Travagem europeia baixa crescimento português para 1,7%
Num cenário de forte travagem na zona euro, Portugal não sai ileso. Ainda assim, a Comissão passou agora a prever um crescimento português 0,4 pontos acima da média europeia.
A Comissão Europeia voltou esta quinta-feira a baixar a sua previsão de crescimento para a economia portuguesa em 2019, afastando-se ainda mais daquela que ainda é a projecção do Governo e confirmando o cenário de deterioração da conjuntura a que se poderá assistir durante este ano. Ainda assim, Portugal deverá registar um crescimento acima da média da zona euro.
Nas previsões de Inverno agora divulgadas, o executivo europeu passou a sua estimativa de crescimento para este ano em Portugal de 1,8% para 1,7%. Esta revisão ligeira colocou a projecção de Bruxelas mais longe dos 2,2% que foram definidos como meta pelo Governo quando apresentou em Outubro a sua proposta de Orçamento do Estado para 2019. Membros do Governo já deram indicações de que está a ser preparada uma revisão em baixa das projecções no Programa de Estabilidade que o executivo irá apresentar em Abril.
Logo para 2018, a Comissão Europeia também passou a apontar para um valor mais baixo de crescimento: 2,1%, contra os 2,2% que foram estimados há três meses.
A explicação dada por Bruxelas para estas revisões das projecções de 2018 e 2019 (para 2020 manteve-se a previsão de 1,7%) está no impacto da deterioração da conjuntura internacional. O relatório afirma que, logo no quarto trimestre do ano passado, a economia portuguesa começou a sofrer o efeito de uma “procura externa menos dinâmica”, dizendo depois que “a expansão económica deverá tornar-se ainda mais moderada devido principalmente à menor contribuição das exportações líquidas”. No que diz respeito à procura interna e particularmente ao consumo, a Comissão diz que o abrandamento será “marginal”.
Efectivamente, nestas previsões de Inverno, o facto mais saliente é a revisão muito acentuada que a Comissão Europeia faz à sua previsão de crescimento para o total da zona euro. Enquanto em Outono estava a antecipar um crescimento de 2,1% em 2018 e de 1,9% em 2019, agora aponta para uns bastante mais pessimistas 1,9% em 2018 e 1,3% em 2019.
Esta travagem da economia europeia tem sido evidente desde o final do ano passado em algumas das principais economias da zona euro, como a Alemanha e a Itália. Esta foi a primeira oportunidade da Comissão para passar a levar em conta nas suas previsões este cenário claramente mais negativo.
Uma vez que é na zona euro que se encontram os principais parceiros comerciais portugueses é evidente a existência de um impacto negativo para as exportações, que têm sido nos últimos anos essenciais para o ritmo de crescimento alcançado.
A revisão em baixa da zona euro em 0,6 pontos percentuais para este ano deve-se ao arrefecimento previsto para a Alemanha, com a maior economia da moeda única a crescer 1,1%, quando antes se estimava 1,8% (no caso de 2018 a diferença é de 0,2 pontos percentuais, para 1,5%). De acordo com Bruxelas, com o arrefecimento do comércio mundial e das perspectivas de crescimento a nível global - a China também está a desacelerar -, é improvável que a subida das exportações de produtos alemães retomem o dinamismo observado no período de 2014 a 2017. Além disso, destaca a Comissão Europeia, antecipam-se constrangimentos ao nível de novos investimentos no país.
Se a revisão sobre a variação alemã foi expressiva, a maior diferença, pela negativa, cabe à Itália, que passa de 1,2% para uns modestos 0,2% (o menor crescimento previsto para a zona euro e toda a União Europeia). A terceira economia maior da zona euro sofreu também a maior revisão em baixa para 2020, com Bruxelas a avançar com 0,8% em substituição dos anteriores 1,3%.
Entre os factores apontados pela Comissão Europeia para esta forte revisão em baixa deste ano está o ciclo de abrandamento superior ao estimado em 2018, amplificado por incertezas políticas externas e internas e por uma menor apetência das empresas italianas para investir. A isto soma-se a desaceleração dos principais parceiros europeus e respectivos impactos nas vendas ao exterior.
Depois de um confronto inicial com Bruxelas sobre o Orçamento do Estado para este ano, que levou a uma subida das taxas de juro da dívida pública italiana no mercado secundário, o Governo de coligação (formado pela Liga e pelo 5 Estrelas) liderado por Giuseppe Conte acabou por acatar algumas das exigências da Comissão Europeia. Ainda assim, recorda agora Bruxelas, as taxas de juros estão “significativamente acima” do valor a que estavam há um ano.
A Holanda também sofreu uma revisão em baixa acentuada para este ano, passando de 2,4% para 1,7%.
Estes são dados que Portugal tem de ter em conta, já que estes países estão no topo das exportações das empresas nacionais, tal como Espanha, França e Reino Unido. No caso de Espanha, o maior parceiro comercial passa de 2,2% para 2,1% este ano, enquanto França desce de 1,6% para 1,3%. Já para o Reino Unido, numa conjuntura de elevada incerteza quando ao “Brexit” e se há saída da União Europeia com ou sem acordo, houve uma ligeira melhoria das previsões, subindo 0,1 p.p. para 1,3%.
Ainda assim, é de notar que, nas previsões da Comissão, Portugal vê o seu crescimento revisto de uma forma bem mais ligeira do que aquilo que é feito em relação à totalidade da zona euro. E uma das consequências disso é que, ao contrário do que acontecia antes, Bruxelas prevê agora, para 2019, que a economia portuguesa cresça mais do que a média da zona euro e por uma margem relativamente confortável: 0,4 pontos percentuais.