ouvia atentamente as perguntas que este lhe colocava, às vezes corrigia-o e depois respondia sem hesitações, como uma boa aluna que estudou bem a sua lição. No fim as interpretações variaram. "Aquilo que eu vi esta manhã é devastador para a Casa Branca", afirmou Larry Craig, senador republicano do Idaho. Nem por isso, responderam os democratas que consideraram que o 32ª testemunho de Monica não trouxe nada de novo no que diz respeito aos factos. A imagem vídeo que os senadores e os americanos viram "mostrou uma dimensão mais humana, mais verdadeira (...) e mais interessante", reconheceu Herbert Kohl, um democrata do Wisconsin. "Não penso que tenham havido revelações explosivas", acrescentou Barbara Boxer, também democrata eleita na Califórnia. Os "procuradores" empenharam-se a provar, com o apoio dos extractos dos testemunhos de Lewinsky, de Vernon Jordon, o advogado amigo do Presidente, e de Sidney Blumenthal, conselheiro da Casa Branca, que Bill Clinton é culpado de "perjúrio" e de "obstrução à justiça" e por isso merece ser destituído.Mas é pico provável que a difusão destes testemunhos, já visionados ao longo da semana pela maioria dos senadores, possa mudar as suas opiniões. Para o analista da BBC, Paul Raynolds, os esforços dos "procuradores" estão a ser vistos mais como uma forma de deixar uma legado - embaraçoso para Clinton - para a história do que uma forma para assegurarem votos suficientes para conseguirem a destituição do Presidente. Depois dos visionamentos de ontem, os "procuradores" da Câmara dos representantes e os advogados da Casa Branca vão fazer as declarações de encerramento amanhã e os senadores deverão começara as deliberações sobre as acusações de perjúrio e obstrução à justiça. Sem os 67 votos necessários para condenar Clinton, os senadores democratas estão a preparar uma moção de censura "que dará um mensagem clara aos futuros historiados que uma grande maioria dos senadores estão, de uma maneira ou de outra, chocados com o comportamento do Presidente", disse Robert Bennett, um senador republicano que também apoia a solução da censura.