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Avião em emergência aterrou em Beja à terceira tentativa

O avião teve uma "falha crítica nos sistemas de navegação e controlo de voo" e acabou por aterrar em Beja com a ajuda de dois caças da Força Aérea. Não se sabe ainda o que está na origem do problema.

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LUSA/NUNO VEIGA
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A trajectória errática do avião pelas 15h Flightradar24

Um avião civil em situação de "emergência" conseguiu aterrar este domingo na pista da Base Aérea de Beja à terceira tentativa, confirmou ao PÚBLICO fonte da NAV (Navegação Aérea de Portugal). 

O avião, um Embraer da companhia aérea do Cazaquistão Air Astana, descolou da pista de Alverca (onde estaria a fazer manutenção nas oficinas da OGMA – Indústria Aeronáutica de Portugal) e tinha seis tripulantes a bordo. O avião foi acompanhado por duas aeronaves F-16 da Força Aérea, confirmou ao PÚBLICO o porta-voz da Força Aérea, Manuel Costa. 

A aeronave Embraer fazia um voo experimental quando os pilotos terão sido confrontados com uma eventual avaria nos instrumentos de voo, forçando-os a fazer um errante no espaço aéreo da região ribatejana até que a Base Aérea de Monte Real foi alertada para um avião com problemas a bordo.

A fonte da NAV refere que a causa do problema é ainda desconhecida. À Lusa, uma fonte aeronáutica disse que o avião teve “uma falha crítica nos sistemas de navegação e controlo de voo”. Durante a emergência, as autoridades chegaram a equacionar a possibilidade de a aeronave pousar no rio Tejo, mas as condições atmosféricas não o permitiram. 

“Maior responsabilidade em questões de segurança”

Os caças, informa o porta-voz, demoraram 18 minutos desde o momento em que foram activados até ao momento em que chegaram ao pé do avião em causa; depois, levou “cerca de uma hora” até aterrar o avião em segurança. “Já existiram situações semelhantes, mas com este envolvimento de todos os meios e com a activação de todo o sistema de busca e salvamento não me recordo”, diz ao PÚBLICO o tenente-coronel Manuel Costa, referindo que foram duplicados os operacionais em alerta.

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Também o presidente da Associação dos Pilotos Portugueses de Linha Aérea (APPLA), Miguel Silveira, diz ao PÚBLICO que não se recorda “nos tempos mais recentes de uma emergência tão grande na zona terminal do aeroporto de Lisboa”. O responsável diz ainda que a situação deve servir de aviso para a classe política e para empresas de transportes aéreos de que “as coisas não acontecem só em casa alheia”, pedindo “maior responsabilidade em questões de segurança”.

O piloto foi recuperando com o tempo alguns dos instrumentos que tinham avariado, o que lhe permitiu aterrar em Beja, disse a mesma fonte à Lusa. A escolha do aeroporto de Beja foi feita por vários factores, nomeadamente o comprimento da pista e as condições meteorológicas. 

Miguel Silveira explica que o piloto deve assegurar não só a sua segurança e a da restante população, mas também a de quem está em terra – o que ajuda a justificar a escolha do aeroporto de Beja, “que tem uma pista grande e cujas redondezas não são tão densamente povoadas”. E acredita que os pilotos devem ter vivido uma situação de “desespero”, já que até ponderaram amarar, uma “situação em que a taxa de sucesso é mínima”.

A ajuda dos caças da Força Aérea

“Dois F-16 da Força Aérea Portuguesa conseguiram fazer aterrar em segurança no aeroporto de Beja um Embraer com os instrumentos de navegação avariados”, escreveu no Twitter o ministro da Defesa, João Cravinho. “Outros dois F-16 estavam em prontidão, bem como a Marinha para o caso de aterragem de emergência no mar”, adiantou ainda.

Com a chegada dos F-16, o avião civil foi conduzido para a Base Aérea n.º11 em Beja, para uma tentativa de aterragem. Antes desta operação, o avião da Air Astana evolucionou durante cerca de 20 minutos, sobre a região de Beja para consumir combustível, prevendo-se alguma situação anómala durante a operação de aterragem.

Às 15h05 a aeronave fez a primeira tentativa de aterragem (que falhou) e novamente os F-16 tomaram conta da aeronave civil para que esta procedesse a nova tentativa de aterragem. Numa delas alguns observadores notaram que uma das asas quase tocou o solo.

Dois tripulantes do avião, um natural do Cazaquistão e outro de Inglaterra, sofreram ferimentos ligeiros e deram entrada no hospital da cidade, revelou fonte da unidade hospitalar. Um deles apresentava "tensão alta e alguma ansiedade" e o outro foi observado "pelo serviço de Ortopedia", disse fonte hospitalar à Lusa. Os dois homens já tiveram alta.

O tenente-coronel Manuel Costa, da Força Aérea Portuguesa, explica ao PÚBLICO que o sistema de comunicação da aeronave não falhou – e, mesmo que falhasse, existem outros sinais que permitiram a comunicação. Os caças “colocaram-se ao lado da aeronave”, que assim poderia limitar-se a segui-los. “É mais confortável numa situação de emergência”, diz Manuel Costa, dizendo que os F-16 oferecem sobretudo “guiamento, apoio e condução”.

A NAV acompanhou a situação para “criar condições para aterrar” e foram feitas três "tentativas de aterragem em Beja"; os bombeiros locais foram mobilizados para o aeroporto. 

O Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Beja mobilizou para a Base Aérea n.º11 "dois veículos urbanos de combate a incêndios, com um total de 12 operacionais, um veículo de desencarceramento, com seis operacionais, seis ambulâncias e quatro elementos de comando", disse à Lusa o comandante distrital, major Vítor Cabrita.

Já fonte do Comando Territorial de Beja da GNR avançou que foram "mobilizadas cinco patrulhas e dois graduados, caso fosse necessário garantir corredores de evacuação", mas "não chegaram a ser empenhados". "Tivemos foi duas outras patrulhas da GNR no controlo de acessos ao aeroporto, mas mesmo aí também não houve problemas", disse a mesma fonte.

A PSP de Beja foi igualmente alertada para a emergência do avião, apesar de a aterragem de emergência se ter verificado na Base Aérea n.º11, de competência militar.

Incidente vai ser investigado

O Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) vai investigar o incidente aéreo, disse fonte oficial do organismo à Lusa. Os investigadores vão recolher os dados da aeronave e obter informações da tripulação que se encontrava no aparelho, com vista à realização de uma investigação à ocorrência.

A aeronave descolou de Alverca às 13h21 e tinha como destino Minsk, capital da Bielorrússia, informa a NAV. Acabaria por aterrar na pista 19 do aeroporto de Beja às 15h27.

No Flightradar24, plataforma online que permite acompanhar voos, vê-se a trajectória errática do voo KC1388/KZR1388. A trajectória deixou de poder ser verificada na plataforma depois de o avião estar abaixo dos 900 pés (274 metros) de altitude. 

Depois de sobrevoar a região de Lisboa, o avião estava pelas 15h a sobrevoar os céus do Ribatejo. Alguns minutos depois, já seguia em direcção a Beja.

A base militar de Beja dispõe de todos os instrumentos e meios de socorro para actuar em situações como a que ocorreu ao início da tarde deste domingo com o avião da Air Astana. O avião permanece na pista da base aérea de Beja. com Lusa

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