Amaura relança disco de estreia com miniconcerto em videoclipe
Cantora regressa ao seu disco de estreia, EmContraste, num longo videoclipe onde reinterpreta quatro temas do disco, como num EP ao vivo ou num miniconcerto.
A estreia em disco de Amaura concretizou um sonho antigo, o de fazer R&B escrito e cantado em português. Lançado em Setembro de 2019 e apresentado ao vivo em Lisboa (Casa Independente e Capitólio) e Porto (Maus Hábitos), o disco (EmContraste) era integralmente preenchido por onze canções escritas por ela, letra e música, teve quatro singles e voltou este ano às plataformas digitais, acrescido de novo original, Um só, e com o título (Re)EmContraste. Mas, como muitas outras coisas na música, o relançamento foi apanhado pela pandemia, e só agora Amaura o retoma, estreando um videoclipe de 13 minutos onde reinterpreta quatro temas (Só sinto, EmContraste, Surfista da banheira, Um só) como num miniconcerto, que resulta num EP gravado ao vivo. “É um pequeno medley do álbum”, diz Amaura ao PÚBLICO. Os restantes temas do disco são T.P.M., Blues do tinto, Maré doce, Coopero, Dança, Voyeurismos de memória, Marvel da tuga e Valerie.
Nascida em Lisboa, em 19 de Novembro de 1990, Maura Magarinhos (é esse o seu nome) começou a compor os seus primeiros temas ainda cedo, sobre bases instrumentais de outros artistas, percorrendo depois o circuito de bares, em pequenos concertos com bandas como Bling Project ou TNT, o que lhe valeu ser convidada para colaborar com músicos como Sam The Kid, Fred Ferreira (Buraka Som Sistema, Orelha Negra) ou TNT. O que ouvia em criança, em casa, já a influenciava. “Curiosamente, quase tudo o que ouvia a nível familiar eram coisas que eu percebi, mais velha, de que já na altura gostava: jazz, coisas da Motown, e como eu tenho raízes africanas, havia também a mistura de música africana, de Angola, como o semba ou a kizomba. Claro que havia aquelas imposições… Eu tinha uma pancada com os Vaya con Diós e agora não consigo ouvir isso, não consigo.”
E foi fazendo escolhas: “Quando era mais nova, ouvia muito Rui Veloso, Sara Tavares, todos esses nomes que não são só uma coisa, mas que acarretam montes de blues e de soul. E eu gostava daquelas melodias, mas sem uma total compreensão do que estava a ouvir. Mais tarde comecei a introduzir o meu rap, a ouvir coisas grunge, pop, a fazer as minhas próprias referências, daí eu gostar tanto da mistura de blues, de soul, com outras coisas.”
“Um som em português!”
A primeira vez que cantou em público foi na festa de um amigo, num karaoke. Nessa altura não lhe passava pela cabeça ser cantora e autora. “Talvez por prova de segurança, ou até por achar que aquilo que eu gostaria de produzir em termos de som não era uma coisa que eu também ouvisse, aquela confusão normal.” De qualquer modo, achava que, fosse o que fosse, acabaria por ser forçosamente em inglês. Só que a experiência não lhe correu bem. “Eu tentei muitas vezes escrever em inglês, mas parecia-me sempre alguma coisa que eu já tinha ouvido. Então a minha ideia passou a ser fazer isso em português.”
A transição, diz Amaura, acabou por ser “um processo bastante natural”: “Sempre gostei de escrever, não necessariamente música. Então, comecei a tentar compor alguma coisa na língua que mais gosto de ouvir e com que me expresso. Consegui, e pensei: ‘Que bom, estou a conseguir fazer um som em português!’” Quando avançou para o disco, que durou cerca de quatro meses a planear e a gravar, tinha só dois temas. Tudo o resto veio depois. De onde lhe vem a inspiração? “É uma mistura de coisas pessoais com perspectivas de conversas que vou tendo com pessoas, às vezes até com coisas com que me deparo na rua.”
O videoclipe que agora se estreia, filmado a preto e branco e centrado no rosto e no gesto interpretativo de Amaura, afasta-se, pela imagem e pela produção, dos muitos vídeos que vimos durante o confinamento ditado pela pandemia: uma sala, um artista, uma viola. Os espectáculos, entretanto, foram adiados (havia um em Março, no MIL, e outro em Abril, no B.Leza) mas Amaura conta retomá-los logo que possa. “Tenho várias datas marcadas, tudo dependerá da progressão [do vírus]. Mas acho que 2021 vai ser um ano bom!”