Liga não permite luto
José Roquette foi ontem falar aos jogadores e estes utilizaram no treino braçadeiras negras, em sinal do luto pedido pelo clube. A Liga é que não ppermite manifestações de luto aos jogadores durante os desafios.
Uma recente determinação da Liga, recordando aliás um Comunicado Oficial da Federação Portuguesa de Futebol com a provecta idade de 30 anos, impede os jogadores de utilizarem outras braçadeiras, que não seja a de capitão no jogador previamente designado. O que obrigará o Sporting a ser mais criativo na manifestação do luto pelo futebol português, anunciada anteontem pelo presidente José Roquette por achar que a equia tem sistematicamente prejudicada pelas arbitragens.A comunicação da Liga, com o número 169/98, tem a data de 28 de Dezembro último e apareceu na sequência de alguns problemas que houve e após o último curso de árbitros, que se realizou em Santarém e Rio Maior. O árbitro Lucílio Batista, por exemplo, obrigou o jogador do FC Porto a retirar a braçadeira preta que envergava, em sinal de luto pela morte de um familiar, durante um jogo recente. Nesse comunicado da Liga, dava-se também conta de que os jogadores não podiam usar pulseiras, brincos e outros adereços que pudessem pôr em causa a segurança deles róprios e dos adversários. A comunicação da Liga era, aliás, baseada no Comunicado Oficial número 193, de 12 de Junho de 1969, emanado da Federação Portuguesa de Futebol, que imunha, há 30 anos, que os jogadores só podiam utilizar o seu equipamento normal.De resto, é verdade que no seu comunicado de anteontem, o Conselho Directivo do Sporting pedia apenas "a comparência dos sportinguistas no Estádio José Alvalade no jogo contra a Académica, com manifestação de luto". Mas nas declarações que fez depois de ler o comunicado, José Roquette tinha admitido a possibilidade de os atletas também se apresentarem com manifestações de luto. Os jogadores do Sporting treinaram-se ontem ao final da tarde no relvado secundário de Alvalade, envergando já uma braçadeira negra na manga das camisolas, coisa que, curiosamente, não acontecia com os treinadores. O presidente da Sporting, Sociedade Anónima Desportiva (SAD), José Roquette, esteve presente no treino para falar com os atletas, e no final, em breves palavras, elogiou ainda o seu desempenho. O marroquino Saber já se treinou, enquanto o argentino Duscher, entretanto sagrado campeão sul-americano de sub-20, deverá regressar a Lisboa amanhã.Roquette disse ter ido ao balneário antes do treino dizer aos jogadores do apreço que tinha pela forma como se tinham comportado em Chaves, onde o presidente não se pôde deslocar no assado sábado, num jogo que terminou com um empate 2-2. Cerca de uma centena de adeptos seguiram o treino, alinhados à conversa em pequenos grupos. Adelino Albuquerque seguia o treino atentamente, deslocando-se encostado à barra de ferro que delimita o campo, à medida que a bola se movimentava. Do alto dos seus 75 anos de idade, o sócio do Sporting comentou a declaração de luto feita na segunda-feira por José Roquette: "Acho que o presidente tem muita razão. Isto tem sido uma coisa fora do normal. Pode lá ser! As arbitragens estão todas contra o Sporting. Só quem não vê." De seguida, puxa pela memória: "Mas isto já não é de agora. É já de há muitos anos. Podíamos estar à frente de todos e estamos em 3º ou 4º lugar. A gente não quer benefícios, agora a prejudicar assim o Sporting é que não pode ser."Opinião diferente tem Amândio Calmeiro, 23 anos, adepto, mas não sócio do Sporting, que foi ver o treino numa folga do serviço militar. "Acho uma estupidez. Não tem lógica nenhuma. Não tem sentido de ser. O Sporting tem estado a ser prejudicado, mas não é por causa do luto que a arbitragem pode vir a mudar", diz.Já Rui Martins, sócio do Sporting, com 35 anos de idade, coloca-se do lado da direcção sportinguista: "É uma declaração coerente, consciente, e de uma pessoa que sabe aquilo que faz. Porque o futebol português é feito de vilipêndio, roubo e extorsão. E como só a Judiciária é que pode intervir, o presidente o que fez foi alertar, porque ele não é polícia e isto são assuntos para polícia." Ainda segundo a opinião de Rui Martins, "Gil y Gil, Bernard Tapie e os indivíduos que foram corridos do Comité Olímpico Internacional, em Portugal, eram considerados santos."