Quem será o sucessor de Kabila na presidência do Congo?
Ao todo, são 21 os candidatos à presidência da República Democrática do Congo.
A República Democrática do Congo vai realizar domingo uma eleição presidencial que poderá levar à primeira transferência democrática de poder no país, após décadas marcadas por governos autoritários, golpes de estado e conflitos mortíferos.
A votação para escolher o sucessor do Presidente Joseph Kabila foi adiada várias vezes e o resultado é incerto, após uma campanha marcada por violentas repressões em manifestações da oposição e a destruição de milhares de máquinas de voto na capital, Kinshasa, durante um incêndio na semana passada.
O favorito de Kabila, Emmanuel Ramazani Shadary, enfrenta um enorme desafio por parte dos dois líderes da oposição: Felix Tshisekedi, presidente do maior partido de oposição, e Martin Fayulu, empresário e ex-administrador na Exxon Mobil.
Uma sondagem feita pelo Grupo de Pesquisa do Congo (CRG), da Universidade de Nova Iorque (EUA), em Outubro, mostrou que os líderes da oposição são os favoritos para cerca de 70% dos eleitores. Tshisekedi estava em primeiro com (36%) do apoio, à frente de Vital Kamerhe (17%) e Shadary (16%); Fayulu ficou em quarto, com 8% de apoio.
Ao todo, são 21 candidatos, incluindo vários críticos de Kabila, o que pode provocar a diminuição dos votos da oposição e aumentar as hipóteses de Shadary.
Os resultados também podem ficar comprometidos devido a acusações de fraude semelhantes às que mancharam a eleição presidencial de 2011. A oposição criticou o uso de máquinas de voto electrónicas não testadas onde, afirmam, é mais fácil manipular os resultados.
Emmanuel Shadary, o escolhido
O ex-governador da província de Maniema, de 58 anos, é ex-ministro do Interior desde o final de 2016 até Fevereiro deste ano, quando foi nomeado secretário permanente do PPRD (Partido Popular da Reconstrução e Democracia) de Kabila. É um feroz defensor do Presidente e foi responsável por repressões contra manifestantes e grupos pró-democracia enquanto Ministro do Interior, especialmente após a recusa de Kabila em deixar o poder quando o seu mandato terminou em 2016. Em Maio de 2017, a União Europeia acusou-o de "planear, dirigir ou cometer actos que constituam graves violações aos direitos humanos”.
Foi escolhido por Kabila, o que sugere que o Presidente pretende permanecer envolvido na política nacional. Se vencer, pode dar continuidade às políticas de Kabila, nomeadamente no sector mineiro. No início do ano o Governo aumentou os impostos deste sector, apesar da oposição dos investidores estrangeiros.
Felix Tshisekedi, o herdeiro
Felix Tshisekedi, de 55 anos, é o presidente do maior partido da oposição do Congo, a União para a Democracia e Progresso Social (UDPS). A sua legitimidade política deve-se ao facto de ser filho (e herdeiro político) do histórico líder da oposição Etienne Tshisekedi, que morreu aos 84 anos no ano passado em Bruxelas.
Em Novembro, decidiu sair de uma aliança da oposição que visava ter um candidato único e eleger Martin Fayulu. Tshisekedi disse que, se ganhar, nomearia Vital Kamerhe primeiro-ministro. Em troca, diz, apoiará um candidato da União de Kamerhe na eleição presidencial de 2023. “Se for eleito, a minha prioridade será restaurar a paz e a segurança em todo o país”, disse Tshisekedi à Reuters.
Martin Fayulu, o empresário
Martin Fayulu, de 61 anos, tem o apoio de importantes nomes da oposição, como Jean-Pierre Bemba e Moise Katumbi, que foram impedidos pelas autoridades de concorrer às eleições. Foi durante quase duas décadas director da gigante petrolífera americana Exxon Mobil. Prometeu, sem dar pormenores, rever os contratos de mineração e petróleo.
“As pessoas precisam de líderes que lhes proporcionem desenvolvimento, e prosperidade”, disse Fayulu a jornalistas em Genebra, depois de a sua candidatura ter sido anunciada. “Estamos comprometidos em realizar este trabalho para que o Congo deixe de ser motivo da troça do mundo”. É o presidente do partido União pela Cidadania e Desenvolvimento (ECIDE).