Coletes Amarelos não desmobilizam: “Se for preciso, volto no próximo sábado”

Com gás pimenta e canhões de água a polícia tentou manter os protesto longe dos Campos Elíseos — mais de 200 pessoas foram detidas e 90 ficaram feridas. Movimento luta contra a perda de poder de compra.

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Pelo terceiro sábado consecutivo os "coletes amarelos" saíram às ruas de França e deixaram Paris mergulhada em violência. Na manhã deste sábado, a situação fugiu do controlo das autoridades que tentaram, sem sucesso, evitar que os manifestantes tomassem o Arco do Triunfo. Mais de 200 pessoas foram detidas, 92 ficaram feridas, entre as quais 14 polícias. Dezenas de estações de metro da capital foram encerradas e lojas evacuadas. 

É o terceiro grande protesto deste movimento contra a perda de poder de compra e o aumento do imposto dos combustíveis. 

Desde as 6h (5h em Lisboa) que a Avenida dos Campos Elísios esteve vedada ao tráfego e sujeita a uma vigilância policial apertada, numa tentativa de impedir a concentração dos manifestantes na zona. Ao meio-dia concentravam-se nos Campos Elísios 5500 manifestantes, de acordo com o balanço do primeiro-ministro, Edouard Philippe. 

O Ministério do Interior informou que mais de 75 mil pessoas manifestaram-se em várias cidades francesas. Houve também confrontos em Toulouse.

“Esta manhã, indivíduos equipados e determinados (…) mostraram grande violência. As forças de segurança têm sido objecto de ataques que elas próprias descrevem como de uma violência raramente vista”, disse o primeiro-ministro, citado pelo Le Monde. Edouard Philippe disse estar “chocado” por o protesto estar a usar um dos “símbolos da França”, o Arco do Triunfo.

A maioria dos detidos em Paris tentaram quebrar o cordão de segurança montado para impedir a repetição das imagens de sábado de confrontos nos Campos Elísios - o que levou o Presidente Emmanuel Macron a dizer, na semana passada, que o protesto estava a manchar a imagem internacional de França. Durante o dia deste sábado não houve reacção do Presidente que está na Argentina a participar na reunião do G20.

Dois dos manifestantes tinham na sua posse armas proibidas, de acordo com fonte policial. A polícia de intervenção usou gás pimenta, granadas de fumo e canhões de água para os dispersar, diz a AFP. 

O Palácio Brongniart, que já serviu de sede para a Bolsa de Valores de Paris, foi também atacada pelos manifestantes. Vários carros da política foram destruídos e um manifestante chegou a roubar uma arma de assalto de um dos veículos.

"Quanto mais eles disparam gás, mais as pessoas ficam furiosas. Se nos deixassem manifestar nos Campos Elísios e sem gás, as coisas não seriam assim. Hoje tenho medo que a França entre em guerra civil. Se for necessário, voltarei no próximo sábado", afirmou Corinne, uma “colete amarelo” vinda dos subúrbios de Paris, em declarações à Lusa, junto ao Arco do Triunfo.

"Sempre que os manifestantes tentam passar, somos gaseados. Tentam conter-nos aqui. Mas eu acredito que só precisamos que venham mais pessoas, sem força nunca teremos nada em França. As pessoas não vêm para passear ou para visitar o Arco do Triunfo, vêm porque estão fartas desta situação", disse Dominique, vindo dos arredores de Paris.

De acordo com o ministro do Interior francês, Christophe Castaner, havia 200 manifestantes pacíficos e 1500 “agitadores” no exterior do perímetro de segurança. Castaner refere-se ao facto de os manifestantes não aceitarem não poder concentrar-se à volta do Arco do Triunfo, também apelidado de Praça da Estrela, por ser uma rotunda que reúne várias avenidas.

“Acreditamos que pequenos grupos de manifestantes, que não estão vestidos com o colete amarelo, se tenham infiltrado para lutar contra as forças de segurança e desafiar a autoridade do Estado”, disse à agência Reuters Denis Jacob, secretário-geral do sindicato da polícia francesa.

Numa das avenidas adjacentes aos Campos Elísios, a avenida Mac-Mahon, caixotes do lixo foram derrubados e incendiados.

Pelo menos cinco mil polícias foram destacados para os Campos Elísios, mais três mil que no sábado passado. Há mais cinco mil polícias de prevenção em todo o país, pois o protesto é alargado a toda a França - foram marcadas outras 33 manifestações.

O movimento "coletes amarelos", que já elegeu os seus representantes nacionais, abriu a hipótese de negociar com o Presidente. Na terça-feira, houve uma reunião com o ministro da Transição Ecológica, François de Rugy, mas não houve acordo e os protestos vão prosseguir todos os sábados.

Uma das palavras de ordem dos "coletes amarelos" é manter a luta até à demissão do Presidente. A transição ecológica pretendida por Macron foi o rastilho para os protestos devido à subida dos impostos dos combustíveis que isso implica. Mas rapidamente as reivindicações passaram temas mais abrangentes, tais como a melhoria das condições de vida da classe média e das populações rurais.

Macron garantiu na semana passada que não iria ceder perante a violência, propondo no entanto rever os preços dos combustíveis trimestralmente de forma a adaptá-los à variação do preço do petróleo.

Este protesto nacional já galgou fronteiras e chegou a Bruxelas, na Bélgica, onde centenas de pessoas vestidas com "coletes amarelos" se manifestaram na sexta-feira. Sessenta pessoas foram detidas.

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