López Obrador está há 42 anos na política e ainda é a cara da renovação
Com 65 anos, Andrés Manuel López Obrador chega à Presidência do México depois de o ter tentado duas vezes. Vender o avião presidencial e reduzir o próprio salário são duas das promessas mais simbólicas. E também romper com o sistema do qual faz parte desde 1976.
Quando apareceu na capa da revista cor-de-rosa Hola, em Outubro, no opulento casamento do seu assessor de imprensa de longa data, o Presidente eleito do México, Andrés Manuel López Obrador (AMLO), veio dizer que se tratava de um “evento privado”, sem esconder o seu incómodo.
Por um lado, isto podia aproximá-lo ao seu antecessor, Enrique Peña Nieto, regularmente tema de capa da mesma revista pelo seu casamento com a actriz Angélica Rivera. Por outro, podia ser visto como uma contradição à sua mensagem de austeridade e de desapego a privilégios – um mês antes não se importou de ser fotografado durante uma espera de cinco horas para partir num voo comercial, reforçando com isso a promessa de vender o avião presidencial.
Ver-se livre do “poder da máfia” que governou o México nas últimas décadas e “alcançar a paz e acabar com a guerra”, num país que tem visto as taxas de homicídio a bater todos os recordes, foram os principais pontos do discurso de campanha do Presidente que toma posse neste sábado.
A luta é contra o próprio sistema político, apesar de fazer parte dele há décadas.
Nasceu em 1953, na zona rural de Tepetitán, no estado de Tabasco. Em 1976 entrou para o Partido Revolucionário Institucional (PRI). Terá sido Rocío Beltrán Medina, uma aluna de Sociologia, que o levou a entrar no partido para abraçar o progressismo. Ambos viriam a casar-se em 1979 e tiveram três filhos. Rocío morreu em 2003 e Obrador voltou a casar-se em 2006 com Beatriz Gutiérrez Müller, que era funcionária da autarquia da Cidade do México no período em que governou a capital.
Dez anos depois da filiação ao PRI, virou-se para a Corriente Democrática, que depois se tornou o actual Partido da Revolução Democrática (PRD, esquerda).
Em 1994 candidatou-se pelo PRD ao cargo de governador de Tabasco, sem sucesso. Entre 1996 e 1999 foi líder do partido e, em 2000, foi eleito presidente da câmara da Cidade do México.
Durante estas décadas em que AMLO esteve em relevantes cenários políticos foi formando uma imagem de populista e nacionalista. E também foi recebendo variadas alcunhas, umas mais pessoais, outras mais políticas: El Americano, La Piedra, El Comandante ou El Peje (devido a um peixe comum de Tabasco, o pejelagarto – peixe-lagarto)
Em 2005 teve a oportunidade de testar as suas capacidades nas eleições presidenciais de 2006. Perdeu-as tendo conquistado 35% dos votos. Depois lançou acusações de fraude eleitoral, mas não conseguiu impedir que Felipe Calderón, do Partido de Acção Nacional (PAN, direita) chegasse à presidência.
Voltou a tentar em 2012, numas presidenciais onde ainda teve menos votos (31%) contra os 38% de Enrique Penã Nieto, pelo PRI, que governou o México até aqui. Ainda impugnou estas eleições, mas saiu derrotado.
Em 2012 saiu do PRD para fundar, dois anos depois, o Movimento Regeneração Nacional (Morena), com o qual foi às eleições deste ano tornando-o o partido hegemónico no México. E conquistou 53% dos votos, mais do que qualquer outro candidato presidencial mexicano.
Obrador foi aproveitando as oportunidades para cimentar a sua postura e a sua intenção de “transformar o México”, realçando que pretende ser como qualquer outro mexicano, abdicando de todos e quaisquer privilégios
“Eu não quero guarda-costas, o que significa que os cidadãos vão tomar conta de mim e proteger-me”, disse AMLO em Julho.
Recusou-se também a viver na residência presidencial na Cidade do México: “Não vou viver em nenhuma mansão”, prometendo reconverter a residência no centro de artes para “o povo mexicano”.
Garantiu ainda que vai vender o avião presidencial e proibir os responsáveis governamentais de viajar com aeronaves privadas. “Nós não podemos ter um Governo rico e um povo pobre”.
E ainda reduzir o salário do chefe de Estado: “Vou receber metade do que ganha Peña Nieto. E vamos reduzir os salários dos que estão no topo para aumentar os de que estão em baixo”, afirmou durante a campanha.
Enquanto esteve na oposição, e como candidato presidencial, AMLO foi atacando a militarização da estratégia de segurança dos dois anteriores Presidentes, prometendo tirar os soldados das ruas. Mas, na semana passada, os deputados do seu partido avançaram com uma proposta de criação de uma guarda nacional, que combine militares e polícias sob um comando único. Isto está já a ser visto como uma quebra de promessa e como uma política de continuidade relativamente a Calderón e Peña Nieto.
O novo Presidente mexicano prometeu também oposição férrea ao Presidente norte-americano, Donald Trump, garantindo que não vai deixar que o México seja o “bode expiatório” dos Estados Unidos. A situação dos imigrantes na fronteira com o vizinho americano, em Tijuana, é também um dos problemas em cima da sua mesa. De acordo com o que tem sido noticiado, AMLO já se vai sentando à mesa com Washington para tentar resolver o problema.