EUA aproveitam caso Khashoggi para pedir fim das hostilidades no Iémen

O secretário da Defesa e o secretário de Estado norte-americanos pediram, no mesmo dia, um ponto final no conflito no Iémen, que envolve uma coligação liderada por Riad e os rebeldes huthis, supostamente apoiados pelo Irão. Washington quer início de conversações em Novembro.

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Guerra que dura há quase quatro anos gerou a mais grave crise humanitária do mundo Reuters/KHALED ABDULLAH

Os EUA pediram o fim das hostilidades no Iémen, país que enfrenta quase quatro anos de guerra civil, com o envolvimento de uma coligação liderada pela Arábia Saudita e pelos Emirados Árabes Unidos, responsável pela maior crise humanitária do mundo. O apelo surge numa altura em que as relações entre Riad e a comunidade internacional se distanciaram devido ao assassínio do jornalista Jamal Khashoggi no consulado saudita na cidade turca de Istambul.

Na madrugada desta quarta-feira, em Washington, o secretário da Defesa norte-americano, James Mattis, disse que a Arábia Saudita e os seus aliados estão disponíveis para um acordo de cessar-fogo e que as conversações entre esta coligação e os rebeldes huthis estão a ser planeadas pelo enviado especial das Nações Unidas, Martin Griffiths.

A coligação liderada pelos sauditas entrou na guerra civil do Iémen para apoiar um governo reconhecido internacionalmente que combatia os huthis, supostamente apoiados pelo Irão, grande rival de Riad no Médio Oriente.

Poucas horas depois da declaração de Mattis, Mike Pompeo, secretário de Estado dos EUA, divulgou um comunicado a pedir o cessar-fogo: “O tempo chegou para o fim das hostilidades, incluindo ataques de mísseis e UAV [sigla em inglês para veículo aéreo não tripulado] a partir de áreas controladas pelos huthis contra o Reino da Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos. Subsequentemente, os ataques aéreos da coligação devem parar em todas as áreas povoadas do Iémen.”

Pompeo disse ainda que as conversações mediadas pelo enviado da ONU devem começar em Novembro: “Consultas substanciais sob [a mediação do] o enviado especial da ONU devem começar este Novembro num país terceiro para lançar medidas de fortalecimento da confiança e abordar as questões subjacentes ao conflito, a desmilitarização das fronteiras e a concentração de todas as armas de grande porte sob observação internacional.”

O secretário de Estado não especificou o país onde deverão ocorrer as conversações, mas, anteriormente, Mattis já havia posto a possibilidade de as mesmas decorrerem na Suécia.

Os EUA têm-se mantido relativamente afastados do conflito no Iémen, uma vez que, tal como a Arábia Saudita, consideram o Irão o principal perigo no Médio Oriente. Aliás, segundo apontam os analistas, o comunicado de Pompeo sugere que Washington defende que devem ser os huthis a tomar a iniciativa para uma negociação de paz.

No entanto, esta tomada de posição pode ser vista como uma forma de pressionar Riad na sequência do assassínio de Khashoggi, ainda que nenhum dos responsáveis da Administração norte-americana tenha referido directamente este caso.

Esta quarta-feira, o procurador-chefe de Istambul, Irfan Fidan, informou que a investigação turca à morte do jornalista, que durante muitos anos foi próximo da família real saudita, antes de se tornar um dos seus principais críticos (acabando por deixar o país e se instalar nos EUA, onde vivia há um ano), concluiu que Khashoggi foi estrangulado assim que entrou no consulado saudita na cidade turca.

“O corpo da vítima foi desmembrado e destruído na sequência da sua morte por estrangulamento”, diz ainda o comunicado de Fidan.

Tudo isto contraria as várias versões de Riad sobre a morte do jornalista. Primeiro, foi dito que Khashoggi saiu pelo seu próprio pé do consulado, mas depois foi admitido que morreu sufocado na sequência de uma “luta”.

Rapidamente as suspeitas recaíram sobre família real saudita, nomeadamente no príncipe regente, Mohammed bin Salman. Riad tem desmentido sempre o envolvimento dos monarcas.

Esta situação gerou uma reacção mais ou menos musculada por parte de várias potências e condenações internacionais. A Alemanha, por exemplo, apelou a um boicote europeu à venda de armas para Riad. Por sua vez, o Presidente norte-americano, Donald Trump, aceitou, num primeiro momento, as explicações sauditas, mas, depois, não descartou a possibilidade de envolvimento directo do príncipe herdeiro.

O Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, exigiu mais do que uma vez explicações a Riad, falando num “assassínio político”.

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