Uma montanha de lixo para escalar: o desafio de combater o plástico em África

Nos últimos anos, jovens activistas espalhados por África lançaram uma panóplia de soluções criativas para combater o problema do desperdício de plástico. Mas será que chega?

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Inna Lazareva / Thomson Reuters Foundation

Em Douala, a capital económica dos Camarões, Prince Djabea, de 15 anos, pisa uma garrafa de plástico como se esta fosse uma barata. Usa depois o calcanhar do outro pé e, com um movimento rápido, atira a tampa ao ar. Não está a mostrar um qualquer movimento de dança, mas a participar numa das maiores iniciativas do país para a reciclagem de plástico que pretende transformar o lixo em algo útil e limpar o ambiente.

Atrás de Djabea, cerca de 30 adolescentes recolhem garrafas de plástico que entopem os sistemas de escoamentos e esgotos, enquanto outros batem às portas pedindo aos residentes que entreguem o seu lixo plástico. Todos os materiais são colocados em sacos de lona, que são pesados ao fim do dia, e depois enviados para serem usados na produção de sapatos, cadeiras e pavimento, entre outros produtos.

A iniciativa organizada pela Red-Plast, criação de Alain Rodrigue Ngonde Elong, um engenheiro ambiental de 30 anos, opera também em Iaundé. Todos os anos, consegue recolher entre 100 a 150 toneladas de resíduos plásticos — mais ou menos o peso de 55 elefantes da floresta africanos.

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Prince Djabea e a sua equipa Inna Lazareva / Thomson Reuters Foundation

Elong teve a ideia quando era estudante em Douala. “Só se via lixo, plástico por todo o lado”, disse à Thomson Reuters Foundation, descrevendo os canais de drenagem abertos das ruas entupidos por garrafas de plástico. Na época das chuvas, os canais inundavam e atraíam mosquitos, que procriavam e aumentaram a percentagem de habitantes locais afectados pela malária e a febre de dengue. “Ninguém tinha uma solução para este problema”, acrescentou.

Agora, a equipa de Elong tenta resolvê-lo, promovendo, de três em três meses, uma campanha de recolha do lixo que se prolonga por um mês. Contrata todos os interessados, desde adolescentes que procuram ter experiência de trabalho a crianças de rua que precisam de dinheiro rápido. Os jovens recebem em média 35 mil francos CFA (cerca de 62 dólares) por mês, embora o ordenado varie conforme a quantidade de lixo que recolhem e o valor que a câmara municipal paga à Red-Plast.

África inova

Nos últimos anos, jovens activistas e empreendedores espalhados pela África Ocidental e Central lançaram uma panóplia de soluções criativas para combater o problema do desperdício de plástico. 

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Alain Rodrigue Elon, fundador da Red-Plast Inna Lazareva / Thomson Reuters Foundation

Na cidade costeira de Kribi, nos Camarões, o engenheiro Ismael Essome constrói barcos para a pesca e ecoturismo a partir de garrafas de plástico. Em Lagos, na Nigéria, a startup Wecyclers gere um negócio de recolha de lixo e reciclagem, gerando rendimentos para os residentes das favelas que recolhem o lixo de bicicleta e que depois são pagos pelo serviço. 

Na África do Sul, a Fundação Rethaka transforma lixo plástico em mochilas que têm uma lanterna alimentada a energia solar para ajudar crianças de famílias mais pobres a fazer os trabalhos de casa depois de escurecer. Para além disto, em vilas e aldeias espalhadas por África, vendedores de rua recolhem garrafas de plástico e enchem-nas com produtos que depois comercializam — de amendoins e óleo a sumo e até petróleo.

Porém, apesar dos esforços em África para reutilizar o plástico, muito do lixo continua a ser um flagelo para o ambiente, com uma grande quantidade a ser queimada ou enterrada. Investigadores do mundo inteiro estimam que, por ano, oito milhões de toneladas de resíduos plásticos acabam no mar.

Uma gota no oceano

Nos Camarões, os barcos de plástico de Essome ganharam prémios e reconhecimento internacional, chegando a “fazer ondas” em Madrid, onde pediram à sua equipa para construir um barco ecológico. Mas ainda não receberam apoios de governos ou doações que lhes permitam expandir o negócio. “Como somos jovens e trabalhamos numa nova área nos Camarões, é um desafio”, diz o engenheiro, que irá representar o seu país na One Young World Summit, uma cimeira para jovens líderes, em Haia este mês.

Obter financiamento governamental é um processo lento, admite Essome, mas o grupo já assegurou subsídios de várias autoridades locais; por outro lado, também conseguiram algum rendimento através de empresas que compram os resíduos para fazer produtos de plástico. Contudo, lamenta, a Red-Plast ainda não tem os recursos necessários para fazer a recolha do plástico diariamente, o que melhoraria, em muito os resultados. Organizações como a sua têm ainda uma montanha para escalar à medida que a quantidade de plástico aumenta.

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Inna Lazareva/Thomson Reuters Foundation

Em 2010, estimou-se que África teria 4,4 milhões de toneladas métricas de lixo plástico não tratado — um número que poderá aumentar para 10,5 milhões de toneladas em 2025 se nada for feito, avisaram os cientistas de um estudo publicado este mês. Juntamente com o aumento sem precedentes da população, a multiplicação dos resíduos provavelmente irá suscitar problemas graves, mesmo que se repitam as iniciativas locais para reciclar. Na opinião de Osric Tening Forton, especialista em risco ambiental do Banco Africano de Desenvolvimento, para o sector privado da reciclagem prosperar é necessário melhorar a regulamentação e aplicar de forma mais rígida as leis existentes.

Mas este não é um problema exclusivo de África. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico disse em Maio que a reciclagem de plástico no mundo “não está a atingir o seu potencial máximo.” A entidade pediu, por isso, a introdução de impostos mais altos para a produção e uso de plástico novo e mais mecanismos para fazer os consumidores pagarem por sacos, talheres e palhinhas de plástico de uso único.

Outro desafio será alterar o comportamento individual, disse Elong: “Algumas pessoas dizem-me: não como há dois dias — porque me devo preocupar com a reciclagem do plástico?” Como resposta, explica que a reciclagem pode ajudá-los a ganhar dinheiro para melhorarem as suas vidas, enquanto beneficiam o ambiente. “No fim de contas, temos de fazer as pessoas compreenderem que reciclar rende.”

Tradução de Ana Silva