Trump rejeita fazer a sua defesa nas audições do processo de destituição
Comissão de Justiça quer ter os artigos de acusação prontos na semana que vem, para fazer a votação antes do Natal e dar início ao julgamento do Presidente no Senado.
A Casa Branca anunciou na sexta-feira à noite que não vai participar nas audições da próxima semana na Câmara de Representantes onde vão ser formuladas as acusações para a destituição (impeachment) do Presidente. Esperava-se que Donald Trump dissesse se ia ou não avançar com uma defesa.
Numa carta ao presidente da Comissão de Justiça, Pat Cipollone, a Casa Branca considera o inquérito “totalmente infundado” e diz que a presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi, ordenou que se avançasse com os artigos de acusação “antes de a Comissão ter ouvido qualquer vestígio de prova”.
“Não vemos qualquer razão para participar porque o processo é injusto”, disse um alto funcionário que falou sob anonimato. “Não nos foi dada qualquer oportunidade justa para participar. A presidente já anunciou os resultados pré-determinados e não nos vão dar a possibilidade de apresentar testemunhas”.
A Casa Branca já tinha recusado participar nas primeiras audiências.
Nadler rejeitou as críticas e disse que está desapontado com a posição da Casa Branca: “Os americanos merecem conhecer as respostas do Presidente Trump”.
Na quinta-feira, pediu à Comissão de Justiça da Câmara (de maioria democrata) para formular os artigos para o impeachment - ou seja as acusações formais - contra o Presidente republicano. Esse trabalho pode estar pronto já na próxima quinta-feira e a votação pode ter lugar antes do Natal (para o julgamento arrancar em Janeiro), pondo em risco a presidência Trump e a sua campanha para a reeleição em 2020.
Com a destituição como objectivo, Pelosi abriu em Setembro um inquérito ao pedido de Trump para a Ucrânia abrir investigações ao antigo vice-presidente Joe Biden, que é de momento o democrata mais bem qualificado para defrontar Trump em 2020.
“A Câmara democrata já gastou tempo suficiente aos americanos com esta charada”, diz Cipollone na carta. “Este inquérito deve ser encerrada imediatamente e não deve ser perdido mais tempo com mais audições”.
Cita Trump: “Se vão destituir-me, façam-no agora, rapidamente, para poder ter um julgamento justo no Senado, para o país poder voltar à sua vida”. Trump deixou claro que vai apresentar uma defesa no Senado, controlado pelos republicanos.
Os membros republicanos da Comissão de Justiça tinham até sexta-feira para identificar testemunhas ao painel. Entregaram uma lista de oito nomes, incluindo o filho de Biden, Hunter Biden, e o denunciante anónimo cuja queixa sobre o pedido de Trump à Ucrânia deu início ao inquérito.
Os republicanos quiseram ouvir o denunciante, Hunter Biden e um antigo sócio de Biden, Devon Archer. Mas os pedidos foram recusados.
Nadler não respondeu aos pedidos dos republicanos para ouvir estas testemunhas. Mas comentou a recusa de Trump em participar: “Tendo rejeitado esta oportunidade, não pode argumentar que o processo é injusto. E não nos vai impedir de continuar com o nosso dever constitucional”.
Nadler tinha dado até às cinco da tarde de sexta-feira a Trump para decidir se ele ou a sua equipa de advogados iam participar nas audições na semana que vem.
Até agora, Trump, que diz Trump não ter cometido qualquer irregularidade, recusou colaborar com o processo e deu ordem para nenhum responsável da Administração, actual ou antigo, testemunhar ou fornecer documentos.
Nadler marcou uma sessão da Comissão de Justiça para segunda-feira. A sua equipa tem que redigir os artigos de acusação e apresentá-los à Câmara de Representantes para votação.
A aprovação da acusação leva à abertura de um julgamento no Senado, onde será decidido se Trump deve ser destituído ou não. Até ao momento, os senadores republicanos não deram indicação de pretender afastar Trump.
Pelosi acusa Trump de abuso de poder ao pedir a um governo estrangeiros para interferir nas eleições dos Estados Unidos para seu benefício e pondo em causa a segurança nacional. Pelo que os artigos de acusação podem incluir abuso de poder, suborno (Trump é acusado de ter feito depender a investigação a Biden de ajuda militar à Ucrânia) e obstrução à justiça.
Os republicanos acusam os democratas de estarem a fazer uma caça às bruxas com motivações políticas e com o objectivo de destituírem Trump num processo injusto de destituição.
O caso assenta num telefonema feito por Trump no dia 25 de Julho a pedir ao Presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, para investigar Joe e Hunter Biden.
Hunter Biden esteve na direcção da empresa de energia ucraniana Burisma quando pai era vice-presidente. Trump acusou os Biden de corrupção, estes negam.
O caso contra Trump é o quarto processo de impeachment nos Estados Unidos. Nenhum dos presidentes foi afastado, mas Richard Nixon demitiu-se perante uma destituição garantida em 1974, na sequência do escândalo Watergate.