Teatro Viriato abre-se a toda uma região

A Internet é a boceta de Pandora e Prince mostrou como se pode lançar discos de sucesso sem precisar da indústria. Mas depois dos patinhos a brincar na água, as multinacionais vão entrar na banheira e prometem despejar a água por todos os lados. Será que os patinhos se aguentarão? Este ano, no Midem, a indústria musical reunida em Cannes procurou aventar soluções para a pirataria instalada no ciberespaço e para a exploração de novos mercados, nomeadamente no antigo bloco de leste. As recolhas etnográficas de Michel Giacometti foram apresentadas pela primeira vez em CD.

"Orgulhoso", como confessou sentir-se, o ministro da Cultura, Manuel Carrilho, regressou anteontem a Viseu, de onde é natural, para assistir à reabertura do Teatro Viriato, onde irá funcionar, durante os próximos três anos, o Centro Regional de Artes do Espectáculo (CRAE) das Beiras.Fundado há 115 anos, o Teatro Viriato encerrou na década de 60. E assim permaneceu, de forma mais ou menos ininterrupta, até agora. "Praticamente, nunca o vi aberto", recordou o ministro a propósito deste edifício - que chegou a funcionar como depósito de produtos químicos agrícolas -, cujas obras de recuperação remontam ao tempo em que o seu pai, Engrácia Carrilho, presidia à autarquia viseense. Com o social-democrata Fernando Ruas, que em 1989 foi eleito presidente da câmara, prosseguiram as obras que viriam a absorver mais de meio milhão de contos, custeados pelo Governo e pela autarquia, e a prolongar-se por oito longos anos. Tempo suficiente para que o teatro fosse pretexto para alguns desentendimentos que ministro e edil já enterraram.Carrilho disse-se convicto de que o Viriato e o CRAE conseguirão conquistar um público próprio e concretizar a descentralização cultural prometida pelo Governo. E elogiou o "grande empenho" de Ricardo Pais, que, em 1985, tentou revitalizar o teatro viseense, utilizando o seu espaço devoluto como cenário de alguns espectáculos.Compreende-se, assim, que tenha sido com "Raízes Rurais. Paixões Urbanas" - o espectáculo de fusão de fado, jazz e folclore que Ricardo Pais, director do Teatro de S. João, encenou pela primeira vez em Maio de 1997, no Porto - que os 260 lugares do Teatro Viriato se voltaram a encher de público.Num breve discurso introdutório, Ricardo Pais referiu a qualidade do projecto de recuperação do edifício, do arquitecto Sérgio Ramalho, felicitou Fernando Ruas e Manuel Carrilho pelo acordo alcançado e lembrou o papel desempenhado também pela ex-secretária de Estado da Cultura, Teresa Patrício Gouveia, na recuperação do teatro, em cujo tecto o encenador disse começar a vislumbrar estrelas.Quanto ao CRAE das Beiras, o segundo a ser criado no país, depois de Évora, vai ser dirigido por Paulo Ribeiro, que apresentou o projecto de animação que viria a ser seleccionado e cuja Companhia de Dança fica a residir em Viseu nos próximos três anos.Contando com um financiamento de 300 mil contos (60 por cento dos quais suportados pelo Ministério da Cultura, e o resto pela Câmara de Viseu, que também assume a manutenção do teatro), Paulo Ribeiro promete, com esse "orçamento modesto", delinear uma programação de qualidade, susceptível de conquistar os viseenses e atrair, ocasionalmente, públicos de outras cidades.Ao invés de apostar nas estreias, "que serão poucas", Paulo Ribeiro investe nos espectáculos de música, teatro e dança, "que já provaram, em termos de qualidade". E propõe-se estabelecer "cumplicidades" com a comunidade local, promovendo visitas guiadas aos bastidores do teatro, debates regulares sobre a programação (o primeiro é a 10 de Fevereiro) e trocas de impressões entre o público e os criadores, no final dos respectivos espectáculos. "Não queremos que isto seja um lugar frio, onde as pessoas vêm ver um espectáculo e vão embora, mas torná-lo um espaço familiar", explica.Com a residência no CRAE, a Companhia de Dança Paulo Ribeiro - em recomposição, porque nem todos os elementos se predispuseram a viver em Viseu - vai apenas beneficiar de um espaço de ensaio, garante o coreógrafo. "De resto, o CRAE será uma sala de espectáculos como outra qualquer", promete Paulo Ribeiro, para quem as lotações esgotadas de "Raízes Rurais. Paixões Urbanas" (que hoje tem até uma derradeira apresentação extraprograma) autorizam todos os optimismos. A realização de "workshops" e "ateliers" para crianças, semelhantes aos que o Centro Cultural de Belém (CCB) vem promovendo, também se incluem nas suas intenções. Aliás, o CRAE vai celebrar acordos de parceria com outras instituições (Teatro Rivoli, Teatro S. João, CCB, Culturgest) e companhias de teatro da região, como o ACERT, de Tondela, a quem a autarquia também chegou a solicitar um projecto de animação para o CRAE.Pelo palco do Teatro Viriato vão em breve passar o Teatro da Garagem, o concerto-baile dos Bailia e o Teatro Regional da Serra de Montemuro. Em Maio, chega "Once", que assinala a estreia em Portugal da companhia russa Theatre Derevo (Prémio Mimos 1998), e que deverá trazer a Viseu o público mais atento dos vários pontos do país.

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