Morreu Diego Maradona, o génio indomável do futebol
O “astro” argentino, considerado um dos melhores jogadores de todos os tempos, não resistiu a uma paragem cardiorrespiratória.
Morreu Diego Armando Maradona. A notícia já foi confirmada por elementos da família nesta quarta-feira, segundo a qual o antigo internacional argentino, de 60 anos, terá sofrido uma paragem cardiorrespiratória na sua residência, em Tigre.
Considerado um dos melhores jogadores de todos os tempos, Maradona teve os seus melhores momentos no Nápoles, onde conquistou os dois títulos italianos e a Taça UEFA, e na selecção argentina, com a qual conquistou um título de campeão mundial em 1986, no México.
Segundo avança o jornal argentino Clarín, Maradona, que tinha feito 60 anos a 30 de Outubro, morreu durante a manhã desta quarta-feira na sua casa no bairro San Andrés, onde residia enquanto recuperava de uma operação a um edema cerebral realizada no dia 4 de Novembro.
Foi durante a campanha de 1986, no Mundial do México, que El Pibe realizou o jogo mais marcante da sua carreira, nos quartos-de-final contra Inglaterra. Num encontro que ficou para a história, Maradona deu polémica e traços de génio, uma síntese quase perfeita da sua carreira indomável. A selecção argentina venceu o encontro por 2-1, com dois golos do génio argentino: o primeiro foi marcado a meias com o divino, a "mão de Deus" que ficou para sempre ligada ao argentino, também ele visto como um “deus humano"; o segundo foi uma obra-prima do futebol que os fãs de futebol elegeram, numa votação da FIFA em 2002, como o “Golo do Século”.
O encontro passou a ser tema recorrente sempre que se falava de Maradona, com jogadores adversários que nunca perdoaram o primeiro golo e polémicas à volta de um pedido de desculpas aos ingleses que, disse o próprio, nunca aconteceu.
“O golo continua a ser um golo, a Argentina foi campeã do mundo e eu fui o melhor jogador do mundo. Não posso mudar a história. Tudo o que posso fazer é seguir em frente”, dizia o argentino em 2008.
Na sua biografia Eu sou El Diego, Maradona ainda deu uma nova dimensão ao encontro, que serviu de vingança argentina devido ao conflito entre os dois países que se defrontaram no Estádio Azteca em 1986.
“Ganhar à Inglaterra foi mais do que vencer uma equipa de futebol, foi vencer um país. Dissemos que o desporto nada tinha que ver com as Malvinas, mas sabíamos que morreram muitos argentinos na guerra, baleados como pássaros. Aquilo foi a nossa vingança.”
Filho argentino feito homem em Nápoles
A sua carreira de futebolista durou de 1976 a 2001, começou nos Argentinos Juniors e uma passagem pelo Boca Juniors antes de chegar à Europa para jogar no Barcelona. Aí, ficou duas temporadas, marcadas por várias lesões e episódios controversos dentro do campo que acabaram por ditar o fim da sua (primeira) passagem por Espanha.
A gota de água foram as cenas de violência que Maradona iniciou na final da Taça do Rei de 1984 contra o Atlético de Bilbau, contra quem Maradona já tinha tido desavenças meses antes, em Setembro de 1983, quando Andoni Goikoetxea lhe partiu a perna com uma entrada fora de tempo. O mesmo adversário voltou a cometer uma falta dura sobre Maradona, que se demonstrou descontente com a situação e desencadeou confrontos entre as duas equipas.
O incidente levou o presidente do clube catalão a transferi-lo para o Nápoles, uma venda que rendeu aos cofres dos “blaugrana” o equivalente a cerca de 10 milhões de euros, um valor recorde na altura, que suplantou os números da transferência de Maradona do Boca Juniors para o Barcelona.
“A minha relação com Josep Lluis Núñez, o presidente, era péssima. E coloquei ponto final na minha ligação ao Barça à pancada. Literalmente”, descrevia em 2016 Maradona na sua biografia A Mão de Deus.
Os anos em Nápoles foram a confirmação da estrela: o argentino carregou a equipa para o primeiro título italiano na história do clube, em 1987, e a uma segunda Série A em 1990 (até hoje os dois únicos títulos nacionais do clube), com dois segundos lugares pelo meio. Venceu também a Taça de Itália em 1987 e ajudou a conquistar a Taça UEFA de 1989, o único troféu internacional do Nápoles.
A par do seu talento de futebolista, Maradona também teve uma vida de excessos, em que a droga e o álcool marcaram presença. Vícios que acabaram por corroer a sua saúde e que poderão estar ligados à sua morte prematura. Saiu do Nápoles pela porta pequena, em 1992, depois de uma suspensão de 15 meses devido a uso de cocaína. Até ao final da carreira, ainda teve passagens pelo Sevilha, pelo Newell's Old Boys e um regresso ao Boca Juniors, onde terminou a carreira profissional.
Num dos inúmeros episódios controversos que marcaram a sua vida, foi expulso do Mundial 1994 por doping. Aos 33 anos, Maradona acreditava que poderia conduzir a sua selecção a mais um título mundial e que os meses em que estivera suspenso por consumo de cocaína eram “águas passadas”. Mas um teste positivo fez o sonho esfumar-se: Maradona tinha consumido cinco substâncias proibidas antes do jogo contra a Nigéria e foi suspenso preventivamente e, depois, em definitivo.
“A mim, a droga tornou-me pior jogador, não melhor. Têm noção do jogador que teria sido se não tivesse seguido os caminhos da droga? Teria sido durante muitos, muitos anos, aquele que fui no México. Foi o meu momento de maior felicidade em cima de um relvado”, diz Maradona na sua biografia.
Após a sua carreira de futebolista, Maradona tentou a de treinador. Em 2008, foi mesmo escolhido para liderar a selecção da Argentina, na tentativa que o seu carisma fosse capaz de levar a “albiceleste” de volta ao título que o próprio Maradona lhe oferecera como jogador.
A experiência durou pouco tempo, abandonando o cargo depois de uma caminhada no Mundial de 2010, na África do Sul, em que caiu nos quartos-de-final contra a Alemanha. A curta passagem pela selecção argentina não foi livre de polémica: aquando da qualificação para o Campeonato do Mundo, conseguida com uma vitória por 1-0 contra o Uruguai que permitiu à Argentina apurar-se na última jornada, El Pibe disparou contra os críticos que puseram em causa a sua escolha dois jogos antes, quando a selecção se encontrava em quinto lugar do grupo.
“Que la chupen, que la sigan chupando [chupem e continuem a chupar]. Para os que não acreditaram, para os que me trataram como lixo, agora vão ter de aceitar”, disse logo depois da qualificação. As declarações levaram a FIFA a castigar Maradona com uma suspensão de dois meses.
O Presidente argentino, Alberto Fernandez, já decretou três dias de luto nacional pela morte de um dos grandes ícones da Argentina. Sempre polémico e sem papas na língua, Maradona deixa ao mundo o legado de um futebol vibrante e intenso, que sempre apaixonou os adeptos por ser jogado por alguém que amou o futebol, como fez questão de lembrar na sua despedida do Boca Juniors em 1997, num encontro contra o River Plate.
“O futebol é o desporto mais bonito e saudável do mundo. Se um homem erra, o futebol não deve pagar. Eu errei e paguei por isso. Não é culpa da bola.”