Dirigentes europeus pedem novas sanções contra a Rússia

Ministros dos Negócios Estrangeiros da UE vão discutir a aplicação de mais sanções no dia 10. Governo russo diz que nenhum problema se irá resolver dessa forma.

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O marinheiro ucraniano Iuri Budzilo durante uma audiência no tribunal na Crimeia Reuters/PAVEL REBROV

Vários responsáveis europeus admitiram a possibilidade de que sejam aplicadas novas sanções à Rússia como punição pela apreensão de três navios ucranianos, num incidente que o Ocidente receia poder vir a gerar um conflito mais alargado.

Os mercados financeiros reagiram à hipótese de novas sanções ocidentais poderem danificar a economia russa, embora o rublo na terça-feira tenha recuperado algumas das perdas do dia anterior, uma vez que os investidores apostaram que as medidas não venham a ser aplicadas rapidamente.

Depois de, no domingo, a Rússia ter disparado contra as embarcações ucranianas e ter detido a tripulação ao largo da Crimeia – que a Rússia anexou em 2014 – Moscovo e Kiev tentaram atirar a culpa um para o outro.

Num telefonema na segunda-feira, o Presidente Vladimir Putin disse à chanceler alemã Angela Merkel que Moscovo está preparado para fornecer mais detalhes para apoiar a sua versão dos acontecimentos. Moscovo diz que Kiev provocou o incidente de forma deliberada para abrir uma crise.

Merkel, que também falou na segunda-feira com o Presidente ucraniano Petro Poroshenko, apelou ao apaziguamento e ao diálogo.

Detidos falam à televisão

A Ucrânia instaurou a lei marcial por 30 dias nas partes do país consideradas mais vulneráveis a um ataque da Rússia. Garantiu que os seus navios nada fizeram de errado e manifestou o desejo de que o Ocidente aplique novas sanções a Moscovo.

Alguns dos 24 marinheiros ucranianos detidos pela Rússia por navegarem em águas territoriais russas foram gravados pela televisão estatal na terça-feira a admitir fazer parte de uma provocação planeada previamente. Kiev denunciou o que descreveu como confissões forçadas.

Um tribunal da Crimeia decidiu manter dois dos marinheiros detidos por dois meses. É expectável que veredictos semelhantes sejam aplicados aos restantes.

Os navios foram capturados pelas forças russas perto do estreito de Kerch, que é a única rota para o mar de Azov e controla o acesso a dois dos maiores portos ucranianos.

O político conservador alemão Norbert Roettgen, um aliado de Merkel, disse que a União Europeia poderá ter de endurecer as suas sanções contra a Rússia, impostas em parte por causa da anexação da Crimeia.

A ministra dos Negócios Estrangeiros austríaca, Karin Kneissl, país que detém a presidência rotativa da UE, disse que a avaliação do bloco europeu vai depender “da exposição dos factos e do comportamento futuro de ambas as partes”.

A Polónia e a Estónia, ambos Estados-membros duros com a Rússia, manifestaram apoio a mais sanções.

O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros polaco, Bartosz Cichocki, disse à Reuters que o incidente no estreito de Kerch veio dar razão aos apelos de Varsóvia a favor de uma posição ocidental mais unida em relação à Rússia.

“A Rússia continua convencida de forma equivocada que a reacção ocidental não é unida por existir uma posição em termos de energia e outra em termos de defesa”, afirmou o ministro, sublinhando que alguns Estados-membros tais como a Alemanha apoiaram o gasoduto Nord Stream 2, que vem aumentar a dependência europeia de gás russo.

O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Alexander Grushko, disse que a aplicação de mais sanções não irá resolver qualquer problema. “Se alguém quiser usar isto como pretexto para uma escalada política, penso que não será um sinal na direcção certa”, afirmou à margem da Conferência de Segurança de Berlim.

Nesta terça-feira era ainda pouco claro se os 28 Estados-membro da UE poderiam concordar num texto conjunto para apelar à Rússia a libertação dos navios e dos marinheiros ucranianos. Os ministros dos Negócios Estrangeiros europeus vão discutir o assunto no dia 10, e os líderes da UE devem chegar a acordo para estender as sanções já existentes no final do próximo mês, de acordo com fontes diplomáticas.

As mesmas fontes disseram que a escalada mais recente enfraqueceu a posição da Itália e de outros países menos duros com a Rússia.