Maduro tomou posse: “Eu sou um Presidente democrata profundo”
Depois de tomar posse para um segundo mandato como Presidente da Venezuela, Maduro apontou baterias ao "imperialismo norte-americano", à "direita fascista" e garantiu: “A Venezuela é um país profundamente democrático”.
Nicolás Maduro tomou posse para mais um mandato de seis anos como Presidente da República Bolivariana da Venezuela, numa cerimónia realizada no Supremo Tribunal de Justiça na capital Caracas. No seu longo discurso, apontou baterias ao “imperialismo norte-americano” e às suas “campanhas de manipulação” e tentou demonstrar o carácter democrático do regime político venezuelano. "Eu, Nicolás Maduro, sou um presidente democrata profundo", garantiu.
Maduro chega ao segundo mandato mais isolado do que nunca, tendo sido eleito nas eleições presidenciais de Maio que foram boicotadas pela oposição, e cujos resultados não foram reconhecidos por grande parte da comunidade internacional.
Além disso, devido a um braço-de-ferro com a Assembleia Nacional venezuelana, controlada desde 2015 pela Mesa da Unidade Democrática (MUD), da oposição, Maduro criou uma Assembleia Constituinte, em 2017, esvaziando os poderes do Parlamento, considerando-o em “desacato”.
Foi por isso que esta tomada de posse se realizou no Supremo Tribunal, tal como estabelece a Constituição quando ocorra algum problema que impeça que a cerimónia de juramento se realize no Parlamento – o que Maduro não se cansou de repetir durante o discurso desta quinta-feira.
O Presidente venezuelano agradeceu a todos os representantes internacionais na cerimónia - Evo Morales, Presidente da Bolívia, Miguel Díaz-Canel, Presidente de Cuba, ou Daniel Ortega, Presidente da Nicarágua. “Países que respeitam e amam a Venezuela”, disse, numa alfinetada às nações que não se fizeram representar nem reconhecem a legitimidade do sucessor de Hugo Chávez (casos dos Estados Unidos, da União Europeia ou os 14 países que compõem o Grupo de Lima que tem por missão responder à crise venezuelana).
“Este acto constitucional é um passo de paz para o nosso país”, disse Maduro, antes de apontar a mira aos Estados Unidos: “A Venezuela é o centro de uma guerra mundial do imperialismo norte-americano”. “Como loucos, enlouquecidos, os governos-satélite do imperialismo norte-americano vão inventando, gritando”, continuou.
“Não há um único país [na América Latina] sem uma campanha diária constante, de mentira, sobre a revolução bolivariana, sobre Chávez e, agora, sobre este humilde cidadão, Nicolás Maduro. Foram 20 anos de mentiras escabrosas”, afirmou. “A Venezuela é um país profundamente democrático”, disse, lembrando que “em 19 anos, fizeram-se 25 eleições”, das quais “as forças bolivarianas, chavistas, socialistas, ganharam 23”.
Disse ainda ter havido um “processo de conspiração internacional para boicotar as eleições” que lhe deram um segundo mandato presidencial.
“Aguento tantos ataques, ataques brutais, de uma direita radical, fascista. A direita venezuelana já infectou com o seu fascismo e extremismo as direitas da América Latina e do Caribe. Veja-se o Brasil, com o Presidente fascista, Jair Bolsonaro”, acrescentou.
Sobre a profunda crise económica e social na Venezuela, que já levou ao êxodo de milhões de venezuelanos, nada disse, pelo menos de forma directa. “A Venezuela é um país que ganhou uma grande consciência. Na Venezuela há uma realidade profunda que vive em paz, com felicidade”, assegurou.
Houve também palavras para a Europa: “Da Europa vêm-nos com bons olhos. Os Coletes Amarelos vêm-nos com bons olhos. Mandaram-me um colete amarelo. Uma boa ideia”.
“União Europeia, pára. Basta de agressões contra a Venezuela. Respeita a Venezuela. Ou a história te cobrará esta dívida histórica, mais cedo do que tarde”, atirou, acusando Bruxelas de “colonialismo e racismo”.
Antes da cerimónia, houve tomadas de posição internacionais sobre a situação política na Venezuela. Dos EUA, Mike Pompeo, secretário de Estado, falou em "usurpação de poder". Frederica Mogherini, chefe da diplomacia da UE, "lamentou profundamente" que Maduro tenha tomado posse para "um novo mandato com base em eleições não democráticas".
Mais musculadas foram as reacções de Paraguai e Peru. Ambos anunciaram o corte nas relações com a Venezuela e vão retirar as suas representações diplomáticas em Caracas.