Entrevistas de deputados evidenciam divisão no PSD

De um lado, Miguel Morgado, no Observador. Do outro, Teresa Leal Coelho, no Diário de Notícias. Duas entrevistas em dois dias mostram que o PSD de Rui Rio não é, actualmente, o único.

Miguel Morgado
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Miguel Morgado Nuno Ferreira Santos
Teresa Leal Morgado
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Teresa Leal Morgado Rui Gaudencio

Miguel Morgado critica Rui Rio, mostra-se desencantado com a direcção do PSD, tem na manga um movimento de reflexão para repensar o espaço político de direita e apresenta-se como um activo para o futuro do partido. “A minha candidatura ao PSD nunca ficaria dependente das candidaturas alheias”, assume ao Observador, antecipando o congresso de 2020. Já Teresa Leal Coelho, no Diário de Notícias, opta por fazer contenção de danos, mostrar-se moderada e até defender que o líder fique no partido, em caso de derrota. “Eu duvido que Rui Rio tenha um mau resultado nas europeias. Mas, seja qual for o resultado, Rui Rio deve ficar”, afirma.

As duas entrevistas foram publicadas com intervalo de algumas horas, uma antes do Conselho Nacional do PSD outra no day-after. A reunião decorreu em Setúbal, entre as 21h30 de terça-feira e as 2h da manhã de quarta, e foi descrita pelo vice-presidente Nuno Morais Sarmento como tendo sido "uma manifestação de maturidade e entusiasmo", em que a generalidade dos presentes reconheceu que o interesse do partido "obriga" todos a remar na mesma direcção.

"O Conselho Nacional tem decorrido com normalidade, com diversidade, mas com a consciência por parte de todos que, a partir deste momento, o interesse do PSD nos obriga a remarmos, colocarmos todas as nossas forças numa única direcção", afirmou, em declarações aos jornalistas a meio da reunião.

Antes, já Miguel Morgado – ex-assessor político de Pedro Passos Coelho no governo e deputado que integra a “minoria ruidosa” crítica da liderança, como costumam dizer elementos da direcção nacional – tinha sido entrevistado pelo Observador, clarificando a sua posição de reserva do partido e insistindo que o que se espera de um líder é que ganhe eleições.

“Qualquer líder do PSD é líder para proporcionar uma alternativa de governo e de governação. Isso só é possível ganhando eleições. Portanto, todos os líderes do PSD, alguns com uma conjuntura mais fácil do que outros, e não vou negar que a de Rui Rio é mais difícil, têm a obrigação de ganhar eleições”, disse o parlamentar.

Morgado, que anuncia na entrevista estar prestes a lançar um movimento de reflexão para repensar o espaço político da direita “não-socialista” em Portugal, assume que foi um erro não ter avançado antes na corrida à liderança do PSD, erro que partilha com Luís Montenegro, Paulo Rangel ou Pedro Duarte.

Porém, agora o momento é de refundação, de agregar a direita e recusar o socialismo português que descreve como sendo o da estatização, da centralização e do compadrio. Nesse contexto, o seu “objectivo é converter o PSD numa grande federação das várias famílias não-socialistas” com todo o espaço político disponível, da Aliança ao CDS.

“Essa refundação não se faz quando há um entendimento de uma direcção partidária, neste caso do PSD, de que a estratégia deve ser de aproximação ao PS. Eu acho que isso é uma desistência da tarefa primordial que está à frente dos olhos do PSD, enquanto líder deste espaço não-socialista. Essa é a prioridade evidente que não foi acautelada nos últimos meses”, disse.

Ainda sobre a sua eventual candidatura em 2020, Morgado referiu: “Não sou menos do que os outros, sim, terei de fazer uma ponderação mais lá para a frente sobre se tenho os meios ao dispor para lançar uma proposta dessas aos meus companheiros de partido. Mas sim, não excluo essa possibilidade. Mas isso é uma ponderação que só posso fazer nessa altura”.

E o deputado também teve uma palavra sobre o regresso de Pedro Passos Coelho. "O PSD tem de encontrar novos protagonistas, não pode ficar só dependente de uma única pessoa que quando está ausente o partido afunda. Tem de haver um grupo o mais alargado possível, e este tem de ser o tempo para essas pessoas se atravessarem, para irem a luta, quer estejam mais próximas da direcção actual, quer estejam mais críticas, como eu. Tudo cabe no espaço do PSD.”

Virtudes e defeitos

Teresa Leal Coelho apresentou-se mais contida, na entrevista ao DN, e queixou-se de que “há militantes a manipular o eleitorado contra o PSD”. “Não compreendo a guerrilha a nenhum presidente de um partido eleito”, disse. “Criticar esta ou aquela posição é perfeitamente normal que haja dissensão relativamente a determinadas posições. O que não é normal, e é extraordinariamente incompreensível e lesivo é fazer - e agora sou eu que utilizo a sua expressão - guerrilha interna, de uma forma subliminar.”

Na entrevista, a presidente da Comissão de Orçamento e Finanças, escolheu como virtudes de Rui Rio a determinação e a resiliência. “É um homem que tem cunho muito positivo do ponto de vista da honestidade, da credibilidade. Isso é muito bom. É cada vez mais necessário”. Os defeitos eleitos foram os mesmos. “E julgo que, depois, como defeito, talvez essa resiliência e essa determinação também possam ser um defeito. Há quem diga que sim. Não é que eu esteja totalmente de acordo”, referiu, cautelosa.

A deputada, que é vereadora do PSD na Câmara de Lisboa, também falou sobre Passos Coelho. “Devem deixar Pedro Passos Coelho em paz. Sossegado. Na sua vida profissional e familiar. E, se um dia ele entender que tem condições e é altura de voltar, com certeza que o partido o recebe de braços abertos. Não só o partido, mas também o país. Pedro Passos Coelho é um homem que fica na história”, concluiu.

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