Sector do vinho quer ser a locomotiva para um futuro mais sustentável
Depois de Barack Obama, é a vez de Al Gore firmar com a sua presença a necessidade de que um problema comum tem de ter uma resposta colectiva. A Climate Change Leadership arranca esta quarta-feira no Porto.
O principal dos equívocos está identificado: a ideia de que não adianta de nada um pequeno gesto para resolver um problema que assume proporções cada vez maiores. “Isso é errado. Todos os pequenos gestos contam e nós vamos dar vários exemplos de que um problema global pode e deve ter respostas comuns, pequenas ou grandes, mas feitas por todos”, sintetiza Adrian Bridge, presidente da Taylor’s e principal organizador da Climate Change Leadership que se realiza a 6 e 7 de Março, no Porto.
Quando em Junho do ano passado deu o pontapé de saída para o Porto Protocol – o compromisso, a partir do Porto, para que as empresas partilhem entre si as soluções que já encontraram para diminuir a sua pegada ecológica e combater as alterações climáticas – escolheu o ex-Presidente dos Estados Unidos Barack Obama para carimbar a importância da iniciativa. Este ano será o antigo vice-Presidente norte-americano, Al Gore, quem vai falar sobre a importância destas iniciativas. Al Gore tem sido uma voz activa sobre as consequências das alterações climáticas, primeiro no documentário Uma Verdade Inconveniente (de 2006) e, depois em Uma Sequela Inconveniente: A Verdade ao Poder (2017). Pelo meio, pela sua luta contra as alterações climáticas, ganhou o Prémio Nobel da Paz em 2007, que partilhou com Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) das Nações Unidas.
De acordo com Adrian Bridge, actualmente o Porto Protocol conta com a adesão de cerca de 130 empresas, que ao assinarem aquele compromisso partilham com todos os participantes os investimentos que fizeram e os sucessos que atingiram.
São empresas nacionais e internacionais, que estão a dar exemplos concretos do que já está a ser feito, e que partilham informação entre si. “Aprendendo uns com os outros podemos mitigar o nosso impacto no ecossistema global”, diz Adrian Bridge, lembrando, por exemplo, que às vezes não é preciso inventar a roda. É só preciso ouvir e perceber como fez quem a inventou para todos chegarem lá. “No Douro há problemas de seca. Não tenho de inventar nada, tenho de ouvir especialistas como aqueles que na África do Sul enfrentaram secas extremas durante três anos seguidos”, exemplifica Bridge.
André Roux, que integrou o governo sul-africano, vem falar da gestão de recursos hídricos, e da falta deles, no primeiro dia da conferência, que será dedicada à partilha de soluções no sector do vinho. Durante todo o dia de quarta-feira e na manhã de quinta, serão debatidos problemas e ouvidos exemplos com o negócio do vinho, falando desde a planta e do seu território, até às embalagens e aos transportes. “É aceitável que uma marca insista em engarrafar o seu vinho numa embalagem de 1,2 quilos só para convencer os seus consumidores de que o vinho é de qualidade? Temos de conseguir diminuir o peso da embalagem e comunicar com o consumidor que o vinho é de qualidade de outra maneira”, acrescenta Adrian Bridge.
É para ouvir estas questões, “muito relacionadas com a fileira do vinho, mas que podem ser estendidas a todo o tipo de produção agrícola”, refere Bridge, que a organização da Climate Change Leadership tem tido muita adesão na compra de bilhetes, sobretudo a nível internacional (custam mais de 700 euros). Para o público em geral, e para empresários e decisores de todas as áreas, a convocatória está feita para quinta-feira à tarde, para ouvir exemplos como o de Afroz Shah, um advogado que liderou o movimento cívico que limpou a praia de Bombaim, ou Kaj Török, responsável da cadeia sueca Max Burguers, que não só eliminou a sua pegada carbónica como a tornou positiva. Ou ainda Ester Asin, directora na Europa do World Wild Fund, uma organização não-governamental que tem feito muitos estudos relevantes nesta área dos impactos carbónicos, que existem, por exemplo, no acto básico de consumir uma refeição. E é com esses estudos que percebem o longo caminho que há a percorrer: para ter sustentabilidade a pegada carbónica de uma refeição não deveria ultrapassara produção de 500 gramas de dióxido de carbono (CO2) por pessoa. E um menu regular de uma cadeia internacional de fast food atinge mais do triplo: 1,7 quilogramas.
A preocupação com a diminuição do impacto ambiental é uma constante. Na Taylor’s, gerida por Adrian Bridge, conseguiram reduzir o impacto em 10%: uma garrafa de litro de LBV de 20 anos da Taylor’s significava a produção de 3,2 quilos de carbono. “Conseguimos reduzir esse impacto para 2,8 quilogramas”, contabiliza Bridge, para conclui. “Não sabemos se conseguimos reduzir mais porque todos temos interdependência com outros sectores e estamos também dependentes deles e do esforço que eles fazem. Por isto, estas conferências são importantes, e a participação em compromissos como os do Porto Protocol, porque com ele também queremos dar as ferramentas a todos para saberem medir os impactos com precisão.”