Enfermeiros na rua “num momento decisivo da profissão"

O protesto foi promovido pelo Movimento Nacional de Enfermeiros e contou com o apoio dos sindicatos. Organização fala de milhares de participantes.

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Nuno Ferreira Santos
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“Ninguém solta a mão de ninguém.” A frase que foi amplamente partilhada no Brasil, após a vitória de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais, também serviu de lema ao protesto dos enfermeiros marcado para esta sexta-feira, em Lisboa.

Dizem que não é uma manifestação, mas uma marcha de homenagem à profissão. A organização, a cargo do Movimento Nacional de Enfermeiros, afirma que não depende de sindicatos, mas conta com o seu apoio. A Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros (ASPE) até decretou greve nacional para esta sexta-feira, de modo a que os enfermeiros possam participar no protesto. A Ordem dos Enfermeiros também ajudou, a pedido do movimento, através do pagamento dos cerca de 70 autocarros que levaram a Lisboa enfermeiros de todo o país. A decisão, assegura a bastonária, foi tomada em conselho directivo.

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O ponto de encontro escolhido para o arranque da “marcha branca” foi o Parque da Bela Vista, em Lisboa. A partir daí, uma hora de caminhada até ao Hospital Santa Maria com uma paragem pelo meio: alguns enfermeiros decidiram entregar as suas cédulas profissionais num protesto simbólico que não terá implicações práticas, esclareceu Ana Rita Cavaco, bastonária da Ordem dos Enfermeiros ao PÚBLICO.

A logística relacionada com o evento — percurso, horários dos autocarros, orientações e até estampagem de t-shirts — foi sendo partilhada na página do Facebook do Movimento Nacional de Enfermeiros durante os últimos dias.

Foi também através dessa plataforma que o movimento foi comunicando as suas motivações. “Em pleno século XXI, os enfermeiros portugueses encontram-se num momento decisivo da profissão tentando demonstrar à sociedade a importância da sua actuação como classe profissional basilar do SNS.”

“Esta é uma marcha pela valorização da enfermagem e pela dignificação dos profissionais”, disse. É também, acrescenta, uma homenagem a todas as mulheres enfermeiras — esta sexta-feira assinala-se o Dia Internacional da Mulher — e em especial a Florence Nightingale, enfermeira que no século XIX mudou o paradigma da profissão, explicou Sónia Portugal, do Movimento Nacional de Enfermeiros ao PÚBLICO.

A organização estimou que entre 5000 e 6000 pessoas tenham estado presentes nesta marcha. No final, admitiram que o número podia ser superior.

Lúcia Leite e Carlos Ramalho, presidentes da ASPE e do Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (Sindepor), respectivamente, também marcam presença. Os enfermeiros “demonstram que conseguem estar todos aqui sem bandeiras”, disse Lúcia Leite. “A marcha [com milhares de pessoas] vem demonstrar que a 'greve cirúrgica' não foi feita só por alguns enfermeiros.”

Quem também participou na marcha “enquanto cidadão” foi o advogado Garcia Pereira que fez saber que o Sindepor vai apresentar participações à Organização Internacional do Trabalho e ao Conselho da Europa por “violação do direito à greve e do direito à actividade sindical”. Em causa, está a actuação sobre os enfermeiros nas duas greves cirúrgicas, que motivaram uma requisição civil por parte do Governo e a homologação de um parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR) a considerar a paralisação ilícita.

Para Garcia Pereira, a requisição civil funciona como uma espécie de “balão de ensaio”, que suporta teorias que se passarem incólumes farão com que o direito à greve acabe. No entender do advogado, a luta dos enfermeiros é também um movimento pela democracia. “Prezo-me de apoiar a luta dos enfermeiros. Têm sido sistematicamente massacrados, ignorados e nos últimos tempos injuriados”, afirmou à Lusa.

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