Covid-19. Morreu o músico brasileiro Ciro Pessoa, fundador dos Titãs

Membro dos Titãs na década de 1980, Ciro Pessoa ajudou a compor clássicos como Sonífera ilha e Homem primata.

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Ciro Pessoa, dos Titãs, morre de covid-19 DR

O músico brasileiro Ciro Pessoa, um dos fundadores da banda de rock Titãs, morreu na madrugada desta terça-feira, aos 62 anos, na sequência de infecção causada pelo novo coronavírus, anunciou a família.

O músico esteve durante cinco dias internado na Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital das Clínicas, em São Paulo, onde familiares dizem que foi diagnosticada covid-19. A doença terá sido, provavelmente, contraída nas visitas feitas à unidade de saúde, durante o tratamento de um cancro.

Membro dos Titãs no início da década de 1980, Ciro Pessoa participou na composição de canções famosas como Sonífera ilha e Homem primata.

Além dos Titãs, o artista fez parte de outras bandas como Cabine C e Flying Chair, com quem publicou o seu mais recente trabalho.

Nascido Ciro Pessoa Mendes Corrêa, em São Paulo, em 12 de Junho de 1957, formou os Titãs (inicialmente Titãs do Iê-Iê) em 1981, juntamente com Marcelo Fromer, Toni Bellotto, Branco Mello, Nando Reis, Paulo Milkos, Arnaldo Antunes e Sérgio Britto. Um octeto, ao qual viria a juntar-se pouco depois o baterista André Jung, e que se estreou em público no Teatro da Lira Paulistana, em São Paulo, em Agosto de 1982, segundo regista Arthur Dapieve no seu livro BRock, o Rock Brasileiro dos Anos 80 (editora 34, 1995).

Mas Ciro Pessoa abandonou os Titãs antes mesmo da gravação do primeiro LP do grupo, apesar de ter composto várias canções que os Titãs viriam a gravar, como Sonífera ilha, Toda cor e Babi índio, todas elas incluídas no LP de estreia, Titãs (1984);​ ou Homem primata, esta integrada no terceiro LP do grupo, Cabeça Dinossauro (1986)​.

Formou depois Os Jetsons (Branco Mello e Charles Gavin) e os Ricotas do Harlem (com Fernando Salem), grupos de curtíssima duração, antes de lançar o projecto de inspiração gótica Cabine C, com o qual fez o álbum de estúdio Fósforos de Oxford.

Na década de 1990, seria a vez de Ciro Pessoa e Seu Pessoal, grupo pop, e de o músico se dedicar à crónica, publicando textos como Caminho Afora (2002) e O Mundo dos Sonhos (2004), relatos de viagem que lhe deram o Prémio Abril, e que coligiu no seu blogue O Mundo de Mantraman.

Na viragem para os anos 2000, criou outro projecto musical, Ciro Pessoa & Ventilador. Num reencontro com Branco Mello publicou o álbum infantil Eu e Meu Guarda-Chuva. Em 2003 deu início a uma carreira a solo, com o álbum No Meio da Chuva Eu Grito ‘Help!’, a que se seguiria Em Dia com a Rebeldia.

As bandas Nu Descendo a Escada e Flying Chair deram origem aos seus últimos projectos musicais.

“A vida continua, a música é eterna”

Membros dos Titãs usaram esta terça-feira as redes sociais para manifestar tristeza pela morte de Ciro Pessoa.

O cantor e compostor Nando Reis escreveu na sua conta no Facebook que acabara de “saber da morte de Ciro Pessoa, membro importante na formação dos Titãs, amigo constante de convivência e conversação na época. São Paulo era nossa cidade, espaço-lugar para nossa criação e trânsito”.

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…e as notícias ruins não cessam, não param de chegar, a cada manhã um golpe, a destruição do que foi construído, as mortes em sucessão velocíssima. Acabo de saber da morte de Ciro Pessoa, membro importante na formação dos Titãs, amigo constante de convivência e conversação na época. São Paulo era nossa cidade, espaço-lugar para nossa criação e trânsito. Frequentávamos a padaria CPL, ali na João Moura; Ciro sempre com seu casaco verde de brim, Jornal da Tarde embaixo do braço. Ensaiávamos todos os dias e juntos fazíamos os backing vocais: eu, Ciro, Branco, Paulo, Arnaldo, Britto. Algumas das músicas mais emblemáticas dessa fase do nosso repertório tinham sua participação: Sonífera Ilha, Baby Índio, Homem Primata, Dona Nenê. Outras, nunca gravadas, mas tocadas em todos os buracos onde nos apresentamos, fazem parte do ideário new-wave que marcou a pré-história do que vieram a ser os Titãs no Iê-iê: Lilian, a Suja; Johny Cristel… Ele se foi, a vida continua, a música é eterna, e a tristeza me invade. Ciro Pessoa, pessoa única, marcou minha vida.

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“Ele se foi, a vida continua, a música é eterna, e a tristeza me invade. Ciro Pessoa, pessoa única, marcou minha vida”, acrescentou.

Branco Mello contou em sua conta nos Instagram estar “profundamente triste com a partida nessa madrugada” de seu “irmão, músico, poeta e primeiro grande parceiro, Ciro Pessoa. Foi dele a ideia de reunir os amigos compositores no começo dos anos 80 para fazermos uma banda de rock e assim formámos os Titãs”.

“Siga em paz, querido Ciro. Descansa meus olhos, sossega minha boca, me enche de luz”, completou Mello mencionando trechos da música Sonífera ilha.

A mesma mensagem também foi publicada por Arnaldo Antunes, outro artista fundador do Titãs.

O Brasil contabiliza 7.321 óbitos e 107.780 casos de infecção pelo novo coronavírus desde o início da epidemia no país.